Foto: Click Macaé
A salvação do setor elétrico brasileiro pode estar num racionamento de gás natural para a indústria ou automóveis. Se as chuvas não encherem os reservatórios nas próximas semanas, a solução para evitar cortes de eletricidade, conforme decretou o presidente Lula, seria acionar todas as térmicas existentes, com capacidade para 10 mil megawatts (MW). O problema é que, além da escassez de água, falta gás para atender a todos os mercados.
"A principal pergunta a ser respondida agora é como será compartilhado o combustível para indústria, setor elétrico e setor automotivo", questiona o presidente da consultoria Andrade & Canellas, João Mello. Hoje, o consumo de gás natural no País está em torno de 45 milhões de metros cúbicos por dia, sendo 55% da indústria.
Se todas as térmicas fossem acionadas, haveria necessidade de 50 milhões de metros cúbicos por dia só para produzir energia elétrica. Hoje, para pôr em operação algumas usinas, já há falta de gás. De acordo com o relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgado na quinta-feira (10), seis usinas produziram abaixo do programado por indisponibilidade de gás natural.
Ou seja, não tem combustível para todo mundo. E o governo sabe disso. A possibilidade de ter de cortar o fornecimento de gás para alguns setores foi admitida pelo presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, durante entrevista concedida na quinta-feira, em Brasília.
Os 5 milhões de metros cúbicos de gás do Espírito Santo que devem entrar no sistema em fevereiro, conforme anunciou o governo na ocasião, dariam para produzir só 1.000 MW nas térmicas. "Mas isso vai depender de a Petrobrás terminar a obra do gasoduto Cabiúnas-Vitória, prometida para este mês, que está atrasada", diz o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Adilson de Oliveira.
Outra opção para elevar a oferta do combustível é a planta de regaseificação de gás liqüefeito (GNL) da Petrobrás, que deve acrescentar cerca de 7 milhões de metros cúbicos de gás por dia ao País. "Mas é preciso ver se também nesse caso não vai haver atraso nas obras e na contratação do produto", diz o diretor da Câmara Brasileira de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires.
"De qualquer forma, se não chover bastante nos próximos meses, o País não escapará de um racionamento de gás natural. Isso porque será obrigado a pôr em operação as térmicas existentes", diz o professor Nivalde Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ. Ele tem esperança, porém, de que o regime de chuvas ainda se firme.
Adilson de Oliveira não demonstra o mesmo otimismo. "As chuvas precisam encher o reservatório, atender à demanda da região e ainda transferir energia para o Nordeste. Isso é difícil."