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Imagine um ambiente de trabalho com lugar demarcado para cada objeto, como telefone, blocos de papel e até mesmo a lixeira, e onde o superior deve ser chamado de senhor ou senhora ou, caso tenha algum título, de doutor, por exemplo. Parece muito rígido? Não numa empresa alemã com filial no Brasil, onde esse tipo de cultura corporativa já é parte do dia a dia.
Para trabalhadores brasileiros, esse ambiente talvez seja muito formal e organizado em demasia. Mas a coordenadora de marketing e de vendas da consultoria alemã Porsche, Brigitte Bottcher, de 28 anos, se adaptou e verificou que o trabalho funciona até melhor desta maneira.
Brigitte é descendente de alemães, fala a língua, mas teve contato direto com a cultura apenas no ambiente de trabalho. Seu gestor é alemão. "Ao ser contratada já tinha trabalhado em uma empresa alemã. Existe um respeito maior, uma autoridade hierárquica: o chefe não sai junto e não é um amigo. Para jovens como eu, da geração Y, isso é mais complicado de entender."
Mas, para evitar conflitos, Brigitte se adaptou e começou a notar os pontos positivos. "Quando você conquista certa confiança, você realmente conquistou algo e todos dão muito valor a isso. Mas precisa ser feito passo a passo."
Segundo Adriano Araújo, vice-presidente do grupo Foco, quem quer trabalhar em uma multinacional deve conhecer a cultura do país de origem da empresa. Isso é valorizado já durante o processo seletivo, além de facilitar a rotina de trabalho. "Não dá para moldar um comportamento durante o processo seletivo. Portanto, o candidato deve ser observador e tentar identificar essas diferenças."
Daniella Correa, consultora de RH da Catho Online, diz que usualmente a empresa avalia se o candidato irá se adequar a esta cultura. "A entrevista hoje vai além de conhecer a trajetória do profissional e as atividades desenvolvidas: ela já auxilia no processo de identificação do perfil deste profissional e se está alinhado às necessidades da organização. Perguntas que envolvam comportamentos éticos e pessoais são cada vez mais comuns nos processos seletivos."
Araújo analisa que a cultura de outros países latinos é mais semelhante à brasileira. "São mais amigos e emotivos, enquanto o europeu é mais rígido, frio e ligado a números. O americano mistura ambos. É focado em resultados, mas não é tão frio quanto o europeu, nem tão emocional como latino". Segundo ele, isso deve guiar o comportamento do trabalhador. "Se a cultura é mais rígida, não adianta ter foco em um relacionamento com contato. Ele não vai ter retorno."
Araújo diz que é importante que o trabalhador saiba também se seus valores não estão muito distantes do da empresa. "Ele pode se adaptar a um ou outro valor e se controlar diante de uma interferência cultural, mas se são valores muito diferentes o ambiente de trabalho pode ser muito desgastante. Ele acaba tendo de se controlar demais."
Em seu trabalho, Brigitte busca ser séria e pontual. "Na cultura alemã pontualidade é essencial. É algo muito negativo deixar seu chefe esperando. Por outro lado na sala de reunião é possível discordar de forma veemente. Ninguém vai levar para o lado pessoal."
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