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Fotos: Divulgação
Antônio Duarte é um inventor, mas também pode ser considerado um sonhador. Há dois anos o funcionário da Cosern enfiou na cabeça a ideia fixa de conseguir um destino mais nobre para as prosaicas garrafas plásticas de refrigerante do que o lixo. Sem formação específica, Antônio, que mora na cidade de Espírito Santo, de 10 mil habitantes, localizada a 69 quilômetros de Natal, deu vida ao impulso que sustenta a sua utopia: a construção de casas populares pela metade do custo com a utilização de garrafas pet no lugar dos tijolos como sustentação para as paredes. Antônio conseguiu pôr seu projeto de pé e agora luta para popularizar a ideia.
Os aspectos positivos que praticamente anulam a possibilidade de quaisquer efeitos colaterais maléficos – característica tão presente nos sonhos – chamaram a atenção de empresas de construção civil. A “casa ecológica”, argumenta Antônio, consegue aliar benefícios ao meio ambiente, retirando as garrafas das ruas, com a possibilidade de se resolver o problema da falta de habitação no Brasil pela metade do preço. “Imagine se a Caixa Econômica comprar a ideia e passar a financiar casas ecológicas, você dá uma utilidade às garrafas e pode construir o dobro do número de casas populares”, sonha.
Uma empresa de construção civil já comprou diretamente de Antônio duas unidades da casa ecológica como teste. Além disso, outras empresas e até pessoas físicas procuraram informações sobre a invenção, que está devidamente patenteada. Ou seja, o projeto passou pelos trâmites oficiais, incluindo testes de resistência e, surpreendentemente, conseguiu um resultado que demonstra 30% mais resistência do que uma casa de tijolos comum. “Os testes foram realizados na UFRN”, diz Antônio Duarte. O inventor admite vender unidades “artesanais” da casa, mas acredita que a produção em escala industrial seria mais interessante.
A chave para compreender como uma pessoa sem formação acadêmica conseguiu dar vida a um projeto tão ousado está na fala de Antônio Duarte em uma das muitas reuniões com executivos de construtoras. Um dos engenheiros da Companhia fez a pergunta que Antônio mais ouviu desde que iniciou a construção da casa: “Você é formado em alguma coisa?”. A resposta, à queima-roupa: “Não, mas isso não me impede de pensar”.
E ele pensou. Antônio cabe bem no esteriótipo do inventor, que domina muitos assuntos mesmo sem ter se detido academicamente em nenhum deles. Quando fala, utiliza expressões mais técnicas, como “dilatação térmica”, “pé direito”, mesmo sem estar ligado à física e à engenharia. Movido pela curiosidade, depois de um “insight” ao ver um monte de garrafas queimarem ao sol, ele decidiu que iria dar um destino mais útil ao material. A “casa ecológica” foi a solução, mas até que ela estivesse de pé, Antônio Duarte fez inúmeras tentativas, com diversos materiais. “Passei dois anos aprimorando a ideia, sempre com a ajuda de amigos, engenheiros, arquitetos, etc”, diz.
No fim, a “casa ecológica” levou cerca de 2,7 mil garrafas e custou cerca de R$ 8 mil. O projeto é inspirado no que a Caixa Econômica utiliza para sua linha de casas populares, com dois quartos, banheiro, sala e cozinha. O inventor faz a “armação” com as garrafas, que formam uma fila vertical e horizontal, com chapas de aço. A massa é inserida após a armação estar pronta. O espaço entre uma garrafa e outra, de 12 centímetros, é preenchido com a massa. No fim das contas, nada denuncia, por fora, que a casa é feita com garrafas de plástico no lugar de tijolos. As paredes com garrafas pet têm a mesma consistência e aspecto das paredes comuns.
Segredo da criatividade
Tão impressionante quanto a notícia de uma casa que usa material plástico ao invés de tijolos, é a pessoa que a inventou. Antônio Duarte tem 34 anos e nunca se interessou especialmente por física ou matemática. Mas, na Cosern, onde trabalha, já havia vencido um prêmio de inovação. “Eles fizeram um workshop e eu consegui ganhar o prêmio. Sugeri que se colocasse o número do equipamento do poste junto do número do contrato. Isso facilita na hora de atender a uma solicitação”, conta.
O inventor cursou o Ensino Fundamental e Médio em Espírito Santo, na Escola Joaquim da Luz. Não foi um aluno excepcional, mas também não era dos piores. “Era um estudante mediano, meu desempenho não era lá essas coisas”, complementa. E como essa história aparentemente comum desembocou num criativo inventor? “Não sei explicar. Acho que é curiosidade e porque eu acredito nas minhas ideias”, resume.
Viabilidade econômica é o mais difícil
Aos poucos, Antônio Duarte vai dando ares de realidade ao seu delírio. Primeiro, colocar a casa de pé de forma segura. Feito. Depois, conseguir a patente da ideia, o que não foi fácil. “É complicado fazer a patente e eu precisei ser bem específico para ninguém copiar a ideia. Está patenteado como parede de concreto vibrada com garrafas pet”, conta. Agora, a dificuldade é viabilizar economicamente a ideia.
O interesse das empresas é bem vindo e enche Antônio Duarte de otimismo. Ele preferiu não revelar o nome dos interessados, mas garante que recebeu várias propostas. “O projeto é interessante, vantajoso. Primeiro, porque é barato. O custo de R$ 8 mil deve cair ainda mais se a casa for fabricada em escala industrial. Depois, porque é prático. O molde sai pronto e eu incluo a rede elétrica e hidráulica. Vai tudo junto”, conta.
As dúvidas dos interessados são bastante variadas, principalmente pelo caráter inédito da invenção. “As pessoas têm dúvidas quanto à resistência e como seria para fazer uma reforma. A resistência, como eu disse, é maior do que uma parede comum. E para reformar, quebrar parede, ampliação, etc, o processo é o mesmo de uma parede normal”, garante. Quem quiser entrar em contato com Antônio Duarte para tirar quaisquer dúvidas sobre o invento, o e-mail é [email protected].
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