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Samanta Luchini    |   12/08/2020   |   Desenvolvimento Humano   |  

A etiqueta do trabalho on-line

Saber administrar os desafios inerentes ao trabalho remoto ele pode ser uma grande vantagem para seus resultados e sua imagem. Seu comportamento é um grande diferencial em qualquer ambiente.

Neste “novo agora” imposto pela pandemia do corona vírus, muitos de nós nos transformamos da noite para o dia em profissionais remotos, digitais e conectados. Tivemos que adaptar boa parte da nossa experiência de vida ao formato on-line, indo muito além daquilo que nos era conhecido. Consultas médicas, sessões de terapia, reuniões de condomínio, visitas a museus... Até os happy-hours e festas de aniversário estão sendo feitas pela tela do computador.

As fronteiras entre nossa vida pessoal e profissional estão parecendo menores e mais fracas neste novo cenário.

Estamos, ao mesmo tempo, respondendo um e-mail e passando o café. Dando aquela revisada numa apresentação e verificando se o arroz já está no ponto. Atendendo uma solicitação do cliente e tirando aquela dúvida de matemática da criança que está tendo aulas on-line. Passando a roupa e assistindo uma aula da pós-graduação. Participando de uma vídeochamada e atendendo ao interfone para receber uma encomenda. Dentre tantas outras atividades profissionais e pessoais, que agora integram e se sobrepõem sem que possamos estabelecer aqueles limites que para nós seriam ideais.

Assim como gosto de usar o termo “novo agora” (porque eu me recuso a acreditar que estejamos vivendo um “novo normal”), também tenho espalhado e defendido a ideia de que não estamos em home-office, tal como essa prática prevê e foi concebida. Nós estamos temporariamente morando no nosso trabalho ou, se você preferir, recebendo o trabalho e todas as suas dimensões, como um hóspede bastante espaçoso e exigente em nossa casa. Uma amiga recentemente me confidenciou que tem medo de abrir a geladeira de madrugada e receber um link de reunião. Nós rimos e nos divertimos muito visualizando a cena, mas você sabe tão bem quanto eu que em toda brincadeira existe um pouquinho de realidade.

O trabalho neste novo formato remoto, tem nos exigido muito mais em termos de foco e concentração, administração do tempo, organização pessoal e da rotina, autogestão, capacidade de execução, disciplina, flexibilidade e consciência. Saber administrar os desafios inerentes a ele pode ser uma grande vantagem para os seus resultados, para a sua imagem profissional e para a sua satisfação pessoal.


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Nesta reflexão quero falar um pouco sobre as famosas videoconferências, que tem possibilitado nossa interação com as outras pessoas, onde acontecem as nossas reuniões de trabalho, às vezes palestras, workshops e treinamentos. Alguns detalhes e comportamentos que às vezes passam despercebidos ou parecem sem importância precisam ser gerenciados, pois podem criar desgaste, constrangimento e comprometer nossa reputação.

Isso sem contar os episódios engraçados e por vezes até bizarros que temos presenciado: pessoas participando de reuniões de dentro do banheiro, trocando de roupa na frente da câmera, fazendo comentários importunos com o microfone aberto, familiares circulando pela casa de pijama ou de roupão, etc. Eles certamente renderiam um livro bem divertido quando tudo isso passar.

Lembre-se de que o seu comportamento é o seu grande diferencial em qualquer lugar, no mundo físico ou no mundo virtual.

Em primeiro lugar vale destacar que não tínhamos em nosso currículo nenhum curso de capacitação para utilizar e tirar o melhor proveito das diversas plataformas disponíveis atualmente. Fomos aprendendo tudo na hora, de forma muitas vezes intuitiva, já com o jogo em andamento. Quando estamos nos habituando a uma delas, chega um cliente novo que prefere outra plataforma e por mais que todas elas tenham um funcionamento parecido, não faltam funções, variações e sutilezas que precisam ser testadas, aprendidas e treinadas.

Toda preparação é sempre bem-vinda. Seja de si mesmo, ao cuidar da sua aparência, dos seus materiais e dos seus itens de necessidade, como água, um chá ou um cafezinho. Seja do seu ambiente, ao cuidar do local, da luminosidade, da privacidade e de uma acomodação confortável. Seja dos seus recursos, ao testar a plataforma e a sua conexão de internet com antecedência. Você já deve ter experimentado o estresse de estar numa videoconferência na qual a qualidade da conexão não é boa, o áudio não funciona, a imagem fica congelada, dentre outros inconvenientes.

Se liga e ligue a câmera. Tenho observado que durante as videoconferências poucas pessoas tem o hábito de deixar a câmera ligada. Sabemos que estar diante de uma câmera é um fator inibidor para muita gente e as pessoas não estão acostumadas a estar na tela. Elas nem sempre se tem a privacidade necessária ou um ambiente tido como “ideal”. Mas alguns pontos merecem a nossa atenção.

