Inspetor de corrosão utiliza água do mar como acoplante

Equipamento foi desenvolvido na UFRJ e acelera análise

O Rio de Janeiro é o principal centro produtor de petróleo do país. Esta atividade torna o estado um importante usuário e produtor de cascos de navio, plataformas, tanques e dutos – grandes estruturas metálicas que, devido ao contato direto com a água do mar ou à ação do tempo, sofrem os danos causados pela corrosão. Para evitar que isso cause acidentes, torna-se cada vez mais necessária a inspeção periódica destas estruturas por meio de ultrassom. Segundo o técnico em eletrônica, programador e um dos sócios da empresa carioca Sistema de Inspeção Móveis Ltda. (Simex), Filson Bellan Lee, o grande desafio do setor é inspecionar detalhadamente e no menor tempo possível grandes estruturas, como o casco de um navio, que pode ter cerca de 300 metros de comprimento por 60 metros de largura. "Como o custo de um navio parado é enorme, o ideal seria que essa inspeção fosse feita em dois ou três dias, que é o tempo de um petroleiro ou cargueiro parar para carregar ou descarregar", afirma Lee. "Conseguimos algo melhor ainda: um veículo capaz de realizar a inspeção mesmo com o navio em movimento, o que reduz ainda mais o tempo do trabalho", complementa. O produto foi desenvolvido com apoio do programa Pappe Subvenção/Rio Inovação, uma parceria entre FAPERJ e Finep.

Durante o desenvolvimento do projeto, Filson Lee coordenou uma equipe de pesquisadores, em parte patrocinados pelo programa de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas (Rhae), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com apoio da incubadora de empresas da Universidade Federal Fluminense (UFF). A equipe elaborou um sistema de inspeção de alta resolução e velocidade, inicialmente desenvolvendo multiplexadores  – conjunto de chaves capazes de conectar diversos sensores a uma via ou ponto comum – de ultrassom velozes. Entretanto, para aumentar ainda mais o desempenho, a equipe projetou e colocou, no lugar dos multiplexadores, um minipulsador de ultrassom para cada um dos sensores. Eles são transportados por um veículo anfíbio, controlado por software, para detecção e processamento de sinais em tempo real.

Assim, surgiu o veículo de inspeção multifunção (VIX), viatura anfíbia e robusta, que utiliza lagartas magnéticas – dispositivos mecânicos que permitem a locomoção mesmo em locais inacessíveis às viaturas comuns, como as usadas em tanques de guerra e tratores – fortes o suficiente para inspecionar o navio mesmo com ele em movimento. Para inspecionar a parte submersa do casco, o VIX usa a água do mar como acoplante de ultrassom. Já na parte seca, um sistema de bicos e jatos de água garante o acoplamento. “O VIX trabalha em alta velocidade e resolução, podendo fazer um milhão de medidas por metro quadrado em poucos segundos, algo muito superior a inspeções similares disponíveis no mercado, que usam mergulhadores ou sistemas automáticos de baixo desempenho”, explica Lee.

O coordenador destaca que, com o alto desempenho do VIX, é possível garantir com grande precisão a integridade estrutural dos navios. "Assim, podemos programar manutenções, reduzir o valor do seguro e, é claro, evitar acidentes de graves consequências para o meio ambiente e para a imagem das empresas de petróleo", garante Lee. A tecnologia do produto possibilita que pontos de corrosão bem pequenos, ainda em estágio inicial de formação, possam ser detectados. O VIX usa um scanner de sensores de ultrassom, ou seja, enquanto o veículo avança, uma régua de sensores oscila para a esquerda e para a direita. "Além disso, o veículo pode modificar o ângulo da régua, garantindo leitura do sinal mesmo nas partes curvas do casco", complementa.

Como desdobramento do VIX, surgiu um outro produto, o veículo de inspeção portátil (VIP), que utiliza a mesma tecnologia de ultrassom, mas é destinado à inspeção de tanques, dutos e chapas, como asas de avião, ou barras metálicas, como trilhos de trem. "Dependendo da situação, ele pode usar rodas ou minilagartas magnéticas", explica Lee.
 
Tanto os protótipos do VIX como do VIP já foram desenvolvidos e apresentados este ano e em 2010 em feiras voltadas para o setor de petróleo, como a Rio Oil & Gás 2010, Macaé Offshore 2011 e OTC Brasil 2011. "Nestes eventos,  fizemos contatos com diversos parceiros potenciais e clientes do Brasil, Américas, Europa e Oriente Médio, que se mostraram interessados nos nossos produtos. Agora estamos concluindo os produtos definitivos, para realizar os testes no início de 2012. Nossa expectativa é de que estejamos prestando este serviço já no segundo semestre do ano que vem", destaca Lee.

O programador e sócio da Simex Ltda. destaca o potencial de seus produtos. "A Petrobras tem atualmente pouco mais de 50 navios petroleiros e esta frota deve dobrar na próxima década. No mundo todo, existem atualmente cerca de 5.000 petroleiros ainda em operação", enfatiza Lee. Segundo explica, navios de passageiros, cargueiros e graneleiros também estão expostos à alta corrosão provocada pela água do mar. "Já houve interesse pela nossa tecnologia nos setores de siderurgia, aviação, ferrovias e metrô. A corrosão pode ser monitorada ou retardada, mas é um processo natural e inevitável. As inspeções precisam ser feitas da forma mais prática e rápida possível para garantir a maior segurança da navegação", conclui.


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