A obrigatoriedade de três itens de segurança em todos os veículos brasileiros, o airbag, o freio ABS e o rastreador (nesse caso contra roubos) está levando a indústria de autopeças a inaugurar linhas de produção, contratar pessoal e nacionalizar componentes. Também atraiu mais uma fabricante. A coreana Mando inaugurou fábrica de airbags em Limeira (SP) em maio, inicialmente para atender à Hyundai, mas com planos de fornecer para outras marcas.
A Takata, líder do mercado de airbags, planeja uma filial em Pernambuco para fornecer airbags à fábrica que a Fiat vai inaugurar em 2014. O grupo já investiu US$ 35 milhões para ampliar a produção em Jundiaí (SP) e construir uma unidade no Uruguai, que abastecerá a sede brasileira com bolsas infláveis. Nos últimos meses, contratou 350 funcionários.
Este ano, só a Takata e a TRW, as duas principais fabricantes de airbags, vão produzir 2,8 milhões de sistemas, número que será triplicado em 2014. Pela legislação, cada automóvel terá uma bolsa para o motorista e outra para o carona.
A Bosch, única fabricante de freios ABS na América do Sul, investiu R$ 22 milhões para ampliar a produção anual de 500 mil para 1,25 milhão de equipamentos em 2013. No ano seguinte, terá capacidade para adicionar mais 800 mil peças à produção, se houver demanda, informa Carlo Gibran, gerente de vendas e marketing da empresa. Além disso, a fábrica de Campinas (SP) vai produzir controles eletrônicos de estabilidade (ESP), uma evolução do ABS, e passará a adquirir no País blocos de alumínio hoje importados. A empresa também está de olho no
segmento de motocicletas.
Para o airbag, o tecido especial da bolsa não é feito no País. "No futuro, podemos avaliar a possibilidade de produção local, mas precisa de muita escala", informa Airton Evangelista, vice-presidente da Takata. A TRW ajustou a fábrica de Limeira para iniciar, este ano, a produção de airbags, parte de um investimento de R$ 15 milhões. A linha ocupa a área antes usada como centro de distribuição, que foi realocada.
A obrigatoriedade do airbag foi sancionada pelo governo em 2009 e regulamentada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran). Foi estabelecido um cronograma que previa os itens em 8% dos automóveis em 2010, 15% em 2011, 30% em 2012, 60% em 2013 e 100% em 2014.
Várias empresas anteciparam a escala. Este ano, Gibran calcula que 40% dos novos veículos já estão saindo das fábricas com os itens de segurança. Em 2013, as empresas apostam que 70% dos carros terão os equipamentos. "A tendência é de o próprio consumidor priorizar os carros com airbag e ABS com receio da desvalorização dos modelos que não têm esses itens", diz o diretor da TRW, Wilson Rocha. "O mesmo ocorreu na troca dos carros a gasolina pelos flex."
Segundo Gibran, hoje o conjunto com ABS e airbag frontal custa cerca de R$ 2 mil, valor que deverá cair quando a escala de produção aumentar. Algumas montadoras lançaram novos veículos com os equipamentos de série sem alterar significativamente o preço ao consumidor. O rastreador terá de ser incorporado em 20% dos novos automóveis a partir de janeiro, porcentual que subirá 20% a cada dois meses, até chegar aos 100% em agosto. A Delphi decidiu produzir o equipamento na unidade do grupo na Argentina e de lá abastecer o Brasil.
Segundo Valdir de Souza, diretor da Delphi, todo o sistema foi desenvolvido nos dois países, em parceria com técnicos dos Estados Unidos. "O Brasil é o único país com a exigência desse equipamento", diz. O grupo espera deter 20% do mercado nacional, projetado em mais de dois milhões de unidades para o próximo ano.
A Delphi vai exportar a tecnologia do antifurto para a Índia e futuramente para Tailândia e alguns países da Europa que estudam ter o sistema em seus veículos. O grupo, porém, desistiu de produzir controladores eletrônicos de ABS, projeto que havia anunciado em 2011.