Se no grupo, alguns deixam a câmera ligada e outros desligada, cria-se uma espécie de dinâmica desigual. Isto é, as pessoas que estão com câmera ligada começam a se questionar porque elas são as únicas a seguir esse padrão; começam a pensar no que os outros podem estar fazendo simultaneamente àquela atividade e onde estaria o verdadeiro foco de atenção das pessoas.

Esses pensamentos são altamente distrativos e, por consequência, diminuem o seu grau de concentração com o momento presente e podem gerar algum tipo de retrabalho. Sem contar ainda que, para quem está apresentando é muito importante receber um feedback da sua audiência, mesmo que seja mínimo, algo que fica completamente nulo quando a câmera está desligada. É como se você virasse de costas para quem está falando numa reunião presencial e eu tenho certeza de que você jamais faria isso.

Quando todos no grupo estão com as câmeras ligadas cria-se um nivelamento que favorece o engajamento das pessoas com o assunto que está sendo discutido. Os apresentadores podem coletar aquilo que chamamos de sinais honestos de comunicação, advindos da linguagem corporal e, desta forma, monitorar o clima e a qualidade da sua fala. Digo isso por experiência própria, pois atualmente todos os meus treinamentos estão sendo ministrados por vídeoconferência e é bastante incômoda a sensação de estar falando para uma tela cheia de iniciais ou “bolinhas” com a foto das pessoas.

Essa situação é ainda mais evidente quando se trata de uma conversa individual, como por exemplo uma reunião de alinhamento ou feedback. Manter a câmera ligada nessas ocasiões faz toda a diferença para os resultados.

Você também se beneficia do efeito “vídeo ativo”, pois inconscientemente se cobra mais para cuidar da postura e do foco no que está acontecendo, ajudando seu cérebro a manter a concentração e gerenciar melhor as distrações presentes no seu ambiente.

Desta forma, ao iniciar uma videoconferência, sugira esse padrão ao grupo, apontando essas evidências e mantenha sua câmera ligada para dar o exemplo. Talvez no início nem todos se manifestem a favor, mas com o tempo e a repetição o hábito vem.

Adesão total aos fones de ouvido. A utilização de fones de ouvido otimiza os recursos que são utilizados para as videoconferências. Eles minimizam ecos, interferências e combatem aquele círculo vicioso de ruídos causado pelo conflito constante entre os microfones e os alto-falantes do seu equipamento, fazendo com que o som e a escuta fiquem mais qualificados e agradáveis para todos.

Eles nos ajudam a minimizar também outras interferências presentes no ambiente e imediações, como por exemplo, os ruídos do trânsito, da cozinha, da obra ao lado, do cachorro latindo e da criança chorando. Como disse anteriormente, essa não é a real experiência de home-office, nossos espaços e horários estão sendo compartilhados com as atividades da família toda no mesmo ambiente.

Para ficar melhor ainda, lembre-se de silenciar seu microfone quando não estiver falando. Isso pode parecer óbvio, mas muita gente se esquece desse detalhe e acaba comprometendo a experiência de todos.

Planeje antes o espaço para a interrupção. Faça pausas intencionalmente depois de falar algumas frases e dê a chance para as pessoas se manifestarem enquanto você fala. Às vezes pela ânsia de terminarmos logo uma reunião on-line, acabamos falando tudo de uma vez e rápido demais, alimentando a expectativa de que não devemos ser interrompidos e que os comentários são mais indicados ao final. Acontece, porém, que ao final todos já estão cansados e pensando no próximo compromisso da agenda, o que desestimula a participação e acaba reforçando esse afastamento compulsório que estamos vivendo.

Está aqui mais um ponto que pode (e deve) ser combinado e estimulado com o grupo até que se torne um hábito, pois à medida que abrimos espaço para uma maior interação, a coesão do grupo aumenta e favorece o senso de pertencimento.

Menos é mais. Se for possível, limite o número de vídeoconferências. Muitas vezes, no contexto das empresas as pessoas passavam o dia todo emendando uma reunião na outra. Entretanto no formato on-line essa experiência demanda muito mais energia e gera muito mais cansaço. Participar de uma videoconferência vai muito além de ter disponibilidade na agenda e uma boa conexão. São necessários outros arranjos, como por exemplo, realocar as pessoas da família em outros ambientes da casa, conseguir alguém para cuidar das crianças pequenas e deixar as refeições encaminhadas anteriormente.

Eu acredito que a pandemia acabou acelerando alguns aspectos que já estavam previstos para o tão famigerado “futuro do trabalho” e que, passado esse início tão abrupto e turbulento, muitas coisas vão se acomodar e permanecer no nosso cotidiano.

O trabalho remoto é uma delas. E junto com todos os benefícios que ele pode nos trazer, é preciso ressaltar que as suas principais premissas envolvem dar liberdade às pessoas, respeitando seu tempo, atenção e espaço.

Um grande abraço e até breve...

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Samanta Luchini

Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br


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