Os pequenos e médios empresários da cadeia automobilística do Grande ABC estão desanimados. O primeiro semestre foi ruim. E, por enquanto, não há uma expectativa de melhora. Na avaliação dos executivos, dois fatores têm dificultado a retomada: o desaquecimento da economia e a concorrência com importados.
A apatia da região parece ser um retrato fiel da crise enfrentada pela indústria no País. No Estado de São Paulo, três cidades do Grande ABC estão entre as dez que mais perderam empregos na indústria, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Entre janeiro e maio, depois da líder São Paulo, com saldo negativo de 1.844, aparecem São Bernardo do Campo (-1.633) e Mauá (-1.135) como as cidades mais prejudicadas pela redução das vagas na indústria.
A encruzilhada enfrentada pela cadeia automobilística ocorre porque a baixa nos estoques ainda não causou a retomada da produção. Em julho, enquanto os estoques foram reduzidos de 43 dias para 29 dias por causa do IPI menor, a produção recuou 2,5%. "Algumas empresas estão tão descapitalizadas que não têm dinheiro nem para mandar funcionários embora", diz Hitoshi Hyodo, diretor do Centro das Indústrias de São Paulo (Ciesp) de São Bernardo do Campo.
A última pesquisa realizada pela própria Fiesp/Ciesp mostrou uma queda maior do nível de emprego no Grande ABC do que em outros locais de São Paulo. No primeiro semestre, houve um recuo de 4,44% no emprego na região. No Estado de São Paulo, a redução foi menor, de 3,19%.
"A situação está muito negativa no Grande ABC. E serve como um termômetro. O que será daqui a cinco anos? Essa virou uma grande questão", afirma Daniel Adolfo, diretor da Engap Mecânica, de Santo André. Há 17 anos no mercado, a empresa diminuiu a quantidade de funcionários de 28 para 18 por causa da baixa demanda.
Além da desaceleração da economia, as empresas do Grande ABC reclamam do elevado custo de produção e da excessiva carga tributária, o que dificulta a competição com produtos importados. O empresário Emanuel Teixeira, da Metalmech e diretor titular do Ciesp de Santo André, conta que foi procurado por uma montadora para fornecer peças para um novo automóvel. Na cotação dele, a peça sairia por R$ 0,29, mas a montadora queria R$ 0,14. "Mas só de matéria-prima meu gasto seria de R$ 0,12", afirma. "Isso deixa muito difícil."
O momento atual da indústria do Grande ABC soa como um déjà vu para boa parte do empresariado local. Na memória deles está o estrago que a crise financeira iniciada em 2008 nos Estados Unidos causou na indústria. Na época, o governo lançou medidas de estímulo para setor automotivo e, dessa forma, impulsionou a atividade.
"Em 2008, foi mais ou menos nessa proporção. Agora, eu acho que está mais forte porque as margens do preço estão baixas. Antigamente, as margens eram maiores e você conseguia administrar a queda", diz o empresário Wilson Paschoal. Ele é a segunda geração no comando da Metalúrgica Paschoal.
Demissão
A falta de perspectiva faz com que alguns empresários admitam rever o quadro de funcionários nos próximos meses."Os pagamentos estão em dia. Possivelmente, haverá uma redução de funcionários. É a primeira coisa que se faz. Não cortamos cafezinho porque isso não resolve", diz um empresário de São Bernardo do Campo que pediu para não ser identificado.
Luiz Guilherme Gerbelli/O Estado de S. Paulo