Uma das marcas mais afetadas pelo aumento de tributação aos veículos importados, a Kia espera ter uma decisão sobre a possível construção de uma fábrica no Brasil até o início do ano.
O importador oficial da marca, José Luiz Gandini, negocia com o grupo coreano um contrato de cessão de tecnologia para que ele possa realizar o empreendimento.
A hipótese da instalação de uma fábrica no país ganhou força após as medidas do governo, adotadas no final de 2011, que elevaram em 30 pontos percentuais o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Por ser a importadora de maior volume, a Kia foi uma das mais afetadas pela mudança. As vendas da marca caíram quase pela metade neste ano, e a expectativa do grupo é terminar 2012 com 42 mil carros, ante 77 mil no ano passado.
O volume deve se manter estável no próximo ano, quando passa a valer o novo regime automotivo. As novas regras dão um alívio de 4.800 unidades (pouco mais de 10% do volume anual) por ano que a empresa pode trazer sem o adicional tributário.
Um passivo tributário de um dos antigos sócios da Kia atrapalha o processo de tomada de decisão sobre a fábrica. Os coreanos temem que uma dívida da Asia Motors Brasil, antigo parceiro da empresa no país, possa ser cobrada pelo governo na hipótese da instalação da fábrica.
"[Eles] não tomaram a decisão por causa da dívida. Se eles fizerem, correm o risco de o governo resolver executar a dívida e tomar a fábrica", afirma Gandini.
A alternativa em negociação hoje para viabilizar o projeto é que o próprio importador, e não a montadora, assuma a construção da unidade. " Eles não vão jogar este mercado [Brasil] fora", afirma.
Executivos da montadora estão reunidos neste mês para avaliar os rumos do grupo no próximo ano. A expectativa é que o assunto seja decidido nesta reunião.
Regime Automotivo
O representante da Kia no Brasil também negocia com os coreanos um compromisso para que o grupo se responsabilize por alcançar as metas de eficiência energética previstas no novo regime automotivo.
Só assim, a companhia entrará com o pedido de habilitação nas novas regras, com a qual poderá acessar a cota de 4.800 veículos isenta do adicional de 30 pontos de IPI.
Gandini se queixa, contundo, do custo de outra exigência para a cota: a de um investimento mínimo em pesquisa. As importadoras devem destinar um percentual mínimo do faturamento para pesquisa e desenvolvimento no país.
A exigência básica cresce ao longo dos anos até alcançar um máximo de 1,5% do faturamento em 2017, último ano de vigência do regime automotivo. Pelos cálculos da Kia, o custo para esse investimento representa uma redução da cota em 2.000 carros. Por Gabriel Baldocchi/ Folha de S. Paulo