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Samanta Luchini    |   13/11/2019   |   Desenvolvimento Humano   |  

Pense um minuto: é emoção ou sentimento?

Não há dúvida de que emoções e sentimentos desempenham um importante papel no nosso comportamento social, na formação dos nossos julgamentos e na elaboração de nossas decisões. Mas será que emoção e sentimento são a mesma coisa? O que você acha? Que termo você costuma utilizar quando fala sobre si mesmo?

A demanda para o desenvolvimento da inteligência emocional é cada vez maior dentro das empresas, escolas, universidades, famílias e em qualquer ambiente em que haja interação humana. Costumo dizer que a inteligência emocional é uma espécie de “competência-mãe”, que nos qualifica para o aprendizado e para a aplicação de muitas outras competências.

Por exemplo, uma pessoa cujo nível de inteligência emocional é satisfatório, terá mais chances de gerenciar um conflito de forma assertiva; terá mais sucesso na comunicação e na condução de conversas de feedback; lidará com as mudanças de forma mais positiva; trabalhará em equipe com maior facilidade; fará um melhor uso das ferramentas de planejamento, organização e gestão do tempo.

Sua tomada de decisão também será influenciada, uma vez que a maioria das nossas decisões é tomada por este caminho. O historiador Yuval Noah Harari, afirma em seu segundo livro - Homo Deus - que “99% das nossas decisões – inclusive as escolhas mais importantes da vida, referentes a cônjuges, carreiras e habitats – são tomadas por algoritmos altamente sofisticados que chamamos de sensações, emoções e desejos.”

E acima de tudo, poderá liderar de forma mais qualificada, pois o exercício da liderança está diretamente ligado à inteligência emocional.

Para relembrar, uma pessoa inteligente do ponto de vista emocional é aquela que consegue perceber suas próprias emoções; entendê-las e usá-las para auxiliar seus pensamentos e ações. Consegue regular efetivamente seu estado emocional de acordo com cada situação para atingir objetivos e promover seu próprio crescimento. De maneira mais objetiva, é a capacidade de atingir suas metas através de uma interação saudável com o ambiente.

Para alcançar essa condição, é preciso desenvolver e aprimorar constantemente cinco dimensões - autoconsciência, autogerenciamento, motivação, empatia e habilidades sociais – que já discutimos num artigo anterior.


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Na reflexão de hoje, quero me concentrar na autoconsciência, que é primeira dimensão e funciona como base para o desenvolvimento de todas as outras.

Autoconsciência se traduz na capacidade de conhecer as próprias emoções e sentimentos. Pessoas autoconscientes identificam o que sentem e conseguem nomear, isto é, vão além das famosas respostas padrão “está tudo bem” e “eu estou estressado”, que parecem dominar o discurso das pessoas quando são abordadas acerca do que estão sentindo. Elas sabem como funcionam, especialmente nos momentos de tensão e adversidade. Consideram estas emoções e sentimentos quando tomam decisões e, por consequência, podem experimentar maior confiança em si mesmas e avaliar suas próprias habilidades de maneira mais honesta e realista.

Não há dúvida de que emoções e sentimentos desempenham um importante papel no nosso comportamento social, na formação dos nossos julgamentos morais e na elaboração de nossas decisões econômicas.

Mas pense por um minuto. Emoção e sentimento são a mesma coisa? Que termo você costuma utilizar quando fala sobre si mesmo? Poderíamos os generalizar e usar qualquer um dos termos quando falamos de autoconsciência? O que você acha?

Já que autoconsciência é a dimensão de base do conceito, creio que seja interessante entendermos esta diferenciação. Para tanto, vou me utilizar da abordagem clássica da neurociência, área que venho estudando com maior profundidade e que tem apresentado evidências muito consistentes para que possamos ampliar nossa compreensão acerca do comportamento humano.

A emoção é uma resposta fisiológica, automática e inconsciente, que emitimos diante de um determinado estímulo. Ela é percebida através de sinais corporais como por exemplo taquicardia, sudorese, dilatação das pupilas, hiper ou hipotermia, rigidez muscular, formigamento ou tontura. E isso não acontece apenas com os humanos, os animais também tem emoções e apresentam sinais fisiológicos que as denunciam.

As emoções servem como um valioso recurso para que adotemos um comportamento apropriado em resposta aos desafios e oportunidades do ambiente, permitindo ao organismo a rápida escolha de ações vantajosas para nós. Isto é, são sinais automáticos de perigo e proveito. O que devemos aceitar, o que devemos evitar, de que devemos fugir, o que devemos enfrentar. Algo que tem conexão com os mecanismos de sobrevivência que acompanharam a evolução da nossa espécie.

Já o sentimento é a experiência consciente destas emoções, que surge através da nossa intepretação. Ou seja, são os significados que o cérebro cria para representar os eventos fisiológicos gerados pelo estado emocional. E isso é exclusivamente humano e inerentemente subjetivo. Medo, alegria, tristeza, raiva, ansiedade, culpa, orgulho, empatia e compaixão são os significados que utilizamos para explicar ou descrever o que o nosso corpo experimentou.

Sentimos medo porque, nosso coração disparou primeiro diante de uma ameaça. Sentimos ansiedade porque nossa respiração acelerou primeiro diante de algo desconhecido. Sentimos orgulho porque nosso peito esquentou primeiro. Por mais que essa sequência aconteça em uma fração de segundo, existe uma hierarquia já comprovada pela neurociência: o evento fisiológico (emoção) precede a interpretação que damos a ele (sentimento).

Mas qual seria o papel dos sentimentos na nossa evolução e nas nossas experiências diárias? Qual a vantagem de trazer à consciência as alterações fisiológicas que constituem as emoções?

Sentimentos conscientes acentuam o significado comportamental das emoções e orientam o processo imaginativo necessário para o planejamento de nossas ações futuras, recrutam nossas capacidades cognitivas, assegurando nossa maior adaptabilidade nas respostas comportamentais que oferecemos ao ambiente. De uma forma mais genérica, os sentimentos contribuem para o nosso aprendizado e para uma experiência de vida mais bem-sucedida.

Por isso, cada minuto que você investir na observação, na descrição detalhada dos seus estados emocionais e dos sentimentos que deles derivam, trará um ganho para o seu crescimento. Afinal, só é possível entender e gerenciar aquilo que nos é devidamente conhecido.

Um grande abraço e até breve.

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Samanta Luchini

Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br


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