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Os investidores em energia elétrica no Brasil já pedem retornos maiores devido à deterioração do cenário macroeconômico e riscos específicos, como uma perda bilionária de faturamento pelas hidrelétricas devido à seca dos últimos dois anos, afirmaram à Reuters especialistas em financiamento do Banco Santander.
Com isso, há uma expectativa de elevação de preço nos leilões para a contratação de novos empreendimentos de energia.
"Eu diria que é muito difícil você ver um investidor que resolva seguir em frente sem ter contemplado na tarifa um retorno que reflita uma participação menor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e um pedaço das incertezas que estão no mercado agora", afirmou o chefe de Project Finance do Santander, Diogo Berger.
Parte da revisão de expectativas no setor se dá pela dificuldade que muitas empresas que venceram leilões de energia passados enfrentam hoje para fechar as contas de seus projetos, dado o forte aumento no custo de captação de recursos no mercado.
"Vários projetos que foram licitados tinham premissas diferentes das atuais e quem sofreu redução do retorno financeiro foi o investidor, que agora está mais calejado... eles vão pedir um retorno maior porque sabem que têm que ter um pouco de gordura para queimar, caso tenham questões futuras de financiamento ou outros fatores", disse o chefe de Energia da área de Project Finance do Santander, Edson Ogawa.
Debêntures incentivadas de infraestrutura, cuja emissão tem sido estimulada pelo BNDES junto aos empreendedores, são vistas como uma alternativa cara de financiamento, e ainda há dúvida sobre o nível de interesse do mercado nesses papéis, dado o elevado número de operações que devem ser lançadas.
A estimativa do Santander é de que cerca de 3,5 bilhões de reais em debêntures de infraestrutura sejam emitidas nos próximos anos apenas por usinas eólicas que venderam energia nos últimos leilões.
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"Existe uma dúvida se há investidores suficientes para comprar papéis nessa ordem de grandeza. O fato é que é um produto relativamente novo", apontou Ogawa.
Ele também disse que, para algumas operações, o custo de captação de recursos via debêntures já seria maior que o retorno dos projetos.
"As empresas entraram em leilões em momentos diferentes, exigindo retornos que eram considerados razoáveis. Mas hoje, com o custo da dívida já próximo de IPCA mais 10 por cento ao ano... fica em uma situação em que o custo da dívida é até maior do que o retorno que o projeto iria dar", explicou.
Hidrelétricas têm novo risco no radar
Os executivos do Santander afirmaram, ainda, que o governo precisará resolver a atual disputa judicial em torno do déficit de geração das hidrelétricas antes de realizar leilões de novos empreendimentos da fonte.
No momento, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e as empresas do setor travam uma disputa em torno de bilhões de reais em prejuízos alegados pelas usinas hídricas devido à seca.
"Sem ter isso resolvido, não faria muito sentido o investidor entrar em um leilão, com esse ponto em aberto. Ele teria que ter uma tarifa muito alta para justificar tomar esse risco sem saber as consequências", explicou Ogawa.
O próximo certame para a construção de novas hidrelétricas está agendado para janeiro de 2016.
O presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, disse recentemente à Reuters que o governo estuda como tratar o risco de seca nas hidrelétricas nas próximas licitações, e que os investidores serão ouvidos para auxiliar na definição.
Os especialistas do Santander destacaram, no entanto, que bancos e investidores deverão manter o interesse por emissões de dívida do setor elétrico, principalmente frente a outros setores da economia.
"Acho que dentro do setor de energia, nesse momento de maior aversão ao risco, os bancos e investidores vão buscar os segmentos que estão mais consolidados e têm menores riscos", disse Ogawa, citando como projetos de transmissão de energia e usinas eólicas entre os favoritos do mercado.
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