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Ajudar a mente a trabalhar a nosso seu favor é a chave para obter resultados positivos, aumentar o nível de resiliência e sair mais forte das adversidades. Isso inclui a adoção de novos padrões mentais e a capacidade de adaptar nossos comportamentos a eles.
Não há dúvida de que o mundo está vivendo uma adversidade sobre a qual a nossa geração encontra poucos precedentes, modelos mentais e de comportamento que sejam realmente eficientes.
A pandemia do Corona Vírus está impondo desafios a todas as áreas do nosso viver. A saúde certamente é a mais afetada de todas elas e sobre a qual recai a nossa maior apreensão, uma vez que a prioridade máxima é a de preservar as vidas humanas. Mas já é possível experimentar e/ou prever consequências alarmantes na economia, no emprego, na educação, nas finanças e em tudo aquilo que planejamos para curto, médio e longo prazo.
O isolamento social, neste momento, passou a ser o nosso novo estilo de vida, algo que para a maioria das pessoas traz grande desconforto. Alguns estudos já comprovaram que, de maneira geral, o isolamento social tende a aumentar os níveis de cortisol e outros hormônios do estresse, bem como elevar a pressão arterial e enfraquecer o sistema imunológico.
Além disso, o ser humano tem necessidade de contato e interação social, como já dizia a famosa Pirâmide de Maslow. Neste aspecto, felizmente, temos a tecnologia como uma grande e poderosa aliada, que nos permite estar em contato constante e em tempo real com todos aqueles a quem amamos ou que, de alguma forma, precisam da nossa interação. Mas ainda assim, trazemos uma “formatação original de fábrica” que atribui grande valor ao toque, ao abraço e à proximidade física.
Diante desse cenário, inúmeras adaptações precisam ser feitas na forma com que conduzimos nossos relacionamentos e atividades diárias, além de uma significativa mudança nos nossos próprios padrões no que diz respeito a rotina, planejamento, organização, execução, produtividade, gestão do tempo, entretenimento, descanso, etc. Mudança que não está sendo empreendida por vontade própria, mas por uma imposição da realidade externa, sobre a qual temos um baixíssimo nível de controle.
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Os sentimentos de controle são essenciais para o nosso bem-estar. Pensamos com mais clareza e tomamos melhores decisões quando nos sentimos no controle. Temos profunda aversão pela falta de controle e isso pode sim ser uma fonte de ansiedade e sofrimento para nós.
Se levarmos em conta ainda a informação de que nossa mente tem fome de padrão, é possível entender porque essa situação vem acompanhada de sentimentos de impotência, incapacidade e angústia. Ou seja, os diversos padrões que temos na mente, que sempre fizeram sentido para nós e que por isso apegamo-nos a eles (o que a neurociência chama da padronicidade), nesse momento não podem ser executados com ação e intenção na esfera do comportamento (o que a neurociência chama de acionalização).
Significa que precisamos criar novos padrões, mesmo que temporários, para que possamos atravessar esse momento com maior sanidade mental e disposição. Refiro-me aqui especialmente ao nosso padrão de reação ao que nos acontece, que está diretamente ligado ao nível de Resiliência, também conhecido por Quociente de Adversidade (QA).
Resiliência é um conceito que veio da física para designar a capacidade que alguns materiais possuem em absorver grandes impactos e retornar à sua forma original. Na dimensão do comportamento, ele está relacionado à capacidade de lidar com adversidades de maneira eficiente, ao ponto de transformar as experiências negativas em fontes de aprendizagem e desenvolvimento. O que por sua vez eleva o conceito original, pois quando uma pessoa passa por uma adversidade de maneira positiva, ela não retorna à sua “forma original”. Ela geralmente retorna mais forte, mais consciente e com um repertório de aprendizado mais significativo. Ou seja, retorna melhor, superior, mais desenvolvida.
