Setor de máquinas de construção cresce 40%, mas 2019 é incógnita

Apesar do avanço, o mercado de movimentação de terra, conhecido como linha amarela, registra ociosidade acima de 60%; reflexos das medidas prometidas pelo governo eleito podem demorar

A indústria de máquinas de construção finalmente está saindo do vermelho. Neste ano, as vendas da chamada linha amarela (movimentação de terra) devem crescer 40% sobre 2017. Contudo, as perspectivas para 2019 ainda são uma incógnita.

A Sobratema, associação que reúne os fabricantes de máquinas de construção, trabalha com dois cenários para o ano que vem. O primeiro deles considera que 2019 será um período de ajustes das contas públicas, o que deve dificultar as vendas da linha amarela. Diante dessa expectativa, as vendas podem recuar 3% sobre 2018, para 11,28 mil unidades.

Já o cenário mais otimista, aposta mais forte da Sobratema para o período, contempla um crescimento de 3% das vendas, para 12,01 mil máquinas, com a melhora da economia e da confiança do mercado. “Sobretudo no primeiro ano do novo governo, as vendas da indústria vão subir a uma velocidade menor”, afirmou ao DCI o vice-presidente da Sobratema, Eurimilson Daniel.

No entanto, seja qual for o cenário, a indústria ainda terá que operar sob uma forte ociosidade. Segundo o dirigente, em 2013 o setor emplacou quase 30 mil unidades. Ele explica que, nesta conjuntura, muitas empresas estão trabalhando com margens comprimidas. “Em algumas categorias, não houve reajuste nos últimos anos.”

Tempestade

O dirigente da Sobratema analisa que a tempestade no setor de máquinas de construção parece ter passado. Depois da chegada de diversos players internacionais ao País, de olho no potencial do mercado brasileiro – que ficou conhecido como um “um grande canteiro de obras” –, a indústria registrou recorde de vendas em meados de 2013.

Porém, com o início dos sinais da crise econômica que o Brasil viria a passar, por volta de 2014, principalmente os segmentos da construção civil e de obras de infraestrutura sofreram queda gradual da demanda, atingindo em cheio as montadoras de linha amarela.


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“Antes, a idade média das máquinas girava em torno de três anos. Hoje, seguramente, supera cinco anos”, destaca Daniel. Com isso, o parque brasileiro ficou envelhecido, o que pode em parte beneficiar a indústria. “As máquinas depreciam e o custo começa a ficar muito alto. Esperamos que haja um movimento de renovação da frota”, esclarece.

O mercado ainda conta com a sinalização da equipe econômica do presidente eleito Jair Bolsonaro de impulsionar concessões e privatizações, o que pode se traduzir em demanda adicional para as montadoras. “Estamos muito otimistas. Em 2018, tivemos um crescimento importante e já registramos investimentos por parte das empresas, o que mostra confiança das marcas no mercado brasileiro.” Ele acrescenta que este é o momento para fazer negócios, já que diante da perspectiva de retomada, as montadoras devem readequar a tabela de preços no ano que vem. “As margens das empresas estão muito defasadas e no momento da retomada, haverá reajustes”, pondera.

Daniel observa que devido à retração das obras de infraestrutura e da construção civil, muitos fabricantes se voltaram para outros mercados, principalmente o agronegócio. Prova disso é que na maior feira do setor neste ano, a Agrishow, as marcas prepararam ações específicas para conquistar os clientes do campo.

“As motoniveladoras, por exemplo, são usadas amplamente na pavimentação de rodovias. Mas, com o marasmo do segmento, diversas montadoras venderam esse tipo de máquina para o cultivo de cana-de-açúcar”, esclarece Daniel. Já as miniescavadeiras, de menor porte, conseguem ser mais versáteis, sendo utilizadas da construção ao agronegócio. “As duas categorias tiveram crescimento acima de 50%, em volumes, neste ano.”

Daniel acrescenta que a expansão da economia deve favorecer o setor. “Inclusive trazendo um crescimento mais espraiado das categorias.”