Negócios da China ficam no papel

Mais de 60% dos 60 projetos anunciados pelos asiáticos no país entre 2007 e 2012 ainda aguardam confirmação

 

Anúncios bilionários de investimentos de empresas chinesas no Brasil ganham espaço nas agendas dos governadores de diversos estados, mas a velocidade com que os empreendimentos estão saindo do papel ainda é baixa e vai pouco além do interesse nos recursos naturais do país, como retrata a balança comercial de Minas Gerais com o país asiático. Grão Mogol, no Norte de Minas, e Pouso Alegre, no Sul do estado, são os únicos municípios, por enquanto, beneficiados pela esperada nova era de inversões diretas do gigante asiático em terras brasileiras, com recursos efetivos na mineração e na fabricação de máquinas, respectivamente. 
 
Dos 60 projetos divulgados de 2007 ao ano passado por investidores chineses para o Brasil, pouco mais de 35% dos recursos de US$ 68,5 bilhões propostos aos governos estaduais foram confirmados, num total de US$ 24,4 bilhões, segundo o levantamento mais recente, de novembro de 2012, encomendado pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). O cenário para os investimentos no setor produtivo da economia foi do tempo quente ao frio em 2012, com a queda de 2% do investimento estrangeiro direto medido pelo Banco Central, o que era de se esperar num ano de baixo crescimento econômico, e em meio à crise mundial. O volume dos recursos saiu de US$ 66,660 bilhões em 2011 para US$ 65,271 bilhões.
 
Idêntico comportamento foi observado pelo Monitor de Tendências do Investimento Global, relatório produzido pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). A instituição informou que o Brasil recebeu US$ 66,7 bilhões de investimento estrangeiro em 2011 e a estimativa para o ano passado cairia a US$ 65,3 bilhões. O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, contesta os críticos da onda de expansão chinesa no país e culpa o governo federal por “espantar” o investimento estrangeiro, diferentemente dos vizinhos latino-americanos. “A atitude protecionista do Brasil não dá boas-vindas ao investidor estrangeiro. É uma política que tem de ser revista, já que o país não tem poupança interna para financiar investimentos”, afirma.
 
Para Charles Tang, falta uma atmosfera amistosa em relação aos investidores estrangeiros, que enfrentam restrições para investir no agronegócio e na agroindústria e vivem mudança de regras ou indefinições, a exemplo do novo regime automotivo. Os investimentos com origem na China vão crescer, sim, este ano no Brasil, de acordo com o presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, impulsionados pelo pacote federal de estímulo à construção de infraestrutura. Só em estradas e ferrovias, o governo brasileiro anunciou um pacote de concessões de R$ 133 bilhões até 2018.
 
Se a baixa do ritmo de crescimento da China chamou a atenção, ainda assim uma expansão de 7,8% tem sua exuberância inquestionável, tanto na avaliação de Tang quanto para o presidente da Ausenco Minerals, Paulo Libânio, que comanda as atividades do braço de mineração do grupo australiano Ausenco, especializado em projetos de engenharia e gestão. Ele afirma não ter dúvidas de que bons projetos e com claro retorno financeiro vão atrair os investidores chineses. “Primeiro, eles chegam como consumidores e não podemos recusá-los, porque esse investimento é que alimenta os empreendimentos que mais tarde terão a participação chinesa”, afirma. 
 
Sul de MG quer montar cinturão de fornecedores
A construção da primeira fábrica brasileira da indústria chinesa de máquinas para construção Xuzhou Construction Machinery Group (XCMG), na cidade mineira de Pouso Alegre, desencadeou negociações com fornecedores que deverão compor o cinturão da unidade fabril, orçada em R$ 500 milhões. A prefeitura local está debruçada sobre intenções de investimento de pelo menos cinco potenciais fornecedores, cujos nomes ainda são mantidos em sigilo. Áreas para os investimentos já receberam a visita de representantes das indústrias, informou o secretário local de Desenvolvimento Econômico, Raphael Prado.
 
“Estamos fazendo o possível para atender todas as possibilidades de investimentos e nos preparamos para receber os recursos dos investidores chineses”, diz o secretário. Outras montadoras de máquinas e de carros e caminhões já anunciaram intenção de construir fábricas no Brasil, como a Dongfeng, Foton Motors, a Shlyan Yulihong e a Sinotruk. O Estado de Minas apurou que a Dongfeng pode estar mais próxima de Minas Gerais, depois de os representantes da empresa já terem avaliado áreas na Grande Belo Horizonte e no Sul do estado, mas o governo mineiro nega as informações. 
 
A chinesa Citic Heavy Industries, fornecedora de máquinas e equipamentos para grandes empresas da indústria de mineração, foi uma das primeiras a se estabelecer em Minas Gerais, em dezembro de 2011, com escritório em Belo Horizonte. As intenções iniciais são a prestação de serviços de assistência técnica, de supervisão técnica de campo e de engenharia. Numa segunda etapa, poderão vir um centro de distribuição e usinagem de peças. Sediada em Hong Kong, a Hondbrige Holding se associou ao grupo Votorantim para investir US$ 3 bilhões no Norte de Minas para explorar minério de ferro. 
 
Por Marta Vieira/ Estado de Minas