Investimento em inovação precisa estar enraizado na política de desenvolvimento industrial

Especialistas defendem que o Brasil começou a investir mais em inovação, porém o caminho ainda é longo.

"A inovação tecnológica é um caminho que ainda não foi explorado devidamente no Brasil", diz o presidente da Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec), Luiz  Antonio Antoniazzi.

Para ele, trata-se de uma questão “até cultural. É uma cultura que já deveria ter sido desenvolvida há algumas décadas”. Foi o que ocorreu na Coreia do Sul, por exemplo, onde “a questão da inovação passou a impregnar toda a sociedade, com forte investimento em educação”. O presidente da Cientec destacou que, hoje, o crescimento da Coreia é sustentado pela inovação tecnológica.
 
“O Brasil despertou para isso tardiamente”, opinou Antoniazzi, para quem as chances de reverter esse quadro estão na incorporação da inovação nas políticas públicas em geral. “A inovação há de ser o grande farol na implementação da política industrial do país e em cada um dos estados”.  
 
Antoniazzi esclareceu que, quando se fala em inovação tecnológica, a tendência é que se pense na inovação radical – caracterizada por um produto, processo ou serviço completamente novo lançado no mercado. Ele destacou que, no entanto, são as inovações que incrementam o produto ou processo que têm maior importância. “São pequenas melhorias no produto [já existente]. Requerem menos investimento e menos risco. Já a inovação radical implica mais investimento e um risco maior”.
 
O presidente da Cientec lembrou que os países emergentes têm investido mais em inovação para a melhoria de processos e produtos e defendeu que o Brasil adote o mesmo caminho. Ele, no entanto, disse estar observando uma mudança de postura entre as empresas brasileiras nos últimos anos. Segundo Antoniazzi, alguns setores da indústria estão conscientes de que não poderão se sustentar sem investir em inovação ou sem se associar a institutos tecnológicos e universidades, para trazer dali o conhecimento.
 
Já a presidenta da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (Abipti), Isa Assef dos Santos, avaliou que, para que o Brasil ganhe uma posição de destaque no cenário mundial, é preciso que o conhecimento inovador “não fique em uma prateleira, mas seja transformado em uma tecnologia aplicada”. Para ela, levar o conhecimento a se transformar em um produto é o grande papel dos institutos de tecnologia, que vão executar essa tarefa e comprovar, para as empresas, “que aquilo é possível, que tem futuro”.
 
Isa Assef dos Santos ressaltou que os institutos são o elo forte dessa cadeia formada, na outra ponta, pelas empresas. Ela lembrou que inovação é um processo e não um fato isolado, e que a empresa será mais competitiva quando inserida nesse processo.
 
A presidenta da Abipti lembrou, contudo, que há entraves a serem superados para que a inovação cresça no Brasil, entre eles a falta de marcos legais, a infraestrutura laboratorial e a capacitação ainda insuficiente de pessoal, especialmente nos institutos públicos. “Eles [os institutos], hoje, têm mais bolsistas do que quadro efetivo”, criticou. “Como é que se consegue ser forte e apresentar bons resultados se não tem quadros?”, indagou.
 
Isa lembrou ainda que é preciso descentralizar os investimentos em inovação para desenvolver mais equitativamente as regiões do país, de forma a diminuir as diferenças regionais, “que são muito grandes”. Para ela, o principal indutor desse processo é o governo. “O governo é a grande liderança e o indutor dessas mudanças comportamentais”, disse. Isa admitiu que a inovação pode ser estimulada, inclusive, com parcerias entre o setor público e a iniciativa privada.
 
O presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), Carlos Eduardo Calmanovici, disse que a inovação é um elemento fundamental para a competitividade. Ele acredita que o aumento da concorrência nos mercados é algo que praticamente obriga o Brasil a incrementar a inovação. “O grande desafio nosso é estar estruturado em termos de políticas públicas, de geração de conhecimento, de propensão ao risco, para que a inovação tenha uma evolução significativa no Brasil”.
 
Ele acredita que a academia brasileira é forte e gera conhecimento, falta aproveitar melhor esse conhecimento e transferi-lo para o setor produtivo. Calmanovici defende que as iniciativas inovadoras devem estar permeadas nas cadeias produtivas e não apenas presentes nas empresas, isoladamente. “Nós precisamos ser mais agressivos nos nossos instrumentos públicos de fomento à inovação, como fazem outros países. Precisamos ter uma academia que seja mais atenta, olhando o mercado, as necessidades e as demandas da sociedade”.
 
Para Evando Mirra, diretor da Academia Brasileira de Ciências (ABC), todos os sinais apontam para uma evolução positiva da inovação no Brasil. “Minha visão é muito otimista em relação a isso”. Vários fatores apontam nessa direção, na visão dele. O número de empresas inovadoras aumentou no país, há maior conscientização sobre a importância da inovação e aumentou a articulação do setor empresarial por meio de iniciativas como as da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei).
 
Mirra acredita, no entanto, que há um problema relativo à velocidade com que ocorre o movimento de inovação. Em alguns setores, o Brasil tem sido mais eficiente, na opinião do diretor da ABC, como o da indústria de máquinas de transporte em geral, da fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos, de informática e biotecnologia. São áreas que “já nasceram com o DNA da inovação”. As áreas mais críticas no país em termos de inovação são, segundo Mirra, exatamente as mais competitivas, entre elas a de componentes microeletrônicos.
 
O espaço que existe para o incremento de produtos e serviços é infinito, na opinião de Rogério Pereira, coordenador do Centro Geral de Desenvolvimento Tecnológico da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (CGDT/Fucapi), de Manaus. A instituição participou, no regime de parceria, do projeto pioneiro de criação das urnas eletrônicas no Brasil.
 
Para Rogério Pereira, não só as urnas eletrônicas, mas quaisquer produtos são passíveis de serem melhorados por meio da inovação tecnológica. “Novas tecnologias vão puxando novas melhorias. É um ciclo contínuo”, avaliou.
 
Por Alana Gandra/ Agência Brasil