A filial brasileira do grupo francês PSA Peugeot Citroën recebeu investimento para ser a primeira a produzir o novo compacto 208 fora da Europa. Mas perdeu para os europeus o contrato de exportação do modelo para o México, seu vizinho. Segundo o presidente da companhia no Brasil e América Latina, Carlos Gomes, a Europa leva vantagem em relação ao Brasil no custo de exportação do mesmo veículo. Para os europeus, no entanto, essa é uma boa notícia. A falta de demanda provocada pela crise que afeta o continente levou o grupo PSA a anunciar, há três meses, a redução no ritmo de produção do modelo 208 na fábrica francesa.
Gomes cita um elenco de problemas, diversas vezes apontados por outros setores, que levam à desvantagem competitiva nas exportações de carros fabricados no Brasil. A lista vai dos altos custos de insumos - "o aço na França custa 25% menos do que no Brasil", diz o executivo - até os entraves logísticos por falta de alternativas ao transporte rodoviário.
O presidente do grupo no Brasil não diz qual seria o tamanho da vantagem europeia na exportação do 208 para os mexicanos. Mas cita um caso anterior. A venda do modelo 207 - geração que antecedeu o 208 - para o México a partir de fábrica da França ficava 28% mais em conta do que se fosse embarcado no Brasil.
O grupo PSA não é o único a se queixar da falta de competitividade no mercado externo. Em 2012 o volume de exportações de veículos produzidos no Brasil recuou 20,1% na comparação com o ano anterior, num total de 442 mil unidades. A Argentina absorve a maior parte dos veículos que saem do Brasil. O mau desempenho das vendas ao exterior provou queda de 1,9% na produção e o tombo só não foi maior porque o mercado interno avançou 4,6%.
O vigoroso mercado doméstico, ainda que se espere uma estabilização para este ano, continua a salvar a produção e a estimular mais investimentos em expansão industrial nas montadoras.
Enquanto a direção mundial do grupo PSA anunciou, no fim de 2012, uma redução do ritmo da linha de produção do modelo 208 na fábrica de Poissy, na França, de 52 para 35 unidades por hora e a suspensão do terceiro turno de trabalho, na fábrica de Porto Real (RJ) a capacidade está totalmente ocupada, em três turnos, e novos investimentos elevarão o ritmo de toda a linha (que envolve as marcas Peugeot e Citroën) em 38%. A média subiu de 29 carros por hora em 2012 para 32 e chegará 40 até o fim do ano.
Depois de perder participação no mercado local no ano passado, a PSA fez uma festa na fábrica ontem (30) para marcar o início da produção do 208, que começará a ser vendido em março. O 208, que foi lançado há menos de um ano na Europa, é a maior aposta da companhia para este ano, quando devem ser produzidas, só no Brasil, 55 mil unidades do modelo.
O presidente mundial do grupo, Philippe Varin, decidiu deixar a amargura dos mercados europeus para se unir à comemoração no Rio de Janeiro. Sua presença surpreendeu muitos dos executivos locais, que não esperavam.
Em seu discurso, Varin reconheceu que a crise na Europa pressiona o grupo PSA Peugeot Citroen a reforçar a estratégia para aumentar a internacionalização da produção de seus veículos e, consequentemente, depender cada vez menos dos mercados europeus. Com os investimentos que têm sido realizados em regiões como Rússia, China e Brasil, o grupo que reúne as duas montadoras francesas já conseguiu elevar a participação das vendas fora do continente europeu de 24% em 2009 para 38% em 2012. A meta é chegar a 50% em 2015.
"Com um mercado interno de 3,6 milhões de veículos [em 2012], o Brasil passou à frente da Alemanha. Trata-se, portanto, de um país essencial para nosso grupo", disse Varin. Segundo o executivo, a crise levou o grupo PSA a rever metas de cortes de custos. Em 2011 já havia sido fixado o objetivo de cortar 1 bilhão de euros. "Diante da degradação dos mercados europeus, em julho elaboramos um novo plano para o corte de mais € 1,5 bilhão até 2015", destacou.
O Brasil também está nos planos que o grupo prepara a partir da recém firmada aliança com a General Motors. Estão previstos projetos elaborados em parceria entre as duas empresas para os futuros lançamentos de carros no Brasil. "Em princípio, nossos esforços estarão voltados para a Europa. Mas temos planos para a América Latina e o Brasil está no cerne das nossas ambições".
O lançamento de um novo carro compacto e o aumento da capacidade de produção da fábrica instalada em Porto Real já consumiram, segundo Carlos Gomes, quase a metade dos R$ 3,7 bilhões do plano de investimentos que o grupo PSA programou para o país no período de 2011 a 2015.
O programa de investimentos, inicialmente fechado em R$ 1,4 bilhão, foi ampliado no ano passado, a partir da revisão da estratégia da direção mundial de aproveitar o crescimento do mercado brasileiro para diminuir a dependência dos enfraquecidos mercados europeus.
Além do 208, a fábrica de Porto Real produz atualmente os modelos 207, que continuará sendo o de entrada no portfólio da Peugeot, 207 SW, 207 Passion e a picape Hoggar, além dos Citroën C3, Xsara Picasso, C3 Aircross e C3 Picasso. Também são produzidos motores 1.4 litro e 1.6 litro flex.
Por Marli Olmos/ Valor Econômico