As câmaras de comércio internacionais vem registrando, há alguns anos, o interesse crescente dos empresários locais em se firmarem no mercado brasileiro. O apetite dos estrangeiros pelo Brasil é tanto, que nem o abalo causado pela crise financeira mundial parece te-lo diminuído. Ao contrário, o bom desempenho da economia brasileira pós-crise colaborou para que o nível de atratividade se mantivesse elevado.
A Câmara de Comércio Brasil - Alemanha, por exemplo, registrou em 2007 cerca de 4200 empresas alemãs procurando informações sobre o mercado brasileiro. No ano seguinte este número saltou para 5500 e, em 2009, o ritmo continua alto, com 3000 sondagens somente até julho.
Para o diretor de relações econômicas e comércio exterior da entidade, Rafael Haddad, este dado sinaliza uma nova tendência. "A Alemanha é um país tradicionalmente exportador, mas estava focada apenas em China e Estados Unidos; só recentemente passou a olhar para a América do Sul. Com economia estável, o Brasil ganhou um espaço enorme porque a Alemanha precisa de novos mercados", analisa.
Kevin Tang, diretor da Câmara de Comércio Brasil - China, tem a mesma impressão. Segundo ele, após a crise financeira o gigante asiático parou de focar-se apenas no mercado interno para olhar mais para fora. "A crise criou muitas oportunidades com incentivos para a chegada de empresas em diversos países e a China está aproveitando. O mundo todo está com desconto?", brinca o diretor. Tang destaca o Brasil como um mercado "muito complementar" para a China, oferecendo recursos naturais e produtos primários que encontram grande demanda naquele país.
A estabilidade do crescimento econômico nos últimos anos, o aumento de renda da população e as oportunidades ainda não exploradas no mercado interno são pontos favoráveis ao Brasil, de acordo com o diretor vice-presidente da Câmara de Comércio Índia-Brasil, Leonardo Ananda Gomes. "Estes são os principais incentivos à vinda de empresas estrangeiras", afirma. Segundo ele, o interesse dos indianos no mercado brasileiro é bem pulverizado. "Nossos empresários estão percebendo oportunidades nos mais diversos setores. Há interesse no segmento de tecnologia da informação, máquinas pesadas, indústria automobilística e alimentícia, entre outros".
Estabilidade e potencial de mercado
O diretor da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha, Rafael Haddad, diz que o Brasil já chamava atenção mundial antes da crise, por conta da riqueza natural e grande potencial de crescimento. Contudo, agora os investidores estrangeiros estão impressionados com a rapidez de reação do mercado interno. "Sempre disseram que o Brasil é o país do futuro e o futuro chegou. A crise mostrou que tendências de crescimento são realmente sólidas", destaca ele, apostando nos indicadores que mostram recordes históricos no mercado interno, como os da indústria automotiva.
O diretor da Câmara chinesa, Kevin Tang, chama a atenção para outros dois pontos essenciais que fazem do Brasil um destaque: o enorme potencial de consumo, com mais de 100 milhões de pessoas, e o fato do País ser o "gigante da América Latina". "Qualquer empresa que queira chegar ao mercado do continente pensa no Brasil, que é a porta de entrada da região", argumenta.
Sondando o terreno
As câmaras comerciais sentem um terreno fértil para os próximos anos, impulsionado pela oferta de crédito e isenções fiscais no Brasil. "A China enxerga este mercado com muito bons olhos", diz Tang. Para Haddah, a chegada de mais empresas alemãs no Brasil deve intensificar ainda mais o interesse externo. "Todas as companhias alemãs que sondaram o mercado interno ficaram impressionadas com o potencial. Certamente, com a vinda de algumas este fluxo se intensificará". Gomes concorda: "A entrada de grandes empresas indianas no Brasil deverá atrair a atenção de inúmeras outras".
Entre as sondagens do mercado interno em andamento estão duas companhias alemãs do setor de bens de capital, que pretendem montar fábricas no Brasil em alguns anos. Já Tang destaca empresas chinesas das áreas de siderurgia, mineração, petróleo e gás e telecomunicações. "Além, claro, da indústria automotiva da China", complementa ele.
Gomes lembra que a parceria e a semelhança entre Brasil e Índia já é grande, com diversas empresas indianas no Brasil como Tata Consultancy Services, ArcelorMittal, Core Healthy Care e a Tata Motors, em parceria com a Fiat. E esta afinidade entre Brasil e Índia deve crescer nos próximos anos. "Com o aumento da significância e importância da participação de blocos como o BRICS e o G-20 em grandes fóruns econômicos mundiais, a Índia, o Brasil e outros grandes países emergentes serão essenciais para a recuperação da economia e organização da nova ordem econômica mundial", assegura. Segundo ele, nos próximos anos devem se instalar no Brasil, vindas da Índia, uma grande companhia de tecnologia da informação e algumas empresas de siderurgia, com fábricas e estruturas locais.