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Samanta Luchini    |   09/05/2018   |   Desenvolvimento Humano   |  

Peça Explicação de Nota Alta

Pedir explicação das notas baixas e dos resultados insatisfatórios faz todo sentido, mas nem sempre produz o nível de consciência suficiente para o aprendizado e para o desenvolvimento. Já o hábito de pedir explicação das notas altas faz com que as pessoas tenham real consciência de suas ações mais efetivas e cheguem à formula do sucesso. Com isso, podem desempenhar mais facilmente o papel de protagonistas do próprio desenvolvimento.

Não é difícil perceber a influência do viés extremamente crítico que está presente na sociedade em que vivemos. Muitos de nós já amargamos a garganta com aquela sensação de que "eu faço noventa e nove coisas boas e ninguém vê, basta cometer um único erro para receber uma chuva de críticas". Ou então, aquele desconforto de ver nossos acertos e nossas melhores atitudes serem recebidos e analisados como meras obrigações.

O aluno chega em casa e mostra uma nota 9,8 na prova de física para o pai. O pai, fazendo seu costumeiro papel de incentivador responde: - Parabéns, filho! É uma ótima nota! Mas porque não foi 10?

Eu também acredito que um aluno que obteve 9,8 pontos na prova é de fato capaz de obter 10. O problema aqui é o foco. Ou seja, ao invés de tentar entender de onde vieram os 9,8 de acerto, o pai pede a explicação detalhada dos 0,20 que não vieram.

Em alguns casos mais críticos, esse aluno estuda um pouco mais para a próxima prova e chega à nota 10. Quando presta conta do resultado é recebido com "Parabéns, filho! É assim que ter que ser! Afinal, a única coisa que você faz é estudar." Isso para não falar sobre aquela velha e mesquinha sentença "Você não fez mais que a sua obrigação”.

Independentemente do ambiente no qual estejamos inseridos, o hábito mais comum e mais bem instalado é o de nos pedirem explicações referentes às nossas notas baixas. Chamo de "nota baixa" todo e qualquer comportamento ou resultado que tenha ficado aquém das expectativas.

Dentro das empresas, quando os gestores se deparam com erros ou com desempenho insatisfatório, eles imediatamente apuram os fatos de forma minuciosa através de conversas, trocas de e-mails, reuniões e relatórios.

Depois disso, eles lançam mão de um arsenal de ferramentas e procedimentos que permitem identificar as reais causas do problema e o levantamento das ações e contramedidas necessárias para sua solução definitiva.


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Dentro das escolas, o aluno cujo desempenho que fica abaixo da média é prontamente inserido em atividades de reforço e monitoria, para que possa recuperar seu desempenho no próximo período. Em casa ele também é incluído num tipo de "regime especial", no qual sua rotina de estudos aumenta de tamanho, assim como a vigilância dos pais diante de tarefas e compromissos escolares. Talvez os pais até contratem um professor particular para que o problema seja resolvido de fato. Isso tudo além da busca pela explicação detalhada dos motivos que justifiquem o resultado insatisfatório.

É claro que todas essas ações são importantes e necessárias. Afinal, é pela rota da observação acurada e da melhoria contínua que se chega à excelência. Portanto, pedir explicação para as notas baixas faz todo sentido.

Mas o que produz certo incômodo é discrepância entre a dedicação que é aplicada ao entendimento das notas baixas e a dedicação que é aplicada ao entendimento das notas altas.

Diante das notas altas existe sim o reconhecimento, manifestado por aquele famoso "Parabéns e muito obrigado!", que é anunciado na reunião de fechamento ou naquele e-mail que segue com cópia para todo mundo, inclusive para o presidente da empresa. Mas tudo bem pontual e, de certa forma, bem econômico.

Raramente as pessoas precisam explicar de fato suas notas altas.

Imagine a cena de um funcionário tendo que explicar detalhadamente todos os motivos que o permitiram melhorar em 25% o nível de satisfação dos clientes. Ou todas as ações que ele mesmo executou (e como) para conseguir chegar a esse resultado. Essa explicação poderia, no mínimo, acrescentar uma série de procedimentos melhorados, a ser utilizada na capacitação das equipes ou na solução de problemas semelhantes.

Imagine aquele aluno que apareceu no início do texto, chegando em casa e apresentando uma nota 9,8 na prova de física. O pai, surpreso com a prova na mão diz: - Nossa, filho! Que nota incrível! Como você conseguiu isso?

O filho, meio desconcertado com a reação inusitada do pai, começa a explicar: - Ah, pai... Eu fiz a lista completa de exercícios que a professora entregou na sala de aula. Depois eu procurei uma lista semelhante na internet e fiz todos os exercícios. Também chamei dois amigos para virem estudar comigo aqui em casa e assistimos uma videoaula com aquele professor super divertido no YouTube. Depois jogamos uma partida de vídeo game, porque ninguém é de ferro.

Você consegue perceber que a explicação da nota alta traz em si uma fórmula? E que essa fórmula pode facilmente ser replicada para as outras disciplinas, de modo que o 9,8 de física também apareça na prova de matemática, de português ou de biologia?

Você consegue prever o quanto essa explicação pode empoderar o aluno e fortalecer a relação de apoio e confiança que ele tem com seus pais?

Você consegue perceber o quanto essa explicação pode aumentar o grau de autonomia desse aluno frente seu próprio papel e suas responsabilidades?

Você consegue perceber o quanto essa explicação esclarece e afirma o papel de protagonista, hoje tão desejado e estimulado no processo de aprendizagem e desenvolvimento?

Não significa que você precise dar menos atenção aos erros e aos problemas. Isso seria errado e poderia demonstrar uma atitude negligente de sua parte. Mas talvez seja interessante começar a tratar os acertos de uma forma mais estruturada, não apenas pela ótica do elogio e da motivação.

Quando se pede explicação detalhada das notas altas, o sucesso deixa de ser algo intuitivo ou associado ao fator sorte, por exemplo. Ele passa a ser entendido como resultado de uma série de ações eficientes (lembra da fórmula?) que a pessoa executou. Sendo assim, essas mesmas ações podem ser repetidas em outros contextos e sempre que necessário. E o maior e mais relevante benefício: elas podem vir a ser um hábito.

Um abraço e até breve...

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Samanta Luchini

Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br


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