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Em compasso de espera por reformas estruturais, produção industrial amarga estagnação nos primeiros meses de 2019. Cenário global desfavorável e impactos da tragédia de Brumadinho (MG) também contribuíram para o desempenho ruim do setor.
“A indústria de transformação parece esperar para ver o que vai acontecer. A economia está paralisada e os investimentos não serão feitos enquanto não houver uma certeza de rumo do País”, avalia a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), Luana Miranda.
Os indicadores da produção industrial mensal, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na terça-feira (4) mostram crescimento de 0,3% em abril na comparação com março. Já no confronto com abril do ano passado, houve queda de 3,9%. Também foram registrados resultados negativos no acumulado de janeiro a abril (-2,7%) e no acumulado dos últimos 12 meses (-1,1%).
O coordenador de economia do Ibmec-RJ, Ricardo Macedo, acredita que a prioridade total dada à reforma da Previdência pelo governo de Jair Bolsonaro é uma estratégia arriscada. “Outros pontos, como a esfera fiscal, também precisam de atenção e não se vê movimentação nesse sentido. As mudanças seguem postergadas enquanto não se aprova o projeto da nova Previdência.”
Luana entende que, mesmo com a reforma aprovada, as dúvidas não serão dissipadas. “Ainda é difícil entender qual será o próximo passo da agenda política. O País está dependendo de reformas estruturais e não vai haver crescimento e investimentos robustos enquanto elas não vierem.”Ela destaca que boa parte da recuperação do Brasil após a recessão se deu por meio do consumo das famílias. “Agora, essa via parece esgotada. O crescimento precisa ser sustentável, por meio de investimentos. Não vai ser fácil sair desse quadro de estagnação.”
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O fraco resultado da produção industrial é bastante puxado pela indústria extrativa, que registrou queda de 24% em relação a abril de 2018. Esse desempenho negativo está diretamente relacionado a tragédia de Brumadinho e as consequentes paralisações de operações de mineração no País. “Nossa projeção é que o impacto da Vale deve tirar 0,3 pontos do PIB”, destaca Luana.
A categoria de bens de capital apresentou crescimento mensal de 2,9% e de 1,8% no acumulado dos últimos 12 meses, mas acumulou queda de 3,1% de janeiro a abril e de 0,6% na comparação com abril de 2018. “Pode ser uma reposição de máquinas. Com o cenário de instabilidade, a confiança e o investimento do empresário não é tão grande”, acrescenta Macedo.
O Iedi avalia que a quebra das expectativas favoráveis desde o final do ano passado atingiu tanto empresários como consumidores, prejudicando a demanda de bens duráveis, sejam eles para investimento ou para consumo. “Sem confiança já é difícil sustentar o crescimento da produção de bens de capital e de consumo duráveis, quanto mais em uma situação de financiamento que ainda não foi normalizada.”
Além do cenário doméstico atribulado, o Brasil encontra dificuldades no mercado externo. O aumento das tensões comerciais entre EUA e China, a desaceleração do crescimento global e a crise da Argentina não trazem boas perspectivas. “A recuperação não deve vir por meio das exportações. Há uma piora nas relações comerciais, em função da guerra comercial, e é difícil ver melhora para a Argentina no segundo semestre”, assinala Luana.
Em sua análise, o Iedi destaca que, neste contexto, os problemas de competitividade da produção nacional pesam ainda mais e comprometem o recurso à exportação como meio de compensar o baixo dinamismo do mercado doméstico. “As exportações brasileiras de manufaturados acumuladas de janeiro a abril registram retração de 5,6% frente ao mesmo período do ano anterior.”
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