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No primeiro dia em vigor do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6%, o dólar mudou de direção e subiu 1,32%, para R$ 1,686. É a maior alta diária desde 29 de junho, quando a moeda americana avançou 1,51%. A movimentação dos mercados externos, motivada pela inesperada alta de juros na China, também ajudou a puxar o câmbio.
A percepção dos economistas, no entanto, é que o Brasil está apenas "ganhando tempo" para que os países cheguem a uma trégua na "guerra cambial". A tendência é que as medidas adotadas ontem percam vigor e o governo seja obrigado a lançar mão de novos mecanismos para segurar a alta do real.
Nos bastidores, técnicos afirmam que o governo vai observar o impacto das medidas, mas, caso julgue necessário, voltará à carga. O cardápio é amplo: elevar o IOF para o investimento estrangeiro em ações, limitar a exposição de bancos e empresas ao câmbio, reduzir a capacidade de gerar negócios com uma mesma operação ou até adotar medidas mais radicais, como fixar uma quarentena para a permanência dos dólares no País.
Na segunda-feira à noite, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a elevação de 4% para 6% do IOF para investimentos estrangeiros em renda fixa. E, pela primeira vez, atuou no mercado futuro, com alta de 0,38% para 6% do IOF pago nas garantias exigidas para as operações de derivativos.
"Foi uma tentativa de comprar tempo. O Brasil e outros emergentes estão em um fogo cruzado", avaliou Mônica Baumgarten de Bolle, da Galanto Consultoria. O fogo cruzado a que a economista se refere é o excesso de liquidez nos Estados Unidos e o câmbio fixo na China.
Os países emergentes, incluindo o Brasil, estão preocupados com a nova medida econômica prometida pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), que pode inundar o mercado de dólares e desvalorizar mais a moeda americana.
Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, as medidas brasileira e chinesa são um recado para os ministros que se reúnem neste fim de semana no primeiro encontro preparatório da cúpula do G-20, que ocorre em novembro na Coreia do Sul. "Todos querem chegar com algo feito. Essas reuniões hoje são o calendário mais importante."
Surpresa. Ontem, era impossível distinguir os efeitos do IOF e da movimentação dos mercados internacionais no câmbio. O aumento de juros na China pegou os investidores de surpresa: o dólar se valorizou em relação a outras moedas (o euro cedeu 1,36%) e os preços das commodities caíram (o petróleo recuou 4,34%), com a expectativa de menor crescimento mundial.
Por isso, os operadores ainda avaliavam qual será o alcance da alta do IOF. Alguns consideraram as medidas "agressivas", principalmente antes do segundo turno das eleições, e o dólar atingiu a máxima de R$ 1,70 no pregão. O gerente de pesquisa da Planner Corretora, Ricardo Martins, acredita que "R$ 1,70 se tornou um piso para o governo".
Mas os investidores também já identificavam maneiras de burlar a taxa. Para o diretor da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, o governo deixou a "janela aberta". O subsecretário de Tributação e Contencioso da Receita Federal, Sandro Serpa, evitou fazer comentários sobre isso. Ele destacou que a medida não afeta as operações das empresas para se proteger contra variações abruptas do dólar.
Também não havia consenso sobre o IOF entre os principais bancos. Um estudo do Santander apontou que o aumento do imposto tem pouco impacto sobre a tendência do câmbio. "O governo usou uma superdosagem de remédio, mas há outros fatores que atraem dólares para o País", disse o economista Maurício Molan. Em relatório, o Itaú avaliou que os mercados têm "subestimado" o impacto do IOF. "O governo está determinado a continuar nesse caminho. Mais medidas podem vir", frisou.
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