A indústria aeroespacial brasileira teve papel de destaque no desenvolvimento do quarto satélite do programa Cbers-3, sigla em inglês para Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, que foi lançado nesta segunda-feira (9), na China (veja
aqui Comunicado Oficial do Inpe sobre a queda do satélite).
No Brasil, 11 empresas forneceram o equivalente a 50% do satélite, que atuará como um importante aliado do governo no monitoramento do desmatamento e de queimadas na Amazônia e no controle da expansão da agropecuária, dos recursos hídricos, do crescimento urbano, da ocupação do solo, entre outras aplicações.
A indústria brasileira, segundo o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Leonel Perondi, foi responsável pelo desenvolvimento da estrutura do satélite, que pesa 2 toneladas, seus sistemas de suprimento de energia, de telecomunicação e de propulsão, duas câmeras, além de parte do computador de bordo.
O valor total dos contratos, envolvendo a produção de componentes para o Cbers-3 e Cbers-4, é da ordem de R$ 540 milhões, informou o diretor do Inpe, metade para cada país. A estimativa do Instituto é que, desde o início da cooperação, em 1988, Brasil e China tenham investido US$ 400 milhões no programa. Só o lançamento, pelo foguete chinês Longa-Marcha, custará US$ 25 milhões. O governo brasileiro arcará com metade do valor.
Perondi disse que, além de contribuir para a popularização do sensoriamento remoto e o crescimento do mercado de geoinformação, o programa Cbers promoveu a inovação na indústria espacial nacional, gerando empregos em um setor de alta tecnologia, estratégico para o país.
O diretor lembra que o satélite está equipado com quatro câmeras, sendo duas brasileiras. "Uma delas foi inteiramente projetada e produzida no Brasil. Essa câmera representa um marco de capacitação para o programa espacial brasileiro, pois é considerado o instrumento espacial mais sofisticado já feito no país", afirmou.
Com 20 metros de resolução, a câmera, conhecida pela sigla MUX tem como diferencial o fato de ser multiespectral, fazendo imagens no azul, verde e infravermelho, em faixas distintas. A principal aplicação é o controle de recursos hídricos e florestais.
A Opto Eletrônica, contratada pelo Inpe para desenvolver a câmera, enfrentou dificuldades para viabilizar o projeto, pois alguns componentes não puderam ser comprados no exterior, por conta de embargos tecnológicos, disse o diretor do Inpe. "Há uma lei americana que proíbe a venda de componentes de uso espacial para programas feitos em cooperação com a China", exemplificou Perondi. Por conta das dificuldades, o desenvolvimento do Cbers-3 atrasou mais de três anos. "O importante é que esse desenvolvimento garantiu ao Brasil autonomia tecnológica em uma área estratégica. Hoje, temos capacidade para fazer um satélite completo no país."
O novo satélite da série Cbers vai preencher o espaço deixado pelo seu antecessor, o Cbers-2B, que encerrou sua operação há dez anos. A continuidade do trabalho de monitoramento do desmatamento da Amazônia foi garantida com o uso de satélites americanos e indianos.
O programa Cbers, que completou 25 anos em 2013, gerou mais de 1 milhão de imagens de satélites, distribuídas gratuitamente na internet para cerca de 70 mil usuários, de mais de 3 mil instituições públicas e privadas brasileiras ligadas ao meio-ambiente.
Além de empresas de geoprocessamento e organizações não governamentais, o Cbers também tem entre seus principais usuários empresas como a Petrobrás, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e a Agência Nacional de Águas (ANA). O IBGE, por exemplo, usa os dados para atualizar seus mapas em projetos de sistematização do solo, assim como o Incra emprega as imagens nos processos ligados à reforma agrária.
O Inpe tem ainda usuários cadastrados em mais de 40 países na América Latina e África. Com o CBERS, o Brasil se tornou um dos maiores distribuidores de imagens de satélites do mundo.
Por Claudio Belli/ Valor Econômico