Excesso de trabalho: é preciso dizer não!

Excesso de trabalho: é preciso dizer não!

O ambiente de TI pode ser extremamente exigente. Pouca verba, equipes enxutas, poucas pessoas (headcounts, como são chamados os colaboradores) e muito, muito trabalho. Se isto está acontecendo em seu ambiente de trabalho, saiba que esta situação ocorre com frequência cada vez maior e tende a piorar. Além do trabalho em si, que requer muitas e muitas horas, existem outras atividades que precisam ser feitas e que não são, necessariamente, parte do job descritpion, lista de tarefas que você deve executar, mas que você faz, porque, bem, você quer ser uma pessoa atualizada: são as newsletters diárias que você assina, os e-mails que você precisa ler, cursos, certificações, leituras, eventos, feiras, almoços, reuniões, encontros, seminários e outras atividades em nome do santo networking.
 
Além de todas as tarefas listadas acima, existe um outro fator mais complexo e tem muito a ver com o nosso perfil profissional. Existem pessoas que “pegam” serviços, como também existem aqueles que adoram “transferir” tarefas. No primeiro caso, a culpa é nossa, porque somos daquele tipo que simplesmente não deixam a bola solta no campo, e isto pode se transformar numa amarga rotina. No segundo caso, que pode ser consequência do primeiro, as pessoas sabem que se não fizerem o trabalho, alguém (você) vai fazer. Não deixa de ser uma situação criada por nós – portanto, gerenciável.
 
Por exemplo, uma coisa que notei com este tal de home office é que pode ser uma bela armadilha. Existem empresas que permitem que você possa trabalhar em casa, até oferecem toda a infra necessária – e é muito bom, mas você trabalha (muito) mais. Para quem enfrenta duas horas de trânsito diariamente para ir e voltar do escritório, em casa trabalha pelo menos duas horas a mais. Acrescentando o tempo ganho na produtividade de se trabalhar sem interrupções, ruídos, telefones, gente conversando no corredor, o trabalho rende muito mais. Além disso, trabalhar em casa dá tanta liberdade que você, no clima de empolgação, trabalha sem parada até para almoçar. Vai pensar no assunto lá pelas três ou quatro da tarde, faz uma pausa de 30 minutos e volta para o business. O trabalho rende, mas o custo é alto. Sem falar dos smartphones que nos mantêm conectados 24 horas por dia. Simplesmente checamos novas mensagens o tempo todo e é quase impossível não responder – se for uma coisa simples – mas é trabalho e os e-mails chegam o tempo todo, à noite e nos fins de semana. Talvez seja uma coisa minha, mas vejo muita gente fazendo isto, durante o almoço, jantar...
 
O que fazer então? No caso de querer resolver os problemas do mundo, seria bom refletir porque fazemos isto. Penso que não se trata apenas de um comportamento profissional, é algo que fazemos o tempo todo, com nossos relacionamentos familiares, afetivos, nossa vida em geral. Gostamos de “quebrar galhos” como se fôssemos responsáveis por tudo o que acontece à nossa volta – problemas nossos e dos outros. Não é bem assim.
 
No caso do trabalho, existem algumas estratégias que podem ser adotadas: gerenciamento do tempo, priorização das tarefas, entender o que é urgente, importante, crítico, aquelas coisas todas. Criar uma to-do-list pode ser muito útil e ajuda a avaliarmos se as tarefas realmente são de nossa responsabilidade ou precisam ser compartilhadas. Se nossa agenda já está completamente tomada, por que assumimos mais projetos? Por que dizemos sim todo o tempo? Ninguém gosta de dizer não ou desapontar os chefes, mas será que somos obrigados a assumir tarefas que decididamente não nos pertencem ou que não vamos entregar no tempo devido? Quantas vezes negociamos prazos? Quantas vezes pedimos ajuda?
 
Um outro perigo: enquanto o nível de trabalho aumenta, junto com ele aumentam nossos níveis de estresse, leia-se: piora a qualidade de vida. Assumimos que nosso corpo é capaz de fazer tudo e não podemos estar mais enganados, temos limites e nosso corpo não é uma fonte de energia inesgotável. Ele grita, pede pausa, dá alertas e a gente finge que não ouve. Ao assumir uma carga maior do que podemos suportar, os resultados podem até ser apresentados num belo powerpoint, mas o prejuízo mental, físico, emocional, espiritual poderia gerar conteúdo para muitos slides da mesma forma. E somos substituíveis sim!
 
Acho que muitos profissionais precisam ter uma séria conversa com seus supervisores, gerentes, diretores. Dizer claramente como estão se sentindo, ou quanto estão se prejudicando tentando ser o funcionário do mês. As expectativas precisam ser estabelecidas e gerenciadas – dos dois lados. O corpo, a mente, a família e amigos agradecem.
 
 
*A autora é formada em Letras, com pós-graduação em Jornalismo, Comunicação Social e especialização em Tecnologia e Negócios pela PUC-SP. Em 2005 lançou seu primeiro livro de crônicas, "O homem que entendia as mulheres". Atualmente é Gerente de Marketing e Comunicação da PTC para a América Latina. Em março de 2009 criou o grupo "Mulheres de Negócios", maior rede feminina de negócios do portal LinkedIn com mais de 5.000 profissionais cadastrados. Regularmente publica artigos sobre usuários, serviços, varejo, carreira e cultura.