O custo da indústria brasileira teve a maior alta desde 2008 durante o terceiro trimestre do ano passado. A avaliação partiu da agregação dos custos de produção, capital de giro e tributos pagos pela indústria.
O Indicador de Custos Industriais (ICI), composto por essas três variáveis, apontou que esses gastos têm ficado mais onerosos para o segmento desde o segundo trimestre de 2010. O levantamento exclui gastos indiretos, como os de logística.
O índice, que faz parte de um novo levantamento trimestral da Confederação Nacional da Indústria (CNI), aumentou 8,1% no terceiro trimestre de 2012 em relação a igual período do ano anterior. Crescimento maior que esse só foi registrado nos últimos três meses de 2008, quando a alta foi de 12,2% na comparação anual. A série histórica começa em 2006.
O valor dos insumos utilizados no processo produtivo foi o vilão para a aceleração do ICI no terceiro trimestre de 2012, quando comparado com igual período de 2011. Segundo o gerente-executivo de Pesquisa da CNI, Renato da Fonseca, a depreciação do real frente ao dólar encareceu os bens intermediários. Enquanto o indicador de custos com matérias primas importadas cresceu 19,2% na comparação anual, o de insumos nacionais subiu 10%. Juntos, levaram a um aumento de 11,1% no indicador de bens intermediários.
Esse é um dos componentes inseridos no cálculo do índice que mede o aumento dos custos de produção. Também fazem parte as despesas com pessoal e com energia, que subiram respectivamente 9,9% e 4,4% na comparação entre terceiros trimestres de 2011 e 2012. "Já o aumento dos salários foi o grande responsável pela aceleração do aumento de custos nos últimos meses. Mas no último trimestre analisado, apresentou uma alta mais controlada", avaliou Fonseca.
O câmbio também teve efeito positivo, ao deixar mais caras as mercadorias estrangeiras. A CNI constatou que desde o quarto trimestre de 2011, o preço dos manufaturados nacionais cresce menos que o de produtos industrializados americanos. Isso só foi possível graças ao real desvalorizado, apontou Fonseca. Para o economista, o resultado desses efeitos opostos decorrentes da mudança no patamar cambial é benéfico.
Além do câmbio mais favorável à indústria, outro fator citado pelo governo como uma das grandes medidas de 2012 impactou no comportamento dos custos industriais. A redução da taxa básica de juros, a Selic, e a queda nos juros cobrados pelos bancos comerciais levaram a uma redução no custo de capital de giro. A baixa foi de 30,7% no terceiro trimestre, na comparação com igual período de 2011. O terceiro componente, o de custo tributário, apresentou avanço de 7,1% na mesma comparação.
É esperada uma desaceleração no aumento dos custos da indústria em 2013. Isso acontecerá, de acordo com Fonseca, por causa da queda dos preços de energia, que além de ser um componente direto dentro do indicador de produção, também tem reflexos indiretos em outros integrantes do índice, como no preço de insumos. Outro fator deve ser a ampliação da desoneração da folha de pagamentos para mais setores da indústria. Por fim, o câmbio "mais ou menos estabilizado" não deve pressão de custos adicional, disse Fonseca.
Por Lucas Marchesini e Thiago Resende/ Valor Econômico