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Objetivos e metas são estabelecidos através de um processo racional, pensado e planejado. Já as nossas necessidades não obedecem a esse processo, elas simplesmente existem.
A vida é, em grande parte, conduzida por objetivos e metas.
No trabalho, por exemplo, temos diversas metas de desempenho e comportamento que derivam dos objetivos da empresa. Essas metas, por sua vez, nos impelem a planejar nossa rotina, nosso processo de aprendizagem e nosso desenvolvimento.
Se o objetivo for perder peso, certamente faremos um planejamento de ações que podem nos levar a essa direção, como consultar um nutricionista, seguir o cardápio que ele propuser e incluir a prática frequente e constante de atividade física.
Se o objetivo for trocar de carro, existe uma sequência de passos que a maioria das pessoas estabelece e persegue. Primeiro pesquisamos o modelo que desejamos comprar. Depois fazemos uma avaliação do valor do carro atual. Uma vez que conhecemos a diferença de valor, fazemos um planejamento financeiro, até alcançarmos o valor necessário para fazer a troca.
Essa mesma lógica se aplica às viagens, à compra de um novo apartamento, à uma pós-graduação ou à escolha de uma nova carreira.
Objetivos e metas sempre são estabelecidos e perseguidos através de um processo racional, ou seja, a gente pensa sobre eles, planeja, analisa, pondera e toma decisões.
Já o que ocorre com as nossas necessidades, é algo totalmente diferente. Necessidades não são almejadas, analisadas ou planejadas. Elas simplesmente existem e se não forem atendidas, podem afetar nosso modo de funcionar e de agir.
Pense no sono, por exemplo. Você não planeja uma hora para sentir sono, quando percebe ele já está lá, fazendo você bocejar. O sono é uma necessidade fisiológica que precisa ser atendida.
Dormir mal, dormir pouco ou simplesmente não dormir, pode provocar sérias consequências no funcionamento do seu corpo e também da sua mente. Há uma infinidade de estudos, no campo da neurociência, que comprovam os benefícios do sono de qualidade para as nossas funções mentais superiores, como é o caso da memória e do foco atencional.
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O psicólogo americano Abraham Maslow, cuja teoria da motivação humana foi publicada em 1954 e influenciou muitas outras teorias mais modernas, nos ensinou que o ser humano possui diversas necessidades e vive com o intuito de conseguir atendê-las. Além das necessidades fisiológicas, o ser humano tem necessidade de se sentir seguro, de ser aprovado socialmente, de pertencimento, de ser reconhecido, elogiado e valorizado, de realizar coisas importantes e ser lembrado por isso.
E essas necessidades, que fogem do campo fisiológico, também alteram nosso funcionamento quando não são atendidas.
Quero enfatizar aqui as necessidades que a psicóloga Edith Eva Eger, uma sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz e que aos 93 anos de idade ainda atende em sua clínica na California/EUA, denominou de Necessidades dos 3 A’s – Atenção, Afeição e Aprovação.
Você já reparou o quanto essas necessidades são presentes no nosso dia-a-dia e como elas se manifestam de jeitos bem diferentes? E já reparou o que acontece quando elas não são atendidas?
Sempre uso o exemplo das pessoas que compram compulsivamente ou que enfrentam grandes dificuldades financeiras para sustentar um determinado estilo de vida. Muitos desses casos, quando analisados em profundidade, revelam que o abuso das compras e gastos excessivos não se dão pela necessidade específica das coisas materiais que são adquiridas (roupas, sapatos, acessórios, eletrônicos, carros, bebidas, etc), mas sim pela via das necessidades dos 3 A’s - atenção, afeição e aprovação.
As experiências de compra geralmente trazem prazer e gratificação imediata, acompanhados da falsa sensação de que essas necessidades estão sendo preenchidas. É o conhecido paradigma do “ter para ser”, no qual as pessoas precisam ter carros bacanas, roupas de grife, smartphones de última geração para poderem experimentar a sensação de atenção, afeição e aprovação.
