Michelin fecha compra da Sascar

Além de pagar o equivalente a R$ 1,35 bilhão a sócios e investidores da Sascar, a empresa assumirá a dívida de R$ 247 milhões da mesma.

A Michelin anunciou nesta segunda-feira (9) a compra da Sascar, empresa brasileira que presta serviços de gestão de frotas e rastreamento de cargas, na maior aquisição da multinacional francesa em mais de três décadas de presença industrial no Brasil. No negócio, avaliado em R$ 1,6 bilhão, a Michelin vai pagar R$ 1,35 bilhão a sócios e investidores da Sascar, e assumir a dívida de R$ 247 milhões da empresa.

Só o fundo de private equity GP Investments, principal sócio na Sascar há três anos, vai receber US$ 260 milhões (cerca de R$ 580 milhões, com base na cotação de ontem) pela venda de 46% da companhia. A transação passou pela fase de auditoria da Michelin - o chamado due diligence - e será submetida ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A expectativa é que a operação seja finalizada em três meses.

Além de adicionar R$ 280 milhões, ou € 91 milhões, ao faturamento de quase € 1,5 bilhão da Michelin na América do Sul, a aquisição marca a entrada do grupo no mercado de rastreamento de veículos não só no Brasil, mas em todo o mundo.

Segundo Jean-Dominique Senard, presidente global da fabricante de pneus, o investimento consolida um importante eixo de crescimento do grupo, permitindo acelerar o desenvolvimento global de serviços num momento em que a telemática (transmissão de dados dos veículos) avança na gestão das frotas.

O plano, portanto, é internacionalizar a Sascar, levando o novo negócio a outras operações do grupo francês no exterior, a começar por mercados na América do Sul. "A Michelin está presente em 170 países no mundo. Então, temos a possibilidade de expandir esse modelo [de negócio] a outras regiões, principalmente mercados vizinhos", afirma Jean-Philippe Ollier, executivo que comanda a companhia na América do Sul.

Por mais que o monitoramento de veículos possa parecer algo distante das atividades de uma fabricante de pneus, as transportadoras de cargas - que consomem grande volume de pneumáticos e precisam de serviços de rastreamento para garantir a segurança das mercadorias - formam o laço que une a Michelin à Sascar. A empresa adquirida gerencia uma frota de 190 mil caminhões, mas a maior parte de caminhoneiros autônomos ou pequenos frotistas.


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A Michelin, por sua vez, traz ao negócio o relacionamento com as grandes transportadoras, assim como o acesso a seus 300 pontos de serviços dedicados ao atendimento de veículos comerciais, que podem se tornar postos de instalação dos rastreadores da Sascar.

A união abre ainda a oportunidade de vendas cruzadas de produtos e serviços. Transportadoras clientes da Sascar podem, por exemplo, ter descontos especiais na recauchutagem de pneus em postos de atendimento da Michelin. Da mesma forma, a empresa de rastreamento poderá atrelar preços especiais de serviços à compra de pneus da Michelin. São possibilidades que estão no radar, mas que ainda dependem da conclusão do negócio para que sejam levadas adiante.

"A Sascar tem cerca de 18 mil clientes, mas menos de uma centena deles tem frotas com mais de 100 caminhões. Por outro lado, a Michelin tem um relacionamento excepcional com grandes transportadoras de carga e frotas de ônibus. No mínimo, teremos todos esses clientes da Michelin para oferecer nossos serviços", diz Marcio Trigueiro, um dos sócios da GP e presidente da Sascar. Ele seguirá no cargo mesmo depois que a fabricante de pneus assumir a empresa.

Instalada em São Paulo, a Sascar, em receita, cresceu a um ritmo anual médio de 16% nos últimos três anos. Em 2013, sua geração de caixa medida pelo Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de despesas com dívida, impostos, depreciação e amortização) alcançou R$ 106 milhões, marcando crescimento anual de 32% desde 2011, ano em que a GP assumiu a empresa. Incluindo na conta os carros de passeio, a Sascar tem mais de 230 mil veículos rastreados em sua base.


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