Pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo, estão interessados em desenvolver mais pesquisas em conjunto com as fábricas de automóveis no Brasil. Para entender melhor o mercado de veículos a programação deste mês do 'Café com tecnologia' do Instituto contou a presença do coordenador do Laboratório de Gestão da Inovação (LGI), do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, e membro do Conselho de Orientação do IPT, Mario Sergio Salerno. “O setor automotivo está presente em trabalhos do Instituto, mas para atuar efetivamente com projetos inovadores é preciso participar do desenvolvimento mais no início da cadeia produtiva”, defendeu Walter Furlan, diretor de pessoas, sistemas e suprimentos do Instituto.
Uma das dificuldades apontadas por Salerno para o desenvolvimento local é a internacionalização, pois o investimento dem P&D das montadoras em geral, incluem o pagamento de roaylties pelas filiais às matrizes em seus países de origem para o uso da tecnologia. “Paga-se muitos royalties porque a parte substantiva dos modelos é projetada pelas matrizes”, disse Salerno ao destacar a importância dessa atividade na economia, que concentra cerca de 20% do PIB do País.
“O Brasil tem no mundo o maior número de marcas produzidas internamente, mais até que os Estados Unidos, e isso não é bom para o produto, porque cria uma pulverização e essa indústria depende de escala para ser competitiva”, afirmou. No Brasil não há desenvolvimento de motores, por exemplo, mas o dispêndio total de P&D das montadoras é alto porque há muitas horas de engenharia aplicadas em testes, o que acaba sendo lançado como recurso de P&D.
Segundo Salerno, uma avaliação importante para detectar oportunidades de inovação é quanto ao caráter de arquitetura ‘integral’ ou ‘modular’ dos veículos. O pesquisador acredita que a modulação é mais interessante para motivar a pesquisa no setor porque amplia as oportunidades de inovação. “Com o projeto modular, o desenvolvimento não fica concentrado na matriz”, disse Salerno, destacando que o desempenho dos veículos depende mais da experiência de engenharia das equipes de projeto e da coordenação com fornecedores do que de conhecimento acumulado em títulos de mestrado e doutorado nas universidades.
Entre as montadoras, Volkswagen, General Motors e Fiat são as que mais desenvolvem tecnologia dentro do País, em alguns casos com produtos de inspiração local como o Fox, da Volks, e a Meriva, da GM. Nessa linha de projetos também haverá um novo estímulo com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que no dia 9 de julho anunciou o financiamento de R$ 342 milhões à Volkswagen do Brasil para desenvolvimento de dois novos modelos, um subcompacto e outro sedã. O recurso também será aplicado na modernização (facelift) de modelos já existentes, permitindo à empresa valorizar a engenharia local e atualizar seus produtos em relação ao nível oferecido ao consumidor de mercados mais sofisticados.
“Existe um mantra na indústria: quem não lança produtos fica estagnado”, afirma Salerno, destacando que para a o desenvolvimento local os fornecedores de autopeças são obrigados a se envolver com os projetos desde seu início. “Os fornecedores começam muito cedo porque os sistemas de um veículo fazem muitas interfaces. O projeto não é simples, há muitos detalhes, apesar de a maioria das tecnologias aplicadas serem consolidadas”. Salerno considera, assim, que as autopeças também são frente importante para a inovação, sendo que muitas dessas empresas fazem desenvolvimentos que depois são incorporados nas linhas de montagem.