E quanto mais pendentes estiverem essas necessidades, mais desejos materiais parecem surgir.
Não há nada de errado em querer comprar e usufruir de coisas bacanas, diferenciadas e até mesmo exclusivas. O ser humano também carrega a necessidade de ser único. Você trabalha pra isso também, você merece. Mas tentar preencher os 3 A’s através de objetos materiais é uma tarefa que nunca se dará por concluída.
Outra boa evidência disso é o que acontece nas redes sociais. Funciona assim: você sai do trabalho e se depara com um pôr-do-sol maravilhoso. Então, você saca o celular e tira uma foto. Em seguida, publica a foto no Instagram, acompanhada de uma legenda de impacto.
Passados dez minutos, você volta ao seu perfil e verifica que obteve dez curtidas, um comentário positivo e um compartilhamento. Tudo isso em apenas dez minutos!
Por mais que você se esforce em dizer que a realidade virtual não representa de fato as experiências humanas, cada vez que seus olhos visualizam uma curtida na sua foto, seu cérebro faz sim um registro de validação e reconhecimento, que contribui para o atendimento dos seus 3 A’s - atenção, afeição e aprovação.
Por isso, não é difícil encontrar pessoas que dedicam um bom pedaço de tempo do seu dia às redes sociais, em detrimento de outras atividades, pois percebem (mesmo que inconscientemente), que podem experimentar a sensação de atenção, afeição e aprovação. Algo que talvez não esteja acontecendo nas suas experiências reais, dentro da família ou no trabalho.
Pense um pouco a respeito dos feedbacks que você recebe, tanto no campo do trabalho como no campo pessoal. Para mim, não há estratégia mais efetiva para preencher as necessidades dos 3 A’s do que a prática constante e equilibrada de feedback.
Quando damos um feedback corretivo para alguém, estamos mostrando que nos importamos com essa pessoa e desejamos que ela possa corrigir seu comportamento, a fim de apresentar o seu melhor desempenho. Quando damos um feedback positivo, estamos oficialmente aprovando e demonstrando apreço por suas atitudes e comportamentos.
Agora pense um pouco nas situações e relacionamentos onde falta feedback. É possível que as pessoas arranjem motivos, para terem preenchidas suas necessidades de atenção, afeição e aprovação.
Richard Williams, que escreveu um livro excelente sobre feedback chamado “Preciso Saber se Estou Indo Bem”, afirma que diante de um ótimo desempenho, os líderes tem a tendência de “largar” a pessoa, pois ela não precisa de correções ou supervisão frequente. Ao passo que, diante dos que ainda não apresentam um desempenho tão bom, o líder está sempre perto e atento, para evitar erros ou consequências indesejadas.
Ocorre que, com o passar do tempo, aquele que estava indo super bem, percebe que não consegue obter atenção de seu líder, através dos seus acertos e desempenho acima da média. Então pode chegar à conclusão de que, para ser notado, precisa dar algum outro motivo. Tal como fazem as crianças pequenas, quando querem chamar a atenção de seus pais.
Estes foram apenas alguns exemplos nos quais as necessidades dos 3 A’s se manifestam e se desdobram, dependendo do fato de serem atendidas ou não.
Meu convite aqui é para que você esteja atento às suas experiências diárias e identifique aquelas que preenchem suas necessidades de atenção, afeição e aprovação. Depois de identificá-las, mantenha-as no seu radar, provoque-as, reforce-as, conte para as pessoas o quanto essas experiências são importantes para você. Proporcione essas mesmas experiências aos que estão ao seu redor, pois todas as pessoas carregam essas necessidades, em maior ou menor grau, mas todas carregam.
Uma conversa olho-no-olho (mesmo que pela tela do computador ou do celular), uma escuta de qualidade, um agradecimento sincero, um elogio, um feedback ou uma declaração explícita do quanto uma pessoa é importante pra você, podem fazer toda a diferença.
E não se esqueça: necessidade não é algo que se planeja, simplesmente se tem.
Um grande abraço e até breve...
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Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br
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