A União Europeia pretende investir em inovação para superar a crise financeira, promover o crescimento econômico, a criação de empregos e a segurança social nesta década. Por esse motivo, o bloco anunciou uma nova estratégia para cooperação internacional em pesquisa e desenvolvimento.
Os planos para os próximos anos e o novo mecanismo de financiamento que permitirá colocá-los em prática – batizado de Horizon 2020 – foram apresentados pela chefe da unidade da Comissão Europeia para a Ciência, Tecnologia e Inovação nas Américas, Sigi Gruber, durante o “Fapesp and European Union Seminar”, realizado na sede da Fapesp.
“A União Europeia, assim como o Brasil, coloca muita ênfase na importância da inovação para estimular empregos e crescimento. Temos como meta para 2020 investir 3% de nosso Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento”, disse Gruber.
Ainda em fase de aprovação no Parlamento Europeu e no Conselho da União Europeia, o Horizon 2020 prevê investimento de 80 bilhões de euros em pesquisa e desenvolvimento entre 2014 e 2020. O programa substituirá o 7º Programa-Quadro (FP7), atual mecanismo de financiamento de pesquisas da União Europeia.
Em vigor desde 2007, o FP7 tinha orçamento em torno de 50 bilhões de euros para sete anos. “Uma das grandes novidades é uma participação mais forte da indústria”, disse Piero Venturi, conselheiro, chefe do setor de Ciência e Tecnologia da Delegação da União Europeia no Brasil.
O programa, acrescentou Venturi, busca ampliar a escala de cooperação internacional, mas com foco em países estratégicos como Brasil, Índia, China e Russia. Segundo dados da Comissão Europeia, os chamados BRICs (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) dobraram sua participação nos investimentos globais em pesquisa e desenvolvimento entre os anos 2000 e 2009. As economias emergentes, porém, deixarão de ter financiamento automático dentro do programa Horizon 2020.
“Consideramos o Brasil um parceiro de mesmo nível agora. Portanto, em vez de financiar a vinda de pesquisadores brasileiros para projetos europeus, queremos discutir com instituições parceiras no Brasil quais são os interesses comuns dentro de um programa de cooperação. Isso é mais complexo, pois envolve investidores de ambos os países, mas acreditamos que seja a melhor estratégia”, afirmou Venturi.
“O que estamos tentando negociar com parceiros-chave no Brasil, como a Fapesp, é a possibilidade de eles financiarem automaticamente as instituições brasileiras – ou, no caso, paulistas – dentro dos projetos europeus”, disse Leonor Collor, assessora do setor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Delegação da União Europeia no Brasil.
O diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, ressaltou que a Fundação está disposta a discutir programas de cooperação científica. “Nossa experiência mostra que é mais fácil desenvolver colaboração no âmbito da ciência básica. Acredito que é um primeiro passo para construir confiança e, a partir disso, podermos passar para projetos mais aplicados”, disse.
Desafios sociais
Gruber destacou que a nova estratégia da União Europeia para cooperação internacional em pesquisa e desenvolvimento tem como foco os desafios sociais globais, como mudanças climáticas, mobilidade e desenvolvimento de meios de transporte mais sustentáveis, maior acessibilidade a energias renováveis, segurança alimentar e formas de lidar com os desafios de uma população que está envelhecendo.
A proposta do Horizon 2020 para ajudar a superar esses desafios é criar uma ponte entre a pesquisa e o mercado, ajudando empresas inovadoras a transformar avanços tecnológicos em produtos viáveis. Essa abordagem incluirá a criação de parcerias entre os Estados-Membros da União Europeia e o setor privado para reunir os recursos necessários.
Além disso, segundo Gruber, o novo mecanismo de financiamento deverá ser menos burocrático em relação ao FP7, facilitando o acesso de pesquisadores europeus e de parceiros internacionais. “Queremos fazer da Europa um local atraente para a pesquisa e inovação e aumentar nossa competitividade industrial”, disse.
Por Karina Toledo/ Agência Fapesp