O efeito Darth Vader no trabalho de um líder

Mais do que saber mandar, um líder precisa saber fazer

Tem uma cena ótima em Star Wars (Entre tantas, é claro). Já disse isso e repito: Star Wars não é filme, é alta literatura – especialmente o episódio V, O Império Contra Ataca. Olha, se você não gosta de Star Wars, bom sujeito não é… Bem, a cena a que me refiro está no episódio IV, A New Hope, o primeiro a ser lançado, em 1977, que aqui no Brasil conhecemos apenas como Guerra nas Estrelas.

É assim: tem uma hora que Darth Vader decide parar de mandar e vai lá fazer. Diz para os caras prepararem a sua nave de ataque, o seu caça particular, e vai ele mesmo para o pau. Ele é tido como o melhor piloto da galáxia. E naquele momento ele sente que o trabalho requer a sua atuação pessoal e direta. Não é o caso de mandar alguém, é o caso de ir ele mesmo lá encarar a bucha. Então ele sai do estratégico e vai para o operacional, sai do quartel general e vai para a trincheira. E prova na prática tudo aquilo que se diz dele em teoria. Entre tantos arquétipos fenomenais, entre toda a mitologia repassada em Star Wars, está aí um paradigma fundamental: só pode mandar quem sabe fazer, só é respeitado quem, na hora H, sabe fazer melhor do que os outros e prova isso no dia a dia, metendo a mão na massa quando necessário e mostrando, para quem quiser ver, como é que se faz.

Há uma beleza muito grande nessa construção. Chefe tem que saber falar. Mas tem que saber agir. E tem que provar sempre que necessário por que é chefe. Ou seja: tem que mostrar que sabe fazer, não apenas mandar, e que está naquela posição por competência técnica, porque é melhor do que os seus subordinados. Um diretor de redação tem que fazer uma reportagem melhor do que o seu melhor repórter, nem que seja lá de vez em quando, só para relembrar os bons tempos ou para mostrar, inclusive para si mesmo, que ainda está em forma. Um diretor comercial tem que fazer um speech de vendas melhor do que o seu melhor executivo. E assim por diante. Há algo de mágico quando o chefe veste a chuteira, entra em campo e… encanta. Ninguém é melhor piloto de guerra do que Anakin Skywalker – e ele prova isso toda vez que é preciso. Lembro muito bem de Falcão, um dos maiores volantes de todos os tempos, hoje comentarista da TV Globo, como técnico da Seleção no começo da década de 90, mostrando para os boleiros como é que se pega um rebote de fora da área, em treino na Granja Comari. Chutava com os dois pés. E guardava bola após bola no mesmo ângulo de Taffarel. Isto é poder, meu rapaz. (Sim, essa frase é de Thulsa Doom, em Conan, na interpretação do grande James Earl Jones, que, aliás, foi quem emprestou voz a Darth Vader.)

Diga-se que não raro o grande talento de um chefe é contratar gente melhor do que ele. Mas quando, além de atrair para a sua equipe os melhores gatilhos do Oeste, o chefe também é aquele que saca mais rápido, faz-se a luz, uma luz muito bonita.


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