Apesar dos sinais de aquecimento na atividade, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia que ainda não há uma retomada definitiva da produção industrial. Com base nos dados relativos a fevereiro, divulgados ontem, a entidade espera crescimento da atividade do setor para os próximos meses, a partir já de março.
A queda de 1,9 ponto percentual na utilização da capacidade industrial, apontada pela pesquisa Indicadores Industriais de fevereiro, reverte o crescimento apurado em janeiro. "Agora, a curva voltou ao normal, que é de uma tendência contínua de leve crescimento", disse o economista da CNI, Marcelo de Ávila.
"Não é surpresa nenhuma crescer mais fortemente em março. Acho que a uso da capacidade instalada deve voltar a manter essa tendência de crescimento, mas não dar uma pancada como deu em janeiro", disse. Outro único indicador da atividade industrial que teve queda no período foi o de faturamento real, que recuou 3,7% entre janeiro e fevereiro, no dado dessazonalizado. Por outro lado, o indicador de horas trabalhadas, que também é relacionado à produção, cresceu 0,4%. O dado também tem ajuste sazonal. "Essa oscilação e a alta volatilidade mostram que não há tendência definida de crescimento definido", disse Ávila.
Já os indicadores relativos ao trabalho apresentaram crescimento de 0,3% para o emprego, 1,9% para a massa salarial real e 0,4% para o rendimento médio real. Os dados são dessazonalizados, e os dois últimos indicadores são corrigidos pela inflação. O crescimento do custo do fator trabalho em detrimento da queda no faturamento levou o economista da CNI a fazer um alerta: "A produtividade não está acompanhando crescimento do rendimento e da massa salarial, o que gera dificuldade da indústria para retomar investimento".
Ávila afirmou, porém, que a solução pode passar por outros caminhos, que não levem à a redução do salário ou do emprego. "Existem outros custos que podem ser afetados", disse. Segundo ele, as medidas adotadas pelo governo nos últimos tempos, como a desoneração da folha salarial, foram nesse sentido.
O gerente-executivo de pesquisas da CNI, Renato da Fonseca, defendeu a elevação do teto de faturamento anual para que uma empresa possa optar pelo regime tributário de lucro presumido. O limite passou de R$ 48 milhões para R$ 72 milhões, de acordo com a Medida Provisória 612, divulgada na semana passada. O aumento do teto "é significativo e vai reduzir custos, apesar de não contemplar toda a inflação do período", disse.
A medida começa a valer a partir de 1º de janeiro de 2014 e deve reduzir custos tributários e com burocracia, disse Fonseca
O governo também incluiu na MP 612 um novo modelo de regulação de portos secos, com regras mais flexíveis. A decisão, segundo Fonseca, também é importante por tratar o ramo de infraestrutura como essencial. A medida também deve ter efeitos de redução de custos.
A dificuldade, para o gerente da CNI, é fazer todos esses incentivos decolarem. "O Brasil ainda está aprendendo como trazer lucro privado e fazer modelo com segurança jurídica, que leve o empresário a apostar", disse.
Por Lucas Marchesini e Thiago Resende/ Valor Econômico