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Samanta Luchini    |   11/12/2018   |   Desenvolvimento Humano   |  

As Capacidades Humanas

O ser humano é dotado de 3 tipos de capacidades: as capacidades requisitadas, as capacidades existentes e as capacidades acessadas. E é esse conjunto de capacidades, bem como a interação entre elas, que nos garante uma atuação assertiva, especialmente nos momentos de adversidade.

Você já deve ter observado que a vida cotidiana é uma verdadeira fábrica de produzir adversidades.

Antes mesmo de sair de casa, ao abrir o aplicativo do trânsito, já percebemos o que nos aguarda no caminho. Isso sem contar que, durante o trajeto existem grandes chances de o tempo ficar ainda maior que o previsto, fazendo-nos rever as rotas novamente.

Quando chegamos no trabalho, o nível de produtividade da fábrica se mantem em alta: as atividades que foram planejadas logo para o período da manhã não podem ser executadas porque o servidor caiu; o fornecedor não entregou o que havia prometido entregar, então a sua programação do dia não será cumprida; o cliente se recusa a assinar o contrato, colocando um série de objeções na prestação do seu serviço; a pessoa que iria te ajudar na finalização do material que será usado na reunião das 15h00 acaba de ligar dizendo que não passou bem à noite e que está a caminho do hospital.

Tudo isso fora as outras ocorrências que não pertencem oficialmente ao mundo do trabalho: problemas de saúde, problemas de família, problemas financeiros, problemas de relacionamento, problemas no condomínio, problemas na escola das crianças, problemas domésticos.

De acordo com Paul Stoltz, criador do conceito Quociente de Adversidade (QA) e especialista no estudo dos comportamentos mais produtivos frente as adversidades, o profissional de hoje enfrenta uma média de 23 adversidades por dia. Isso mesmo, 23 adversidades por dia!

A reação de cada pessoa frente a essas adversidades acontece de acordo com uma espécie software interno, ou seja, com o nosso conjunto de capacidades. Entretanto, esse software às vezes precisa de um up grade, para que nos garanta mais velocidade e capacidade à medida que em que as adversidades aparecem ou se tornam mais complexas.

As capacidades humanas podem ser divididas em três categorias.

As capacidades requisitadas são aquelas imprescindíveis para se satisfazer nossas necessidades diárias, para atender a demanda geral da vida. Nesse grupo estão as capacidades que nos garantem executar as atividades que precisamos para viver, trabalhar, nos relacionarmos, enfim, para existirmos no mundo.


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As capacidades existentes representam a soma de todo conhecimento que vamos adquirindo ao longo da vida. Seja pelo aspecto formal (formação, informação, leituras, cursos, etc) ou pelo aspecto informal (experiências, vivência, maturidade). E não necessitamos de muitas evidências para comprovar que o ser humano não utiliza todas as capacidades que possui. Às vezes até nos surpreendemos diante de capacidades que nem desconfiávamos possuir.

O físico Leonard Mlodinow, em seu livro Subliminar (2012), traz um dado muito interessante a esse respeito. Ele afirma que nosso cérebro/sistema nervoso é capaz de captar 11 milhões de bits de informação por segundo, mas o processamento consciente é de apenas 40 bits de informação por segundo. De forma bem objetiva, esse dado nos diz que mesmo quando não percebemos, estamos captando informação e, consequentemente, aprendendo. E esse aprendizado fica armazenado no nosso estoque de capacidades existentes, pronto para ser utilizado se soubermos como fazer o acesso na hora em que precisarmos.

Por fim, as capacidades acessadas se resumem a quantidade que acessamos diariamente, mediante necessidades mais específicas. Funcionam como uma “ponte de acesso” às capacidades existentes, apoiada na premissa de que pouco vale um grande conjunto de capacidades se não formos capazes de utilizá-las diante uma necessidade mais complexa ou de diante de uma adversidade.

E neste ponto cabe uma reflexão importante: diante das adversidades, especialmente aquelas que nos exigem mais, as capacidades existentes e as capacidades acessadas diminuem ou ficam totalmente bloqueadas, como se a ponte de acesso se quebrasse ao meio. Porque é exatamente isso que acontece com grande parte das pessoas quando elas estão frente a uma adversidade. O problema é que frente a uma adversidade, as capacidades requisitadas aumentam, justamente para que sejamos capazes de passar por ela de forma assertiva.

Nessa hora se estabelece uma falha no nosso computador interno – PAM! – aquela tela azul apavorante que indicava o computador totalmente travado e incapaz de processar qualquer comando.

Basta recordarmos o que aconteceu na partida entre Brasil e Chile, nas oitavas de final da Copa de 2014, que foi decidida nos pênaltis com vitória brasileira dramática por 3x2. O capitão da equipe Thiago Silva praticamente se negou a fazer a cobrança. Visivelmente abalado, atônito e com lágrimas nos olhos disse que “pediu a Deus e ao técnico Felipão para não ter que cobrar o pênalti”. A situação adversa daquela partida foi tão grande que todas as capacidades do atleta, tanto as físicas como principalmente as emocionais, ficaram bloqueadas. Até hoje eu me pergunto se um jogador como o gabarito de Thiago Silva não se sentiu suficientemente capaz para enfrentar uma situação como aquela, quem mais poderia se sentir? Ninguém...

Como diz Michael Gerber, a empresa (a vida) é um lugar onde tudo o que sabemos fazer é posto à prova pelo que não sabemos fazer. Vale ressaltar ainda que a maneira como lidamos com as adversidades se espalha como ondas – tanto positivas como negativas – afetando a todos os que você influencia, incluindo muita gente que não tem a menor consciência do seu impacto sobre elas.

Desta forma, uma estratégia muito acertada é reforçar constantemente nosso sistema operacional, de forma que a ponte de acesso às nossas capacidades não fique bloqueada quando mais precisamos. Esse reforço pode ser feito pela aquisição de novos conhecimentos e habilidades, especialmente aqueles que são propostos pelo próprio Paul Stoltz, para o aumento do Quociente de Adversidade (QA).

Aumentar a experiência de controle - manter o foco no que pode ser alterado, ao invés de mantê-lo no que é imutável, ter a habilidade de controlar sua resposta ao que aparecer. Reconhecer a própria responsabilidade na situação - exercer de fato seu papel, agir ao invés de procurar culpados. Limitar o alcance do problema - evitar que ele afete outras áreas, assumindo uma dimensão maior do que a real ou fazendo com que a vida toda fique sem saída. Adotar uma percepção correta frente à duração do problema – os problemas não duram para sempre, nem mesmo os mais difíceis de se resolver.

Um grande abraço e até breve...

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Samanta Luchini

Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br


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