Essa é uma competência extremamente relevante para os dias atuais. Independente de estarmos passando por uma pandemia, a vida cotidiana é composta por inúmeras adversidades. Todos os dias enfrentamos dificuldades no trabalho, no trânsito, com os filhos, problemas de saúde, dificuldades financeiras, relacionamentos conflituosos e planejamentos que não se cumprem.
Carol Dweck, autora do best-seller “Mindset” pontua que os indivíduos extraordinários parecem possuir um talento especial para converter em sucesso futuro as adversidades da vida. Eles possuem um tipo de modelo mental que altera aquilo que as pessoas buscam e o que identificam como sucesso. Modificam a definição, a importância e o impacto do fracasso, e transformam o sentido mais profundo do esforço e da persistência. Isso é efeito da resiliência.
O aumento da resiliência também está relacionado a maiores níveis de desempenho, engajamento, ânimo, agilidade, perspectiva, energia, saúde e longevidade. Não faltam pesquisas para comprovar esses dados.
Portanto, num momento como esse que estamos vivendo (e para todos os outros também) cai bem dar a sua mente o que ela precisa. Ajudar sua mente a trabalhar a seu favor é a chave para obter resultados positivos e sair mais forte desta adversidade.
De acordo com Paul Stoltz (que cunhou o termo Quociente de Adversidade), propõe quatro elementos fundamentais para o aumento do nível de resiliência e para que possamos lidar de forma mais efetiva com as adversidades da vida. Esses elementos funcionam como padrões que colocamos na mente.
O primeiro elemento é a experiência de controle, que como mencionei acima, é imprescindível ao nosso bem-estar. Não saber o que vai acontecer no dia seguinte. Não encontrar as respostas para as incertezas. Não poder executar aquilo que precisa ser executado, até mesmo as tarefas mais simples.
Sabemos que determinadas situações se mostram tão difíceis e complexas, que podem despertar uma tendência a paralisia. É fácil perceber como algumas pessoas, quando diante de uma crise ou dificuldade, escolhem como resposta a inércia e a vitimização. Mas sempre existe algo que pode ser feito, sempre existe uma parte da dificuldade que pode ser alterada, mesmo que seja pequena diante do todo.
Ter uma experiência de controle significa manter o seu foco naquilo que pode ser alterado, ao invés de mantê-lo naquilo que é imutável.
Não podemos mudar quase nada no que se refere a essa pandemia ou à determinação de isolamento social. Mas, podemos controlar as nossas reações e experimentar pequenas experiências de controle nessa nova (e temporária) realidade.
Por exemplo, podemos buscar e consumir informações de fontes seguras e confiáveis. Podemos buscar notícias positivas sobre tudo o que está acontecendo, saber quantas pessoas se recuperam do corona vírus, como foi o tratamento e o que já foi possível aprender com essa situação. Determinar momentos específicos para obter informação ao longo do dia, ao invés de ficar o tempo todo como refém dos telejornais ou dos feeds de notícias da internet. Conhecimento (de qualidade) é uma forma de controle.
Podemos criar um cronograma para as atividades do dia, sejam elas do trabalho, da rotina da casa, da escola das crianças, os exercícios físicos. Deixe-o registrado e em local visível. Só tome cuidado para não criar um cronograma extenso demais, pois com isso aumentamos as chances de que ele não se cumpra. Cumprir o que foi programado é uma forma de controle.
Podemos iniciar o dia de maneira positiva, seguindo aqueles rituais aos quais já estamos acostumados. Procure acordar nos mesmos horários. Mesmo que você esteja em home-office, quando acordar faça tudo aquilo que você faria se fosse sair para o trabalho. Se você tem o hábito de se exercitar logo que acorda e em seguida tomar seu café da manhã, mantenha. Se a organização da casa é feita logo pela manhã, siga esse mesmo padrão. A rotina também é uma forma de controle.
O segundo elemento é a assunção de responsabilidade. Reconhecer e assumir a própria responsabilidade na situação, exercendo seu papel de maneira suficiente. Fazer o que lhe cabe, ao invés de terceirizar ou procurar culpados.
