Brasil precisa aproveitar melhor investimento estrangeiro

Depois de anos sem ao menos figurar na lista de investidores estrangeiros que desembarcam por aqui - apesar dos bilhões que aplicou mundo afora na última década - a China finalmente descobriu o Brasil e planeja despejar cerca de US$ 10 bilhões no país até o final do ano. Isso fará do país asiático o maior investidor direto estrangeiro em terras brasileiras, à frente de líderes históricos como Estados Unidos, Espanha e Alemanha.

Boa notícia, certo? Depende do ponto de vista. "O que vemos é uma aposta da China em áreas nas quais eles são dependentes", afirma Roberto Barth, um dos fundadores da Comissão de Defesa da Indústria Nacional (CDIB) e crítico da invasão de produtos chineses no mercado consumidor brasileiro.

De fato, os setores que mais receberam aportes chineses neste ano foram os de energia, agronegócio, siderurgia e mineração - áreas nas quais a China se abastece por meio de importações. "Claro que esses investimentos são bem vindos, mas desde que sejam feitos em áreas que interessem ao Brasil também", complementa Barth. Para o economista Antonio Corrêa de Lacerda, o problema não é a chegada desses investimentos, mas o fato de o Brasil não ter uma estratégia para aproveitá-los melhor. "Falta ao país uma estratégia frente ao investimento estrangeiro de maneira geral, não só o chinês", diz Lacerda, que há anos estuda o assunto. "Enquanto os chineses sabem claramente o que querem e como defender seus interesses, o Brasil não consegue usar o investimento que chega aqui para promover o desenvolvimento e agregar novas tecnologias."

José Roberto Cunha, presidente da Agência Paulista de Promoção de Investimento, diz que os chineses, entre todos os potenciais investidores, foram os que mais procuraram a agência no ano passado com interesse em se instalar aqui. "O aumento do investimento chinês no Brasil é bom, mas a diplomacia brasileira deveria agir e exigir da China condições, no mínimo iguais, para as empresas brasileiras que queiram investir em território chinês", cobrou, na semana passada, Fábio Barbosa, que até então era diretor financeiro da Vale. Ele deixou a mineradora esta semana.

Processo lento do lado do governo brasileiro, a resposta começa a aparecer - mas devagar e em doses homeopáticas.

O secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Ivan Ramalho, diz que a Agência de Promoção de Exportações (Apex) abriu recentemente um escritório em Pequim, justamente para auxiliar empresários brasileiros que queiram fazer negócios na China. "As diferenças culturais ainda são o principal problema", admite o secretário geral da Câmara Brasil China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE), TangWei.

Desde que o presidente chinês, Hu Jintao, esteve no Brasil, no fim do ano passado, estabeleceu-se uma Agenda Brasil-China que deve ser implementada até 2014. "Temos de ficar atentos a isso porque a China é, na maioria dos setores, nossa concorrente", diz Ricardo Martins, do Departamento de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).


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