A economia brasileira ainda dá sinais conflitantes para o curto e médio prazos. Enquanto os investimentos em bens de capital apontam tendência de crescimento, a indústria de construção começa a perder fôlego e a arrecadação de impostos do governo federal está em queda, por conta das desonerações fiscais, que deveriam ser compensadas pela expansão econômica - o que ainda não ocorreu.
A produção de máquinas e equipamentos deve ganhar tração neste semestre e reverter a trajetória negativa que vem amargando há meses. No acumulado do ano, a queda chegou a 12,5%, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Conseguimos atenuar os impactos mais intensos da crise, mas não há como ficar imune a ela. Isso costuma bater mais forte no investimento", disse Enrico Bezerra Vasconcelos, coordenador-geral de Modelagem Econômica da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda.
Mas, segundo ele, o IBGE deve divulgar no final desta semana dados pouco mais favoráveis relativos à Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que engloba bens de capital e construção civil.
"Houve recuperação da produção de máquinas entre maio e junho, de 1,4%, e isso deve melhorar ainda mais", disse, acrescentando que, na indústria de construção civil está havendo um ajuste nos estoques e, em breve, a retomada de lançamentos de imóveis dará um novo estímulo ao setor.
A equipe econômica tem um olhar atento à evolução dos bens de capital, pois é o tipo de investimento que vira capacidade instalada de forma quase imediata, e, assim, reduz os riscos de a indústria não ter condições de atender à demanda e encontrar brechas para reajustar os preços.
Principalmente agora que o governo projeta um reaquecimento do consumo das famílias nos próximos meses.
Vasconcelos lembra que, no final do ano passado, o comprometimento da renda dos consumidores com dívidas chegou ao pico - o que ajudou a frear o crescimento econômico e boa parte dos investimentos.
"Mas o movimento de ajuste vem ocorrendo. Esperamos que a capacidade de tomar crédito esteja maior no decorrer do segundo semestre e melhor ainda ao final do ano", disse, assegurando que essa melhora da situação está sendo vista pelos empresários.
E, mesmo em um cenário internacional que ainda deve ficar conturbado por algum tempo, o coordenador diz acreditar no retorno da confiança tanto das famílias, que voltarão às compras, quanto de empresários que vão desentocar seus investimentos.
"As boas notícias não virão de fora, mas daqui", ressalta, apostando que o programa de concessões de rodovias e ferrovias anunciado há duas semanas animou bastante os investidores.
Para ele, as obras que serão passadas à iniciativa privada vão impulsionar principalmente o setor de equipamentos de transporte, que representa 36,2% do conjunto da produção de bens de capital.
"Vai dar um baque maior, uma puxada muito forte", garante, lembrando que o câmbio desvalorizado protege mais a indústria. Transporte é o segmento que vem apresentando as maiores baixas: na comparação de junho e a mesma etapa de 2011, houve queda de 21,2% e, no acumulado deste ano, de 11,4%.
Por Simone Cavalcanti/Brasil Econômico