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“A partir do momento em que o Brasil começa a ganhar maior maturidade em relação à inovação, devem diminuir as inovações rotineiras e veremos inovações mais impactantes”. Essa afirmação é de Jacques Moszkowicz, sócio da Strategy&, consultoria estratégica da PwC, responsável pelo Prêmio Valor Inovação Brasil junto com o jornal Valor Econômico. Moszkowicz conversou com a jornalista especial do CIMM, Stefani Ceolla, sobre a inovação da indústria brasileira, sobretudo no segmento de Bens de Capital; o Prêmio Valor Inovação 2022, que ocorreu em julho; bem como a tendência de inovação na indústria, que poderá ser o tema da premiação do próximo ano: ESG.
Moszkowicz tem mais de 20 anos de experiência em consultoria estratégica, possui pós-graduação e bacharel em Administração de Empresas pelo IBMEC – Rio de Janeiro e Mestre em Gestão pelo IBMEC – Rio de Janeiro. O executivo já atuou em projetos de M&A, estratégia corporativa, modelo de operação, estratégia digital, gestão de portfólio e integração pós aquisição.
Leia mais: Confirma a reportagem exclusiva com as ganhadoras do Prêmio Valor de Inovação 2022 no segmento Bens de Capital.
Stefani Ceolla: O tema do ano do Prêmio Valor Inovação Brasil 2022, realizado pela PwC e jornal Valor Econômico, foi 5G e a revolução nos modelos de negócio. Por que esse tema foi escolhido e o que revelou sobre a inovação das empresas no cenário nacional?
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Jacques Moszkowicz: Todo ano a gente escolhe um tema específico. A gente já abordou, por exemplo, big data, Indústria 4.0, novos formatos de trabalho, e esse ano a gente decidiu pelo 5G. É um tema que começa a ganhar pauta nas empresas, sobretudo pelo impacto que vai ter no modelo de negócios. Muitas vezes se pensa que esse é um tema que vai beneficiar a indústria de telecom, mas a indústria de telecom é somente a viabilizadora dessa tecnologia. Ela vai permitir revolucionar o modelo de atuação de várias empresas, de diferentes setores. Recentemente, a gente teve a concessão da licença da Anatel, então passou a ser concreto no mercado. Por isso achamos pertinente tratar do assunto e de como as empresas tratam essa tecnologia em seus negócios.
SC: Quais são as principais práticas de inovação adotadas pelas empresas premiadas no setor Bens de Capital?
JM: O que a gente vê, de uma maneira mais ampla, se pegarmos um histórico da pesquisa nos últimos anos, é que a nota média das empresas participantes têm aumentado de maneira consistente. Isso significa que as empresas têm tratado a inovação com foco maior do que vinha sendo no passado. Significa que a gente já atingiu o patamar ideal? Longe disso. Mas mostra que o tema vem ganhando protagonismo dentro da agenda dos líderes dessas empresas. Uma pergunta que a gente fazia era se a inovação estava no top 3 ou top 5 das empresas. Teve um aumento considerável do montante de empresas que responderam que a inovação passou ser uma das top 3 prioridades. Ou seja, ela vem ganhando protagonismo. As empresas começam a enxergar a inovação como um instrumento que vai viabilizar crescimento em seu segmento. A régua vem subindo, e em Bens de Capital não é diferente. De forma geral, a gente vê todos os setores apresentando maior maturidade.
SC: Essas práticas impactam no lucro das empresas e também em uma produção mais sustentável, do ponto de vista econômico e ambiental?
JM: Tem dois motivadores principais para o investimento em inovação. Um deles é o aumento da receita, outro é a otimização do custo. Existe um aspecto da inovação trazendo esses dois benefícios. Essas são as duas grandes vertentes. Na pandemia, houve uma terceira vertente que era o modo de sobrevivência financeira e operacional diante de um novo contexto que ninguém estava preparado. As empresas tiveram que se adaptar e adotar uma forma disruptiva de operar nesse contexto. Agora, passando o período mais crítico, a gente vê essas duas vertentes principais.
