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O ano começou com mais um grande movimento de consolidação entre empresas fornecedoras de sistemas automotivos, motivado pelo tsunami de eletrificação veicular que afeta profundamente os planos e investimentos da indústria nesta próxima década. A BorgWarner anunciou na manhã da terça-feira, 28, que fechou acordo para comprar a Delphi Technologies, em uma transação acionária estimada em US$ 3,3 bilhões. As empresas esperam concluir o negócio no segundo semestre deste ano, que ainda depende de aprovação dos acionistas e órgãos de regulação de mercado.
As empresas fornecem produtos complementares e em 2019 apuraram faturamento líquido combinado de quase US$ 15 bilhões (US$ 10,2 bilhões da Borg e US$ 4,4 bilhões da Delphi). Conforme comunicado distribuído na terça-feira, as diretorias das duas companhias aprovaram um modelo de aquisição em que os acionistas da Delphi vão receber para cada papel uma taxa fixa de 0,4534 ação da BorgWarner. Ao fim dessa operação, a estimativa é que os acionistas da Borg terão 84% da empresa combinada, enquanto os acionistas da Delphi ficarão com 16%.
Ainda segundo o mesmo comunicado, o potencial de sinergias de compras e racionalização de despesas entre as duas empresas deverão gerar economia extra de US$ 125 milhões até 2023, sem afetar os programas de aumento de eficiência redução de custos já em curso em ambas as corporações atualmente.
Com fábricas instaladas em 67 endereços de 19 países, empregando aproximadamente 30 mil pessoas no mundo todo, a BorgWarner é sediada em Alburn Hills, cidade do entorno de Detroit, tradicional polo automotivo dos Estados Unidos, em Michigan. Com sede fiscal em Londres, na Inglaterra, a Delphi opera unidades industriais em 24 países e tem 21 mil empregados. Após o fechamento da aquisição, a companhia passa a ser comandada pela atual diretoria da BorgWarner, incluindo o presidente e CEO Frédéric Lissalde e o chefe financeiro (CFO) Kevin Nowlan, ambos sediados em Alburn Hills.
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Consolidação rumo à eletrificação
A aquisição vai de encontro à estratégia da BorgWarner em aumentar substancialmente seu portfólio de produtos destinados a veículos híbridos e elétricos. Tradicional fabricante de componentes e sistemas para motores de combustão interna, como turbocompressores, correntes de sincronismo, embreagens viscosas de ventilação e transmissões, nos últimos anos a companhia começou a desenvolver produtos voltados à eletrificação veicular, como motores elétricos e baterias.
Também foi as compras para ampliar os negócios. A última grande incorporação foi em 2015, quando comprou por US$ 950 milhões a Remy, que faz motores de partida e alternadores. No ano passado, tornou-se sócia da Romeo Power, da Califórnia (EUA), para fabricar montar seus próprios bancos de baterias.
O negócio anunciado na terça-feira vai na linha de criar um fornecedor com ampla gama de tecnologias de propulsão para veículos elétricos, híbridos e com motor a combustão, aumentando o conteúdo fornecido por carro. A aquisição da Delphi trará para o portfólio da BorgWarner boa quantidade de eletroeletrônicos, como inversores de alta voltagem para recarga de veículos elétricos, recarregadores internos e sistemas de gerenciamento da carga de baterias, incluindo programas (softwares), integração de sistemas e gerenciamento térmico.
“Esta transação representa o próximo passo na estratégia da BorgWarner de oferecer soluções balanceadas de propulsão, fortalecendo nossa posição tanto em tecnologias de eletrificação como para os negócios de motores a combustão, veículos comerciais e aftermarket”, afirmou Frédéric Lissalde, CEO da BorgWarner.
Será igualmente agregado à lista combinada de produtos das duas empresas os componentes para motores a combustão da Delphi, como injetores e bombas de combustível, com fornecimento já consolidado para montadoras e mercado de reposição de veículos de passageiros e comerciais leves e pesados.
“Estamos confiantes que esta transação trará valor a todos os nossos stakeholders (acionistas, empregados, fornecedores e clientes). A Delphi tem um portfólio amplamente complementar ao da BorgWarner. Juntos, planejamos criar uma companhia pioneira de tecnologias de propulsão para fabricantes de veículos e clientes do aftermarket em todo o mundo”, disse Richard Dauch, CEO da Delphi Technologies.
A Delphi Technologies é uma das duas empresas que se originaram da antiga Delphi Automotive em 2017, quando suas duas grandes áreas de negócios foram separadas e transformadas em duas empresas independentes (a outra corporação surgida dessa divisão foi a Aptiv, especializada em arquitetura eletroeletrônica e sistemas de assistência avançada, que não está envolvida no negócio com a Borg).
Prenúncio em Frankfurt
Não se sabe há quanto tempo BorgWarner e Delphi Technologies estão negociando a fusão, mas parece que o presidente de uma empresa pode ter ouvido o discurso do CEO da outra no Salão de Frankfurt, realizado em setembro passado na Alemanha.
Estreando no evento após a separação da Aptiv, a Delphi montou seu estande bem ao lado do da Borg, e a coletiva para a imprensa da primeira foi meia antes da segunda. Não que os jornalistas desconfiassem do negócio, mas os presidentes das duas empresas fizeram comentários bastante alinhados com uma possível união de esforços na rota da eletrificação que tomou conta de todos os espaços do salão alemão.
“Vamos rapidamente nos tornar um mundo de mobilidade elétrica. Mas temos concorrentes de peso nessa área, como Denso, Hitachi e Continental, por isso temos a estratégia de girar em torno da eletrificação”, disse Rick Dauch, CEO da Delphi, como que antevendo a estratégia de complementariedade para competir no mundo de veículos elétricos.
Meia hora depois, foi a vez Frédéric Lissalde, o CEO da BorgWarner, falar aos jornalistas: “De todas as tendências disruptivas desta indústria, a eficiência de propulsão é a mais importante delas. A eletromobilidade tem a ver com eficiência. A meta é rodar mais com menos carga de baterias. Para entregar isso aos clientes precisamos ter o domínio de todo o ciclo da eletrificação do powertrain. Estivemos por muitos anos aumentando a eficiência dos motores térmicos, vamos fazer o mesmo com os elétricos”. Bem ao lado, no estande da Delphi, estavam alguns dos elementos para dominar “o ciclo da eletrificação” veicular.
Como a BorgWarner passará a controlar a Delphi, nos próximos salões é provável que mais elementos da eletrificação estejam unidos em um só estande, em uma aparente sinergia de custos que a aquisição trará.
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