Recondicionar ao invés de trocar

Com o desenvolvimento de ferramentas cada vez mais sofisticadas tecnologicamente, e em termos de geometria, tornou-se complexo o trabalho de sua manutenção. O gerenciamento dos processos de produção tornou-se o foco principal. Por isso, apesar de ferramentas trabalhando corretamente e com eficiência serem fundamentais para manter o ritmo de produção das máquinas e garantir a qualidade dos produtos, consumir tempo, energia e recursos internos para mantê-las sempre em boas condições foi se tornando cada vez mais inviável.

Por conta disso, a maioria das fábricas que utilizam ferramentas em máquinas de usinagem ou não, prefere confiar o processo de afiação e recondicionamento de brocas, fresas, serras e outras a empresas especializadas nesse tipo de serviço. “Há cerca de dez anos, as grandes empresas do mercado faziam a própria reafiação de suas ferramentas. Mas depois passaram a terceirizar esse serviço.

Mesmo porque não tinham como recobrir as ferramentas”, diz Clayton Paulino, supervisor da unidade da Tool Services, empresa que presta serviços nas áreas de recondicionamento e gerenciamento de ferramentas.

A Tool Services prefere chamar o processo de afiação de ferramentas de “recondicionamento” pois, segundo Paulino, a empresa “garante o rendimento das ferramentas como se fossem novas, com a mesma geometria, inclusive com a cobertura original”.
Passam pelo processo de recondicionamento qualquer ferramenta rotativa, que é o foco principal da empresa. São brocas, fresas, ferramentas de perfil, machos, etc.

A empresa é dedicada única e exclusivamente ao recondicionamento de ferramentas e produz cerca de 6 mil ferramentas por mês, sendo que as brocas inteiriças de metal duro representam 75% da produção total.

Quando as ferramentas chegam à empresa, o processo de recondicionamento é iniciado com uma análise de suas condições para se decidir qual o melhor procedimento para o recondicionamento ou recuperação. O trabalho é realizado na fábrica da Tool Services, em Jundiaí, São Paulo, por meio de cinco máquinas afiadoras CNC gerenciadas por um corpo técnico especializado.

A figura abaixo mostra o processo de reafiação.

Usam-se programas CNC originais, utilizados na fabricação dos diferentes tipos de ferramentas. O resultado final as aproxima ou até mesmo as iguala às ferramentas novas. Um serviço prestado também pela empresa, que segundo Paulino constitui-se em um diferencial, é o chamado Tool Box:

“Para os clientes que utilizam nossos serviços regularmente, deixamos uma caixa especial para transporte onde são colocadas as ferramentas que precisam ser recondicionadas. Toda semana pegamos a caixa e deixamos uma outra com ferramentas já prontas para a reposição”.

Para os clientes que utilizam com mais freqüência os serviços de recondicionamento, a retirada e entrega das ferramentas pode ser feita pela Tool Services. As peças são acondicionadas em caixas plásticas apropriadas para o transporte. Em situações especiais, a Tool Services mantém unidades de recondicionamento dentro de fábricas, o que ocorre na Cummins, em Guarulhos, e na Volkswagen, em São Carlos, ambas no estado de São Paulo.

A Dormer Brasil, empresa do grupo Sandvik e que produz localmente uma linha completa de ferramentas rotativas integrais em aço rápido e metal duro, especial e standard, também presta serviços de recondicionamento de itens de sua linha de produtos, utilizando os serviços da Tool Services.

De acordo com o gerente Técnico e de Treinamento da empresa, Marcos Soto, as ferramentas da Dormer são recondicionadas com a geometria original de fábrica, garantindo o seu rendimento. “Quanto mais a geometria das ferramentas evolui para oferecer ao cliente o melhor desempenho e, portanto, uma redução de tempos e custos, mais é preciso cuidar para que essa geometria seja reconstituída depois da ferramenta atingir o desgaste máximo”, diz Soto.

De fato, a simples reafiação sem o restabelecimento da geometria pode fazer com que o cliente não tenha o mesmo custo-benefício de uma ferramenta nova. “Com o recondicionamento, a broca terá rendimento similar à nova; velocidade de corte e avanço também são mantidos”, diz o gerente da Dormer. O recondicionamento das ferramentas fabricadas pela empresa é realizado pela Tool Services nos mesmos tipos de máquinas que as produziram originalmente.

Marcos Soto explica que o desgaste natural das ferramentas encontra um limite, determinado pelas próprias características de utilização e pelo critério de troca adotado no processo. Esse limite não deve ser ultrapassado, para que a ferramenta não desgaste demais ou quebre, inclusive podendo danificar a peça que está sendo usinada. Esse seria o ponto ideal para a ferramenta passar pelo recondicionamento.


No entanto, afirma Soto, as ferramentas não podem ser reafiadas e recobertas indefinidamente. “Ferramentas têm um comprimento útil e algumas limitações em relação à própria geometria que impedem de se ultrapassar um número certo de recondicionamentos, as sucessivas recoberturas têm limite”, diz.

A quantidade de vezes que poderá ser recondicionada vai depender de onde e como é utilizada. “Se, por exemplo, é aplicada em um determinado material cujo desgaste provocado na aresta de corte é relativamente elevado, e se é preciso remover da ferramenta grande volume de material quando na reafiação para depois ser recoberto, a vida útil da ferramenta é menor”.
Soto recomenda que as ferramentas não passem por mais de 3 ou 4 vezes pelo processo de recondicionamento e recobrimento, em média. No entanto, acrescenta, há um grande número de variáveis que interferem na decisão.

Existem casos que, pela complexidade da usinagem, configuração da ferramenta , tolerância da peça, etc., “apenas um recondicionamento já garante ao cliente o custo-benefício, podendo depois ser descartada”.

A Dormer tem realizado com mais frequência o recondicionamento de ferrametas inteiriças em metal duro, “o que não quer dizer que não recondicionemos ferramentas em aço rápido, desde que justifique o custo-benefício”, finaliza Soto.

De acordo com Wilson Osmar D’ Agostini, proprietário da Arwi, sediada em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, “o recondicionamento é feito quando as ferramentas se desgastam e também quando quebram, deixandoas quase iguais às originais. Uma broca tem condições de readquirir até 90% de sua capacidade depois do recondicionamento, a um custo que pode ser de até 10% aquele de uma nova”.

Segundo D’Agostini, os custos do serviço variam de acordo com o tipo de ferramenta que será recondicionada. “As brocas escalonadas de metal duro ou aço rápido com vários diâmetros, e as fresas com perfil em metal duro são as que apresentam maior complexidade”, afirma. A reposição de cobertura das ferramentas, porém, é cobrada separadamente.

Os tipos de ferramentas mais viáveis para o recondicionamento, segundo o proprietário da Arwi, são as brocas de metal duro escalonadas, as fresas de metal duro e alargadores.

Quase todos os clientes enviam as peças que precisam de recondicionamento para a sede da Arwi. No entanto, a empresa lança mão de uma unidade in company de afiação de ferramentas para atender algumas empresas, como a unidade fabril 5 da Agrale, localizada em Caxias do Sul.

Com a constante pressão que sofrem as empresas do setor automotivo por custos progressivamente menores, a terceirização dos serviços de recondicionamento e reafiação de ferramentas torna-se uma solução viável para as que precisam concentrar esforços em seu “core business” e um negócio próspero para os prestadores de serviços que apresentarem competência técnica e comercial para atender tal demanda.

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