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Samanta Luchini    |   03/07/2019   |   Desenvolvimento Humano   |  

Aprendizagem: Uma vida dinâmica pede sistemas dinâmicos

Foi-se o tempo em que a aprendizagem se dava apenas pela recepção de um “pacote-padrão” de conteúdo, visto como importante ou imprescindível para a execução de alguma tarefa. As pessoas aprendem mais quando participam ativamente do processo de aprendizagem e quando o conteúdo é formulado levando-se em consideração quem vai aprender, o que precisa ser aprendido e em que ambiente as novas habilidades precisarão ser executadas.

Uma das maiores evidências de aprendizado e desenvolvimento que se pode observar se dá quando o aprendiz utiliza e articula um novo conhecimento de forma mais ampla e em mais de uma área da vida. Alguns estudiosos chegam a usar essa evidência como uma das formas de se definir a inteligência.

E isso me encanta ainda mais quando eu mesma posso participar dessa experiência.

Este ano iniciei uma nova especialização, na área das Neurociências, para incrementar meu trabalho utilizando suas bases conceituais e mais recentes descobertas. Como o curso é bem abrangente, estou estudando inclusive alguns temas que não se relacionam diretamente com os meus interesses específicos de trabalho, que são as emoções e as funções cerebrais mais complexas (linguagem, planejamento, memória, tomada de decisão). E isso tem sido muito importante, pois “me obriga” a tomar contato com assuntos e temas que por livre e espontânea vontade talvez eu não fizesse e deixasse de ter acesso a algumas informações que agregam bastante valor.

No módulo deste mês, estávamos estudando os circuitos cerebrais que dão origem aos nossos comportamentos motores, ou seja, nossos movimentos. Um assunto que é bastante interessante, mas que, à primeira vista, atendia melhor aos fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e educadores físicos da turma. Até que a professora mencionou a Teoria dos Sistemas Dinâmicos, para explicar o desenvolvimento motor e ilustrar as melhores tratativas para os casos de limitação de movimento ou necessidades de reabilitação.

E foi aí que eu me beneficiei muito mais do que poderia imaginar.

Confesso que até então eu não conhecia essa teoria, o que reforça a eterna máxima socrática que diz “só sei que nada sei.” E ao mesmo tempo pensei: ainda bem que eu estou nessa aula.

A Teoria dos Sistemas Dinâmicos, de forma extremamente pontual para este artigo, defende que o desenvolvimento motor ocorre através de um processo contínuo e dinâmico, que é influenciado por, pelo menos, três variáveis: o indivíduo que está em questão (quem?), a tarefa motora que ele precisa desempenhar (o quê?) e o ambiente em que ele está inserido (onde?).


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Pense, por exemplo, em uma pessoa que tem uma lesão no joelho e está iniciando um processo de tratamento. As chances de melhora serão maiores se a tratativa da lesão considerar essas três dimensões. Quem é a pessoa portadora da lesão? Seu tipo físico, sua saúde, seu estilo de vida, suas experiências anteriores, suas percepções e as expectativas que ela tem para o seu tratamento. Que tipo de tarefa motora ela deseja realizar, quando seu joelho estiver melhor? Andar de bicicleta no parque no fim de semana, pedalar por 60 quilômetros junto com seu grupo de ciclismo, caminhar sem incômodo, correr na esteira, jogar futebol ou basquete. No ambiente em que ela está inserida, que fatores ela poderia controlar? O ritmo mais leve ou mais intenso, a velocidade da marcha, exercícios de alongamento antes e depois de caminhar ou pedalar. E quais ela não poderia controlar? Necessidade de ficar em pé ou sentada por longos períodos, por exemplo.

À medida que a professora construía esse mesmo exemplo com a contribuição de todos os alunos da turma, é que veio o insight: a Teoria dos Sistemas Dinâmicos serve para qualquer área e para qualquer tipo de aprendizagem, não apenas para a aprendizagem motora.

Ainda mais se considerarmos o aspecto dinâmico e complexo da vida que vivemos. Múltiplos papeis, múltiplas tarefas, múltiplos compromissos, tempo cada vez mais escasso, responsabilidades cada vez maiores, necessidade de produzir bons resultados o tempo todo, quantidade avassaladora de informação. É nesse cenário em que precisamos aprender e desenvolver novas habilidades. É nesse cenário em que aprendizagem precisa ser efetiva.

E é claro que depois desse insight, eu puxei a brasa para o lado da minha sardinha e fiquei pensando nas inúmeras ocasiões em que eu tenho o privilégio de ajudar as pessoas no desenvolvimento de suas habilidades comportamentais e, especificamente, de liderança.

A formação de um líder (sim, os líderes são formados e nós já falamos sobre isso algumas vezes) tem muito mais probabilidade de ser bem sucedida se as ações de desenvolvimento levarem em consideração a pessoa desse líder: seus valores, suas competências, seu propósito de vida, sua trajetória pessoal e profissional, seus anseios, suas incertezas e suas crenças, por exemplo.

Se levar em consideração o tipo de tarefa que ele precisará desempenhar quando já estiver de fato ocupando sua posição: formar uma equipe, desenvolver esta equipe e avaliar sistematicamente seu desempenho, criar uma conexão legítima e exclusiva com cada um de seus liderados, construir e executar um plano de desenvolvimento para cada um dos seus liderados, gerenciar as mudanças que são frequentemente requisitadas pelos clientes e pelos avanços tecnológicos, formar seu sucessor, por exemplo.

Se levar em consideração o ambiente onde irá exercer a sua liderança: a cultura da empresa e das pessoas, a região em que a empresa atua, o tipo de mercado em que ela atua, o ambiente de negócio em que ela está inserida, o estilo de seus principais dirigentes ou fundadores, a legislação vigente, o sistema financeiro e econômico, por exemplo.

Foi-se o tempo em que a aprendizagem se dava apenas pela recepção de um “pacote-padrão” de conteúdo, visto como importante ou imprescindível para a execução de alguma tarefa. Hoje se obtém resultados muito melhores em situações de aprendizagem ativa, por exemplo, onde o aprendiz não é meramente um "recebedor" de conteúdo, mas alguém que se engaja de maneira ativa na aquisição do conhecimento, enfatizando seus objetivos e necessidades.

O psiquiatra americano William Glasser (1925 – 2013), que ficou mundialmente conhecido por sua Pirâmide da Aprendizagem, mostrou que aprendemos 70% daquilo que nos é ensinado quando podemos conversar e debater e 80% quando podemos executar, ou seja, agir durante o processo.

E esse engajamento do aprendiz, fator determinante para o processo, será muito mais efetivo se o tripé proposto pela Teoria dos Sistemas Dinâmicos (quem – o que – onde) estiver presente na formulação dos conteúdos a serem ensinados.

Um grande abraço e até breve.

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Samanta Luchini

Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br


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