Sem derrapar no organograma
Dá mais trabalho, mas é possível sobreviver nas empresas que adotam o modelo matricial de gestão. Saiba como!
Conviver com dois chefes faz parte da rotina de Ricardo Miranda, de 38 anos, diretor de TI da fabricante de pneus Pirelli na América Latina. Por ser uma área de apoio à operação local, Ricardo se reporta ao presidente regional. Mas também presta contas ao diretor mundial de informática, que fica na Itália, para garantir que os sistemas de informação brasileiros sigam os padrões da matriz. O modelo de gestão da Pirelli, chamado de matricial, já é a regra nas multinacionais e começa se tornar comum em empresas brasileiras, que o adotam em busca de eficiência na gestão. Entre os exemplos nacionais, estão a São Paulo Alpargatas, fabricante das sandálias Havaianas, e a construtora Odebrecht.
O modelo matricial tem como objetivo aumentar o controle do negócio. Sua principal característica é criar uma estrutura de comando cruzada, em que as atividades de um executivo são supervisionadas por mais de um chefe normalmente, um generalista e um especialista. Para a empresa, as vantagens são uma gestão mais transparente e a capacidade de realizar atividades complexas, que exigem a integração de áreas distintas. A fórmula só funciona, no entanto, em empresas maduras, em que a comunicação entre os gestores acontece sem barreiras. A desvantagem aparece exatamente aí: na gestão das pessoas.
Quem trabalha nesse tipo de organização pode ter a vida transformada em um inferno. Por causa da pouca autonomia para os executivos, ocorrem disputas de poder e, muitas vezes, as informações não batem. E responder a dois chefes, especialmente se eles não se entendem, pode ser o caos para a carreira. Sempre tem um executivo que quer mandar nos outros, diz Karin Parodi, sócia-diretora da consultoria de carreira Career Center. A tendência é que a organização matricial se consolide como o modelo predominante. A gestão em que cada um manda no seu pedaço e há pouca integração entre as áreas não atende mais à atual exigência de alta performance, diz Eduardo Vasconcellos, professor da FEA-USP. A seguir, seis sugestões para sobreviver ao desafio de trabalhar nesse modelo de gestão.
1- Poder não é autonomia
Não encare a gestão matricial como perda de poder. O que você perde é a autonomia de fazer tudo como bem entende, afirma Thiago Zanon, líder da área de talentos e mudança organizacional da consultoria de RH Hewitt Associates. Tentar manter o poder mudando de emprego não vai funcionar. A melhor saída é se adaptar a essa dinâmica.
2- Mudar de área é normal
Uma das características da estrutura matricial é organizar a força de trabalho por projetos, e não por departamentos. Por isso, leva vantagem quem não se incomoda em mudar de área e de função com certa freqüência. Esteja aberto para aprender a trabalhar em diferentes tipos de oganização, recomenda Karin Parodi, do Career Center.
3- Colaboração em alta
Para evitar disputas de poder entre chefes, as organizações dão mais valor aos líderes colaborativos, mais abertos a dividir o comando, a aceitar pares e a trabalhar em equipe. Há pouco espaço para o individualismo em organizações matriciais. Esteja preparado para discutir os meios, e não apenas o resultado final, diz Thiago Zanon.
4- Evite os conflitos
As empresas sabem que os conflitos de autoridade costumam ocorrer em estruturas matriciais. Na hora de apresentar resultados, procure saber quem é responsável pelo o quê. Se entrar em uma
disputa de poder com um colega, procure um profissional da organização que possa arbitrar o conflito. E se você estiver no meio de um tiroteio entre chefes? Seja transparente com os dois, não tome partido e não cumpra ordens de um sem informar o outro, diz Thiago, da Hewitt. Essa situação é complicada, mas ocorre.
5- Peça aumento para os dois
Para quem pedir aumento quando se tem dois chefes? A resposta é: para ambos. Normalmente, existe um líder formal, que segue a hierarquia tradicional da empresa e assina a sua promoção. Mas o outro chefe, que comanda uma área específica ou gerencia um projeto do qual você participa, também pode, e deve, reconhecer seus méritos. Aliás, algumas empresas têm mecanismos para recompensar as pessoas de acordo com o desempenho em atividades temporárias.
6- A pressão vai aumentar
O nível de cobrança em estruturas matriciais tende a ser alto. Afinal, se administrar a pressão de um chefe pode ser complicado, imagine ter de responder aduas ou mais pessoas. Só consegue sobreviver numa estrutura matricial quem suporta bem a pressão, diz Eduardo Vasconcellos, da FEA-USP. Não é preciso reportar tudo aos dois comandos. Cada chefe terá interesse nas informações sobre sua atividade. Prepare-separa gastar mais energia nas explicações, isso sim, diz Karin Parodi.