O BNDES Finame, linha do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para produção e aquisição de máquinas e equipamentos, encerrou o período de janeiro a maio com desembolsos de R$ 29,5 bilhões, crescimento de 87% na comparação com igual período de 2012, segundo dados não consolidados divulgados pela instituição ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. Desse total, máquinas agrícolas tiveram destaque, com avanço de 144% (R$ 6,4 bilhões), seguidas por máquinas industriais, ou não transporte, com 101% (R$ 8,5 bilhões), e caminhões, 74% (R$ 11,6 bilhões).
Os dados animadores permitiram à instituição apostar em recorde de desembolsos do Finame em 2013. Impulsionado por juros mais baixos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), as liberações da linha devem chegar a R$ 70 bilhões no final do ano, 60% acima de 2012 (R$ 43,6 bilhões). "Pode ser até mais", admitiu o superintendente da área de operações indiretas do banco, Claudio Bernardo Guimaraes de Moraes. "Nunca desembolsamos tanto [para o Finame]", afirmou. Para ele, pode estar em curso um novo ciclo de investimentos, mas economistas são céticos quanto à sustentabilidade desse cenário.
A estimativa para o Finame este ano é uma das mais favoráveis anunciadas pelo banco. No início do mês, o diretor financeiro do BNDES, Maurício Borges Lemos, projetou cifra de R$ 100 bilhões para financiamentos totais de máquinas e equipamentos pelo banco em 2013 - 30% acima de 2012. Esse valor incluiria, além de Finame, créditos ligados à exportação e infraestrutura.
"Esse crescimento [do Finame] é puxado por caminhões e máquinas agrícolas", disse Moraes. "Na parte agrícola, estamos em "pico máximo". A estimativa é chegar em [desembolsos de] R$ 15 bilhões a R$ 16 bilhões em 2013", disse, citando fatores como a supersafra de grãos prevista para este ano. Em 2012, as liberações agrícolas atingiram R$ 8,9 bilhões.
O superintendente lembra também que o segmento de caminhões teve avanço forte até maio, mas deve-se considerar a base pequena, já que em 2012 os financiamentos enfraqueceram devido à queda na procura por esses veículos, que ficaram mais caros após a troca de motores para o padrão Euro 5, promovida por nova legislação ambiental.
O bom momento do setor agrícola já foi percebido nos negócios da Agrale, fabricante de tratores. Para o diretor de vendas da empresa, Flavio Crosa, o mercado do setor está pujante e deve continuar assim em 2014, mesmo que haja aumento gradual dos juros das linhas de financiamento do BNDES. Segundo ele, o ano de 2013 será o mais positivo para a venda de tratores desde 2010, com mais de 56 mil unidades vendidas.
O tom otimista quanto ao futuro da indústria de máquinas agrícolas não deve ser estendido a toda a indústria de bens de capital, na análise do assessor econômico da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mario Bernardini. "Os desembolsos do BNDES sobem porque estão com juros favoráveis" resumiu. Para ele, as empresas estão aproveitando as taxas mais baixas do PSI enquanto podem, pois o programa vai até dezembro. Para ele, o cenário atual não é sustentável.
Na análise do superintendente do BNDES, porém, os números do banco podem indicar mudanças no cenário econômico, pois o setor de máquinas e de equipamentos representa 60% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) - sendo o restante, construção civil.
Essa possibilidade é vista com reservas pelo presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, Cláudio Frischtak. Na sua avaliação, a retomada está centrada mais em investimento no processo de produção, e não em ampliação de capacidade. "A confiança quanto à trajetória futura da economia continua baixa. E os investimentos não são independentes disso", disse Frischtak.
Já o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, observou que os sinais até o momento não são suficientes para indicar claramente uma retomada sustentável de investimentos. "O investimento é feito fundamentalmente em função da demanda esperada", resumiu, acrescentando que, pelo menos até o momento, o consumo tem apresentado claros indícios de desaceleração.
Por Luciana Bruno e Alessandra Saraiva/ Valor Econômico