Existem diversos caminhos para a inovação. Aquelas que se referem a produtos ou processos produtivos são conhecidas como inovações tecnológicas. No entanto, outros tipos podem estar relacionados, por exemplo, a nichos de mercados ainda não explorados, modelos de negócio diferenciados ou até mesmo novos sistemas organizacionais internos.
O fato é que a inovação agrega valor a um negócio, diferenciando-o em um ambiente competitivo. Quando pensamos em um mercado de commodities, por exemplo, com produtos ou serviços equivalentes e competição acirrada por margens, a capacidade inovadora torna-se ainda mais relevante. Mas como inovar neste contexto?
No final da década de 50, o Brasil vivenciava um momento único em sua história. Após um período conturbado, o então Presidente Juscelino Kubitschek promoveu a entrada de capital estrangeiro no país, atraindo multinacionais de todo o mundo, sobretudo as indústrias automobilísticas. Mas os altos investimentos por parte das indústrias, aliados ao limitado poder de consumo do brasileiro da época, obrigaram o governo a intervir para garantir o equilíbrio econômico brasileiro. Estava instaurado o período inflacionário e de endividamento externo no Brasil.
Perante a esse cenário de inflação e crédito limitado, associado a altas taxas de juros, em 1962, um grupo de amigos e funcionários do Banco do Brasil teve uma ideia. Eles se uniram com o objetivo de constituir um fundo suficiente para aquisição de automóveis para todos aqueles que dele participassem. Eis que surge, então, o sistema de consórcio, um mecanismo de concessão de crédito isento de juros para a aquisição de bens de consumo.
O consórcio passou a ser uma das principais ferramentas para escoar a produção de veículos no país. No final da década de 60, a Willys do Brasil, responsável pela produção dos jipes Willys, já contava com mais de cinquenta mil consorciados. Apesar de ter suas origens na indústria automobilística, no final da década de 70, o consórcio já era adotado pela indústria eletrônica, de construção civil, implementos agrícolas, dentre outras.
A partir de então, o sistema de consórcios ultrapassou as fronteiras brasileiras e passou a ser adotado por diversas economias internacionais. Mesmo que suas origens possam ser percebidas em outras culturas, a formalização do sistema é uma inovação genuinamente brasileira.
A indústria de veículos está longe de ser uma commodity, no entanto, não apresentava muitas alternativas quanto a formas de aquisição. O contexto econômico da época sustentou o desenvolvimento de uma inovação quanto à aquisição de bens de consumo, hoje utilizada por diversos segmentos industriais. Atualmente, o sistema movimenta bilhões de dólares mundo afora, garantindo o acesso a produtos, antes limitado a determinadas classes sociais e de renda.
A inovação pode surgir em qualquer ambiente ou setor, causando grande impacto, sem ser necessariamente tecnológica. Mas o importante é que ela gere vantagens competitivas!