Esse elemento caminha de mãos dadas com as experiências de controle, pois ele demonstra a nossa prontidão e disponibilidade para agir nas situações nas quais temos controle e influência. Responsabilizar-se significa fazer a coisa certa, mesmo quando não somos solicitados a fazê-la ou mesmo que isso não seja uma atribuição “oficial”.
Considerando a situação que estamos vivendo, reflita sobre essa questão: O que posso fazer agora para produzir um efeito imediato e positivo? E ela vale para qualquer cenário: numa questão do seu trabalho, numa conversa com um amigo ou familiar, numa tarefa da escola na qual você precise ajudar seu filho, na distribuição das tarefas da casa, no tipo de informação que circula dentro da sua casa, na decisão sobre o que fazer para o almoço de domingo ou sobre o planejamento do próximo momento de lazer e diversão.
Quando executamos nossas responsabilidades, estamos emitindo um ótimo exemplo e inspirando àqueles que convivem conosco a fazerem o mesmo.
O terceiro elemento é a limitação do alcance do problema, isto é, fazer o esforço necessário para evitar que ele afete todas as áreas da vida. Enxergar o problema do seu tamanho real, nem maior, nem menor. Existe uma frase que diz “o problema tem o tamanho que damos a ele” e ela pode nos ajudar a trazer esse elemento para mente, evitando a “catastrofização” e aquela incômoda sensação de estar sem saída.
A nossa vida cotidiana está sim afetada por conta do isolamento social e pela circulação de um vírus sobre o qual ainda se sabe pouco. Mas ela não está arruinada.
Talvez você já tenha feito um inventário sobre tudo aquilo que está impedido de fazer nesse momento: trabalhar, visitar a família, ir à academia, ao shopping, ao cinema, levar e buscar os filhos na escola, viajar e um monte de outras coisas com certeza. Mas e o inventário oposto, você já fez? Pegue um pedaço de papel e anote as repostas para essa pergunta: O que eu posso fazer nesse momento?
Talvez você perceba que pode (e deve) cuidar de questões muito importantes como a sua alimentação, sono, relacionamento familiar, estudos, seu lado espiritual, um hobby que há anos você deixou de cultivar.
Limitar o alcance do problema não significa ter numa visão romanceada da realidade, negando os fatos e as consequências. Mas sim um otimismo realista, comprometido com as experiências de controle e responsabilização.
O quarto e último elemento é a correta percepção frente à duração do problema. Você já reparou que tudo, tudo mesmo, passa? Nesse momento nenhum de nós sabe exatamente quanto tempo isso tudo vai durar. Mesmo as informações e estimativas oficiais não trazem muitos esclarecimentos. Mas uma certeza nós já temos: vai passar.
Sabemos que a percepção de tempo é bastante relativa e condicionada às nossas experiências pessoais. Mas isso não nos impede de estabelecer “pequenas linhas de chegada”, que nos ajudem a passar por esse período de maneira mais centrada, consciente e, principalmente, enxergar todas as etapas que já foram vencidas.
Fatiar o tempo de duração da adversidade, criando linhas de chegada semanais pode ser uma boa alternativa, uma vez que você consegue associá-las ao seu cronograma de atividades. Você sabia que trabalhar com planejamento semanal é a recomendação de todos os especialistas em gerenciamento pessoal e gestão do tempo?
Além disso, pensar com o padrão de que “uma semana vencida é uma semana a menos” pode ser mais efetivo para sua mente do que pensar no modo “ainda teremos mais um mês nessa situação”.
Quero finalizar com um ditado tibetano que diz “a natureza da mente é como é água, se você não a perturbar ela ficará clara.” Portanto, cabe a nós escolher o que dar a ela nesse momento: padrões de calmaria e clareza ou padrões de perturbação e turbidez.
Um grande abraço virtual e até breve. E se puder, fique em casa.
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Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br
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