Quando a gente olha inovação, a gente fala de maneira mais ampla. Pode ser um novo produto ou serviço, um novo modelo de produção, um novo modelo de governança, de gestão de recursos. Mas quando a gente pega os mais de 1,1 mil cases que analisamos, temos alguns indicadores. A inovação arquitetônica se refere a novo modelo de negócio. A inovação rotineira demanda novos skills, novas prática, mas o modelo de negócio continua o mesmo. Esse tipo de inovação aperfeiçoa aquilo que a empresa já faz. E quando a gente olha todos esses cases, há uma grande concentração nas inovações de aperfeiçoamento. A empresa mantém o modelo de negócio como é, mas adapta. Entre 1% e 2% a gente considera essa inovação mais impactante, arquitetônica. O que se imagina daqui pra frente, a partir do momento em que o Brasil começa a ganhar maior maturidade em relação à inovação, é que devem diminuir um pouco as inovações rotineiras e veremos inovações mais impactantes. Mas temos um longo caminho pela frente.
SC: Essa é uma tendência do mercado: sair da inovação rotineira para aquelas de maior impacto?
JM: Antes de irmos para o arquitetônico, temos outras duas categorias de inovação disruptiva. Tenho um exemplo de uma empresa do setor de materiais de construção, que chegou à conclusão de que ela produzia determinado equipamento que poderia ser utilizado para o mercado pet, e começou a fazer casinhas de cachorro. Quando você imaginaria que uma empresa totalmente direcionada à construção civil iria entrar no mercado pet? Esse é um exemplo de uma empresa que criou um novo modelo de negócio, mas com uma competência que já tinha. Não precisou desenvolver tecnologia, já fazia isso. É como se aplicasse o processo residual em um novo modelo de negócio. Se for colocar em ordem, a inovação rotineira, o aperfeiçoamento, a gente vê em maior volume. Em seguida vem a inovação radical, em que se começa a aplicar nova tecnologia, solução, processo. Em seguida a gente vê empresas que começam a ampliar seu modelo de negócio de forma diferente. E, por fim, essas inovações que a gente chama de arquitetônicas. Imaginamos que comece a haver uma redistribuição conforme as empresas ganhem maturidade.
Não basta simplesmente as empresas investirem em inovação: precisa ter formação. A gente também precisa endereçar isso de forma mais ampla, ter uma política mais abrangente para incentivar qualificação técnica, profissional. Outro braço importante muito direto são as políticas de incentivo à inovação. Dessa forma, a gente consegue dar uma aceleração na velocidade da inovação. Caso contrário, isso vai acontecer, mas a passos mais lentos. Em Israel, por exemplo, há em torno de 7 mil startups ativas, e a escolaridade do país chega a quase 80% com grau superior. É um investimento pesado que se faz em educação e é revertido à sociedade de alguma maneira.
SC: Suponho que seja importante também uma estabilidade de mercado para isso. Um mercado estável, seguro, é necessário para que essas mudanças mais amplas sejam feitas?
JM: Eu diria que é mais um aspecto cultural do que de estabilidade de mercado, que obviamente ajuda. Tem empresas que são mais arrojadas para arriscar, inovar. A inovação pressupõe que você não vai acertar de primeira, é um momento de tentativa e erro. Mas empresas que não têm essa cultura vão focar muito mais numa inovação rotineira. Isso independentemente do mercado. A instabilidade você pode ver pelo lado bom e pelo lado ruim. Justamente por termos um histórico contínuo de instabilidades, de certa forma, somos constantemente provocados a nos adaptarmos a novos contextos.
SC: Há uma tendência principal que vocês identificam?
JM: Um ponto interessante foi o número crescente de inovação que tangencia o aspecto da ESG. Vimos vários exemplos de como reduzir a emissão de gases, como ampliar a diversidade, ações de monitoramento e acompanhamento da sociedade no entorno das empresas. Elas vêm se aproximando dos aspectos cobertos pelo ESG com inovação neste âmbito. Tanto é que o ESG foi um dos temas que cogitamos. Talvez na próxima edição possa vir a surgir.
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