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Gladis Costa    |   07/02/2018   |   Marketing e Comportamento   |  

O Doutor Estagiário: O Céu é o Limite!

Estudantes procuram estágios em multinacionais sediadas em áreas nobres, que pagam bem e oferecem mimos. É preciso gerenciar as expectativas!

“É impossível um homem aprender aquilo que ele acha que sabe”

Estou prestando uma consultoria informal para o filho de uma amiga, candidato a estágio na área de Relações Internacionais. Por consultoria leia-se conversar, prepará-lo para entrevistas, praticarmos o inglês, falar de mercado e empresas e discutir as notícias mais importantes da semana. Após nossos primeiros encontros, passei a chamá-lo de Dr. Estagiário, porque ele acha que sabe tudo. Obviamente ele gostou do título.  

O jovem é inteligente – se lhe falta um pouco de articulação não é por falta de leitura, ele tem muito conteúdo, mas há melhorias a serem feitas no quesito comunicação, soft skills – habilidades comportamentais ligadas a relacionamento, paciência, flexibilidade, criatividade, motivação e empatia.

O Dr. Estagiário tem suas hard skills muito bem delineadas: conhece tecnologia, tem pensamento lógico, adora estatística, finanças e economia, é um ás na sala de aula, “manda muito bem” -  em suas próprias palavras -  na elaboração de seus papers, mas não tem capacidade de ouvir atentamente, tem dificuldade de concentração e uma grande resistência para admitir o que não sabe.  

Os jovens tem sede de poder, seus ícones são executivos de sucesso, lideres de empresas,
que ajudaram a construir, mas alguns estudantes acham que não precisam passar por
todas as etapas. Já se encontram preparados.

Assim, navegando entre mares de otimismo exacerbado e ondas de orgulho e ansiedade, chega à praia, extenuado e desmotivado diante de tantos nãos e feedbacks que não lhe agradam.  Ele adora se imaginar fazendo uma Pós ou MBA em Harvard, mas esquece que antes disso, precisa terminar a faculdade e obter a comprovação do estágio relacionado à sua área de conhecimento.  Ele busca o futuro mais que perfeito, mas o presente está aqui, no mundo real, batendo à porta e ela não abre. Deve ser frustrante.


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O problema é que bons estágios são difíceis, há muita competição. Além do mais, ele não acha que pequenas empresas sejam atraentes. Gosta de pensar grande, mas carece da paciência e humildade necessárias para entender que o aprendizado pode vir em embalagens variadas – seja através de uma grande corporação – desejada por todos, claro - ou por startups, conduzidas por uma equipe enxuta e dinâmica e com muitas ideias inovadoras para tirar do papel. Por que não?

A imagem para este estudante é importante: seu desejo é trabalhar em empresas sediadas em edifícios monumentais, localizadas em áreas nobres da cidade e se possível bem descoladas, com salas de jogos, áreas de descanso e outros mimos. Poxa, parece legal! Já sei, quero ser uma estagiária sênior!  Para ele, estas empresas são sexy. Digo que sexy é trabalhar no que a gente gosta, numa empresa legal, com pessoas bacanas, mas o que sei eu? Aprendi o significado de unicórnio há pouco tempo e ele fala em bitcoins, códigos secretos e blockchains!

É complicado gerenciar tanta expectativa e inconformismo, mas não consigo deixar de sentir saudade da época que a gente achava que podia tudo, que não precisava aprender nada, que o mundo girava ao nosso redor. Um dia alguém me disse que esta sensação poderia ser apenas um sintoma de labirintite, nada mais. Sábia observação.

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Gladis Costa

Gladis Costa é profissional da área de Comunicação e Marketing, com vivência em empresas globais de TI. É fundadora do maior grupo de Mulheres de Negócios do LinkedIn Brasil, que conta com mais de 6200 profissionais. Escreve regularmente sobre gestão, consumo, comportamento e marketing. É formada em Letras, e tem pós graduação em Jornalismo, Comunicação Social e MBA pela PUC São Paulo. É autora do livro "O Homem que Entendia as Mulheres", publicado pela All Print.


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