Trabalhador bem formado é mais produtivo; Brasil investe, mas fica pra trás

Com cerca de 8 anos de estudos em média, brasileiro está entre os menos produtivos do mundo, dizem especialistas.

Na Coreia do Sul, 65,7% da população entre 25 e 34 anos tem ensino superior completo. No Japão, são 58,6%. Bem distante disso está o Brasil, com apenas 15,2%. Segundo o IBGE, 49,9% dos brasileiros só estudaram até o ensino fundamental.

A escolaridade não é o único indicador a ser levado em consideração, mas explica muito o fato de o Brasil figurar entre os países com as taxas mais baixas de crescimento da produtividade no mundo. Em 2011, por exemplo, um brasileiro produzia, em média, 30% do que produzia um sul-coreano.

O grau de eficiência do Brasil para produzir bens e serviços é baixíssimo comparado aos países desenvolvidos e é o segundo pior da América Latina, ganhando apenas da Bolívia. E nas últimas décadas o Brasil ficou ainda mais distante dos países da fronteira.

“A produtividade no Brasil cresceu muito entre 1950 e 1980, período da industrialização, mas de 1980 até hoje a tendência de crescimento é muito baixa”, observa o especialista em produtividade do Instituto Brasileiro da Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, Fernando Veloso. 

Houve até a retomada de um movimento de aceleração na segunda metade dos anos 2000, que coincidiu com a aceleração do crescimento da economia. Mas, de 2011 para cá, voltou a desacelerar, enquanto a produtividade de outras economias seguiam crescendo.

Segundo especialistas, é impossível ter uma boa produtividade sem investimento em capital humano, tecnologia, inovação, infraestrutura, bom ambiente de negócios, desburocratização e diminuição da carga tributária.

Uma simulação realizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostra que se o Brasil tivesse o mesmo ambiente de negócios do Chile, a produtividade cresceria 11%. Se a melhoria alcance o ambiente de negócios do Japão, cresceria até 29%. “É preciso ter um ambiente que estimule investimentos”, diz o gerente de competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca.


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Para o professor de Inovação e Competitividade da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda, entre as causas do mau desempenho da produtividade está o baixo nível educacional dos trabalhadores.

“Trabalhadores menos qualificados são menos produtivos. As empresas investem em treinamentos, mas não basta. A qualidade da educação tinha que melhorar muito para ter uma mão de obra mais qualificada, e consequentemente, mais produtiva”, avalia.

Outro problema, para Arruda, está na falta de investimentos em inovação. “No Brasil, quando a gente fala em inovação, a prática dominante não é criar uma coisa nova, é melhorar o que a gente já faz. É inovação olhando para o passado. Como sustento minha condição competitiva assim?”. 

Não bastassem os problemas estruturais e conjunturais, o país passa por ajustes fiscais que impacta na produtividade. “Num ambiente de incerteza, os empresários investem menos e isso reduz a produtividade”, diz Veloso, da FGV. 

Para os especialistas, se a produtividade não crescer, o Brasil terá dificuldade, por exemplo,  de sustentar a atual política de salário mínimo. “Não é possível aumentar salário sem que a produtividade suba. Se ela aumenta, quer dizer que o trabalhador produziu uma quantidade maior de produtos e isso permite que ele ganhe mais”, fala Veloso.

China melhorou produtividade ao adotar tecnologias de outros países

Não existe uma receita pronta, mas os especialistas sabem os erros que o Brasil cometeu e que se traduziram em baixa produtividade. Sabem, também, os caminhos para mudar esses resultados. 

Segundo Fernando Veloso (FGV), muita coisa já foi feita para melhorar a produtividade brasileira. O fato dela ter crescido muito pouco mostra o tamanho da dificuldade. Para ele, é preciso melhorar a infraestrutura, a educação, a questão tributária e mexer com isso não é fácil. 

“Reforma tributária se discute desde os anos 90 no Brasil. Educação também. O tempo todo se fala que é ruim e não melhora. São fatores difíceis de mudar. Por outro lado, temos vários exemplos de países que  aumentaram a produtividade em um curto tempo. Nossa produtividade é em torno de 25% da americana”, ressalta.

O fato de estar muito abaixo significa que o país pode adotar tecnologias e métodos de produção  desenvolvidos nos Estados Unidos - e em outros países que já são ricos - para reduzir essa distância rapidamente. 

“Foi o que a China fez e teve um crescimento extraordinário dos anos 80 para cá. Era um país muito pobre e passou pelo processo de industrialização. O Brasil não pode mais fazer isso porque já ultrapassou esta fase, mas a China se beneficiou muito da abertura ao comércio internacional. A Índia também tem tido um crescimento significativo, assim como os países da África. Na América Latina temos o Chile e a Colômbia com um crescimento expressivo de produtividade”, compara o especialista.

Já para Arruda, mais do que adotar tecnologias que dão resultado em outros países, é preciso ter ferramentas próprias. “O que falta é mais investimentos em inovação, que vão gerar rupturas. O setor agrícola brasileiro é altamente produtivo dentro da fazenda, graças a pesquisas e inovação. Falta isso em outros setores”, pontua Arruda.

Ele chama a atenção ainda para a necessidade de o Brasil ter uma agenda combinada do setor público com o setor privado. “Se a empresa precisa de um bom porto, ela tem que participar do processo e investir nesse porto. O mundo faz isso em larga escala. Mas para as empresas fazerem isso elas precisam ter certeza de que as regras vigentes hoje serão mantidas”, avalia.

O problema é que, na avaliação de Arruda (da Dom Cabral), faltam lideranças empresariais que chamem a comunidade empresarial para contribuir com o desenvolvimento do país. “É essa agenda que está faltando, é essa liderança que não está muito em evidência hoje”, afirma.

Brasil tem que melhorar a educação

O Brasil ocupa as últimas posições no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que avalia o desempenho de estudantes de 65 países. No último resultado, divulgado em 2012, o país está na 55ª posição no ranking da leitura, na 59ª em ciências e na 58ª em matemática.

O indicador é só mais um termômetro de que a qualidade da educação brasileira não vai mesmo bem. Segundo Renato da Fonseca, da CNI, as pessoas concluem o ensino médio sem um bom conhecimento em disciplinas básicas.

“Sem isso é muito difícil ser um trabalhador no mundo atual. Você pega um trabalhador numa indústria, você muda o equipamento e a pessoa não tem noção para interpretar um manual”, diz.

Para ele, o trabalhador tem que estar apto às exigências do mundo moderno e isso só é possível por meio da educação. “O trabalhador não é mais aquele que só aperta parafusos. Ele tem que ser perspicaz o suficiente para perceber que há um problema naquele carro e parar a produção para resolver. Um dos grandes problemas do Brasil em relação à competitividade é a educação. A gente não vai resolver isso num curto prazo. Educação se leva, pelo menos, uma geração para resolver”, explica.

País investe 5% do PIB, mas os resultados não aparecem

Enquanto nos países desenvolvidos metade da população tem ensino superior completo, no Brasil, a escolaridade média é em torno de 7,5 a 8 anos de estudo, o que corresponde ao ensino fundamental completo ou um pouco incompleto ainda. 

O Brasil investe hoje mais de 5% do seu PIB em educação. Ainda assim, as escolas não oferecem uma educação de qualidade. “O governo fala há muitos anos em melhoria da qualidade da educação básica, mas a implementação dessa preocupação ainda não está gerando resultados devidos”, pondera Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral.


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