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Os investimentos do setor produtivo ainda vão demorar algum tempo para sair do papel, mesmo se a economia brasileira reagir nos próximos meses. Atualmente, com mais de um terço da capacidade produtiva ociosa, as empresas conseguem facilmente atender a um aumento de demanda sem a necessidade de ampliar a produção. Em resumo, isso significa que a saída da crise será mais lenta e dolorosa.
Os novos projetos, como a construção de fábricas, só devem ser desengavetados em pelo menos dois anos. Os números da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que, neste ano, as empresas trabalham com o uso da capacidade instalada de 64%. É o menor índice da série histórica iniciada em 2001. A lista de setores mais prejudicados pela queda na demanda é liderada por veículos automotores, equipamentos de transportes, químico e máquinas e equipamentos.
“Num cenário com ociosidade tão grande, é difícil pensar em recuperação dos investimentos. No ciclo de retomada, primeiro as empresas usam a capacidade instalada e depois, se houver melhora no cenário e nas expectativas, pensam em ampliar a produção”, afirma o economista da CNI, Marcelo Azevedo. Segundo ele, no entanto, as projeções futuras não são nada animadoras uma vez que as incertezas políticas e econômicas devem continuar a turvar a confiança dos empresários.
A Sondagem de Investimento, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), vai na mesma direção. No levantamento do segundo trimestre, apenas 16,2% das empresas planejavam aumentar os investimentos. Segundo o levantamento, 69,1% das companhias encontram limitações para realizar novos projetos.
As principais dificuldades apontadas pelos empresários são incerteza com relação à demanda, limitação de recursos e carga tributária elevada. “O fator incerteza está sendo muito relevante, podendo levar a revisões de planos das empresas com mais frequência do que ocorria no passado”, diz Aloisio Campelo, superintendente adjunto de ciclos econômicos do Ibre/FGV.
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Recuo
Com a demanda enfraquecida e a confiança em baixa, a taxa de investimento do País, que já é menor quando comparada a de outros concorrentes, recuou uma década. Dados da Tendências Consultoria Integrada mostram que, em 2016, a formação bruta de capital fixo recuou para 16,9% do PIB, bem abaixo dos 20,9% de 2013, uma das maiores taxas que o País já teve nos últimos anos.
Considerada fundamental para a retomada consistente do crescimento econômico, a taxa de investimento não deve ter grandes avanços nos próximos anos. Na melhor das hipóteses, o Brasil retomaria o nível de 2013 em 2019, afirma o economista da Tendências, Rafael Bacciotti. Segundo ele, no entanto, a consultoria trabalha com um cenário básico de recuperação apenas em 2025.
Sem caixa
Outro efeito da elevada ociosidade é a piora da saúde financeira das empresas. Com caixa debilitado, sem crédito e endividadas, muitas empresas estão sem dinheiro até para o capital de giro, o que afasta a possibilidade de novos investimentos. “Nos últimos anos, houve um período muito difícil do ponto de vista da rentabilidade das empresas”, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “Isso prejudica a recuperação econômica por meio da retomada de investimentos”.
Uma das consequências dessa fragilidade das empresas pode se refletir na redução de mercado. Com faturamento menor, as companhias afetadas pela crise podem perder competitividade e, consequentemente, ser superadas por concorrentes, segundo José Ricardo Roriz, diretor do Departamento de Competitividade da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O setor cerâmica, por exemplo, deve perder o posto de segundo maior produtor mundial para a Índia neste ano. As empresas, afetadas pela retração do mercado imobiliário e varejo de construção, operam com 70% da capacidade instalada.
O superintendente da Anfacer, associação do setor, Antonio Carlos Kieling, afirma que, com sorte, o setor só vai cair 7% neste ano. “Com taxa de crescimento médio de 5% ao ano desde 2010, as empresas investiram pesado em novas linhas de produção. O resultado é que agora temos fábricas que ficaram prontas em 2015 e estão fechadas por falta de demanda.”
Situação delicada também vem enfrentando o setor de máquinas e equipamentos. Com a paralisia dos investimentos, a produção caiu em média 20%. Mas em algumas áreas a atividade despencou 50%, como o de empresas que forneciam para a Petrobrás. “Mesmo que as coisas entrem nos eixos em Brasília, não prevejo nenhuma melhora sensível até 2018”, afirma o diretor de competitividade da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mario Bernardini.
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