Foto: Divulgação
A indústria de mineração passa por crescimento rápido e busca centenas de engenheiros, geólogos, financeiros e gente da área ambiental
A equação das mineradoras brasileiras atualmente é simples de entender: nos últimos cinco anos, o aumento da demanda por minérios para atender às indústrias chinesa e indiana, principalmente impulsionou o setor.
O resultado veio rápido: com pouca oferta ainda para o tamanho da procura, os preços subiram e as mineradoras brasileiras passaram a mostrar sinais do aquecimento do mercado.
A tonelada do ferro, o metal mais negociado, subiu 192% desde 2002. E a previsão é que, nos próximos quatro anos, o setor receba investimentos de 29 bilhões de dólares e abra milhares de vagas, mais de 700 delas para cargos de liderança.
"Estamos vivendo um superciclo agora com a melhoria contínua de preços", diz Cláudio Pitchon, vice-presidente executivo de operações estruturadas para o setor de metais e mineração do banco WestLB. A verba será investida na capacitação e ampliação de minas onde há operação, localizadas basicamente em Goiás, Minas Gerais, Pará e Bahia, alguns dos principais produtores de minério do país.
Grande parte dos investimentos será mesmo na exploração do ferro, que receberá uma fatia de 48,2% do total. Em seguida vem a bauxita, a alumina e o alumínio (25%), e o níquel (15%), segundo o Instituto Brasileiro de Mineração.
Além dos altos investimentos das empresas que já operam, uma empresa nova, a Logicore, vai investir 300 milhões de dólares na exploração de manganês em jazidas no estado de São Paulo.
"As previsões para os próximos anos confirmam os sinais que surgiram nos primeiros meses de 2007, quando as mineradoras começaram a contratar mais fortemente para desenvolver seus projetos de expansão. O mercado já está aquecido", diz Marcelo Mariaca, sóciodiretor presidente da Mariaca, consultoria especializada em recrutamento de executivos, de São Paulo.
"A criação de vagas deve ser principalmente nas áreas de operação e logística, diretamente ligadas ao negócio dessa indústria. Em seguida vem a área financeira", diz João Lins, sócio da consultoria de alta gestão PricewaterhouseCoopers, com sede em São Paulo.
"Só a Vale, a maior do país e segunda mineradora mundial, deve abrir 300 novos postos em breve. São vagas de coordenação para cima", diz Cíntia Magno, coordenadora de seleção e carreiras da companhia. A empresa vai investir US$ 11 bilhões em 2008, globalmente.
Educação em Alta
Quem aproveitar a onda de escassez de mão-de-obra nas mineradoras deve se beneficiar das oportunidades de desenvolvimento. Parte dos investimentos das empresas será feita em treinamento e educação dos funcionários.
No Grupo Anglo American, com sede em Londres, na Inglaterra, engenheiros e geólogos, os principais profi ssionais buscados pelas mineradoras atualmente, têm a oportunidade de passar pelo programa de liderança para jovens talentos, na África do Sul, onde a empresa nasceu.
"Temos programas de desenvolvimento gerencial e os escolhidos participam de treinamento em outros países", diz Cristina Isola, gerente de recursos humanos do grupo, que tem subsidiária no Brasil e projetos em Goiás e São Paulo.
No próximo ano, a Anglo American deve contratar 750 pessoas para um de seus projetos, em Barro Alto (GO), em que vai investir 1,2 bilhão de dólares. Entre essas contratações, 150 devem ser para o nível executivo.
O paulista José Rodrigues Junior, de 27 anos, coordenador de processos e produção da planta de Niquelândia (GO), passou recentemente pelo treinamento fora do Brasil. Apenas um ano e meio depois de ter entrado no grupo como trainee, em 2003, o engenheiro metalúrgico foi convidado a ocupar um cargo de liderança, como chefe de operação de fornos, à frente de 120 funcionários.
Há três meses, assumiu a primeira coordenação e precisa desenvolver habilidades de gestão de pessoas, o que também está incluído no programa de jovens talentos. As habilidades pessoais chegam a ser mais importantes do que as qualificações técnicas. "Tenho que ter humildade para aprender com os subordinados", diz José.
Os perfis desejados
Uma das dificuldades para empregar gente na área está ligada à qualificação apropriada para o mercado. As escolas não formam tantos engenheiros de minas hoje. Há alguns anos, os setores de minas e metalurgia geravam poucas oportunidades, o que está mudando agora, mas ainda não há tanta gente disponível no mercado, diz Luiz Chaves, diretor de desenvolvimento humano da Votorantim Metais, que vai precisar de profissionais para preencher as cerca de 2 000 vagas a serem criadas nos próximos dois anos cerca de 10% delas nas lideranças das áreas.
Além da formação, para as vagas de coordenação das operações nas minas, no beneficiamento de minério, em logística e em áreas portuárias algumas das atividades do negócio de mineração , as mineradoras buscam gente com capacidade de organizar operações em localidades tão diferentes quanto Minas Gerais e Pará.
Profissionais com flexibilidade e capacidade de entender culturas diferentes. Também estão nessa lista de características a capacidade de planejar, liderar um time e ter foco em resultados sustentáveis.
"O executivo precisa saber lidar com diferentes tipos de pessoas e adaptar-se rapidamente às mudanças porque pode ser transferido de São Paulo para o Amazonas em um curto espaço de tempo. Ou do Brasil para outro país, já que as operações das mineradoras se tornam cada vez mais globais", diz João Lins, da PricewaterhouseCoopers.
"Já coordenei equipes de 10, 500 e até 10 000 empregados em lugares no Nordeste e no Sudeste", conta Jayme Nicolato, de 43 anos, diretor de minas da Companhia Siderúrgica Nacional.
Gente com formação em engenharia civil, de minas e metalurgia, por exemplo ou geologia tem prioridade para a gestão desses negócios. Claro, com a falta de profissionais no mercado, quem está em elos um pouco mais distantes da cadeia produtiva, como é o caso das indústrias automobilísticas, de autopeças e maquinário, também pode entrar no perfil, diz Fábio Pereira, gerente da divisão de engenharia da Michael Page, especializada em recrutamento de executivos, de São Paulo.
Profissionais da área financeira estão logo abaixo na lista de procurados, já que as empresas devem lidar com fusões e aquisições, busca de capital em grande volume e relações com investidores.
Também está mais perto do perfil quem vem de indústria de capital intensivo, mesmo de outros setores, diz Fábio. Por fim, a indústria de mineração deve abrir vagas para as áreas administrativa e de recursos humanos para lidar com esse crescimento e considerar a gestão ambiental.
O setor é considerado poluidor e precisa lidar com as interferências que causa no meio ambiente, sob pena de ver sua imagem prejudicada no mercado.