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Menos de seis meses depois que Brasil e México, após duras negociações, adotaram cotas de comércio de automóveis sem o pagamento de imposto, o presidente eleito, Enrique Peña Nieto, informou ontem (20) à presidente Dilma Rousseff que deseja modificar mais uma vez o tratado para "ampliar a relação comercial". Nieto, que toma posse em dezembro, indicou que deseja uma "relação de livre mercado", mas o governo brasileiro resiste.
"Acredito que a melhor forma de poder dar uma solução melhor ao tema é gerando mais incentivos, sobretudo para esse mercado, essa relação de livre mercado, buscando maior equilíbrio à balança comercial", afirmou o presidente eleito, após encontro com Dilma. "Melhor que limitar os fluxos, é ampliar a relação comercial entre México e Brasil. Essa deve ser a visão futura."
O acordo automotivo se justifica pela sensibilidade da indústria automotiva, que gera milhares de empregos na cadeia de suprimentos, autopeças, reparos e assim por diante. Mas, no início deste ano, Dilma informou ao antecessor de Nieto, Felipe Calderón, que desejava restringir o comércio de carros isentos de imposto por causa do aumento na importação de carros "made in Mexico".
A estratégia vai além do mero protecionismo praticado pelo governo Dilma, porque o Brasil precisava criar condições para o novo regime do setor automotivo que entra em vigor em janeiro do ano que vem e tem como principal premissa o investimento em pesquisa e engenharia no País, além de uso de autopeças nacionais. Pesou nos cálculos do governo brasileiro a presença de montadoras asiáticas no México, que poderiam usar o país como plataforma de exportação para o Brasil.
No dia 30 de março, o governo brasileiro publicou uma nova versão do acordo, com cotas de exportação de automóveis até janeiro de 2015. Além disso, ficou acertado que o México aumentaria o índice de peças locais nos carros que produz até 2016. A questão das fábricas mexicanas é tão sensível, que setores do governo dos Estados Unidos e do Canadá também resistiram a abrir seus mercados no Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). Nesse caso, no entanto, prevaleceu o fluxo comercial sem impostos, apesar da crescente importação de carros produzidos no México.
Petrobrás
Ontem (20), Nieto, que faz oposição a Calderón, tentou vender a mensagem de que mais comércio pode beneficiar as duas economias. "O mercado consumidor entre ambos os países é verdadeiramente importante, são mais de 300 milhões de consumidores, e os fluxos comerciais que temos são muito baixos", disse. "Acredito que haja uma grande oportunidade de troca comercial entre ambos os países, para que Brasil e México cresçam e favoreçam seus consumidores."
A modernização da estatal brasileira de petróleo gerou interesse em Nieto, que deseja conhecer as mudanças estruturais que permitiram à empresa ter capital aberto em bolsa, trabalhar em parceria com a iniciativa privada e ao mesmo tempo ser instrumento do Estado para o desenvolvimento do País.
"Solicitei à presidente poder conhecer a reforma que foi feita aqui no Brasil essencialmente para modernizar a Petrobrás", disse Nieto. "Esse é um modelo que, sem dúvida, inspira o que queremos fazer no México com a empresa (Pemex) que é de todos os mexicanos, como a Petrobrás é dos brasileiros." Segundo o presidente eleito do México, "a participação do setor privado" ajuda a Petrobrás a ser "uma empresa mais competitiva e maior". Nieto disse querer repetir esse modelo no México, fortalecendo a ação estatal. "Estou convencido de que essa é uma fórmula que permite fazer com que a empresa de todos os mexicanos alavanque maior desenvolvimento, que favoreça a geração de mais investimentos produtivos e mais empregos."
Por Iuri Dantas e Lisandra Paraguassu/ O Estado de S. Paulo
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