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Do setor de papel e celulose ao de energia, passando por bebidas, fármacos, transporte e petróleo e gás, a indústria brasileira mostrou, durante a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP29, que diversas empresas já adotam uma série de medidas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Na conferência coordenada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), as ações do setor produtivo apresentadas foram baseadas em três pilares: avançar na agenda de adaptação à mudança do clima, iniciar a operacionalização do mercado global de carbono e mobilizar os países para o financiamento climático.
Realizada em Baku (Azerbaijão) entre os dias 11 e 22 de novembro, a COP29 aprovou a criação de um mercado global de carbono sob controle da ONU, que deve lançar, no começo de 2025, um sistema de comércio dos créditos. Há, ainda, a previsão de que os países ricos destinem US$ 300 bilhões anuais para o financiamento climático até 2035. Esse valor é considerado baixo pelos países em desenvolvimento, e deverá ser um dos principais temas discutidos na COP30, a ser sediada em Belém, no Pará, em novembro de 2025.
O estande da CNI na COP foi palco de 54 eventos, incluindo painéis, debates e lançamentos de estudos para mostrar os avanços já alcançados pela indústria brasileira na agenda do clima e propor soluções para que o país reduza as emissões de gases de efeito estufa e acelere a transição para uma economia de baixo carbono. Divulgado durante a conferência, o documento “Visão da Indústria para a COP29” apresentou as medidas que o setor industrial defende para o avanço da agenda de adaptação à mudança do clima.
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“A participação do setor industrial foi bastante positiva”, resume Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI.
Nas edições anteriores, diz ele, o estande da CNI estava localizado na zona azul, uma área mais formal da conferência, destinada aos negociadores. “Nesta edição, resolvemos mudar para a zona verde, um lugar onde a gente fica muito mais próximo do setor produtivo, de empresas de energia, de empresas relacionadas à economia de baixo carbono”, explica. “Isso facilitou bastante o acesso ao nosso público e ao que as empresas estavam apresentando”, afirma Bomtempo.
Um dos projetos apresentados pelo setor industrial foi a Boia Remota de Avaliação de Ventos Offshore (Bravo), tecnologia inédita no país projetada pelo Centro de Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação da Petrobras, uma das patrocinadoras do estande da CNI. A Bravo foi desenvolvida em parceria com os Institutos Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), no Rio Grande do Norte, e em Sistemas Embarcados (ISI-SE), em Santa Catarina, para se adequar às condições marítimas do litoral brasileiro. O diretor de Relações Institucionais da CNI, Roberto Muniz, lembra que o setor industrial já possui uma estratégia de redução de emissões de carbono.
“Há várias empresas com plano de descarbonização para 2050 e emissões líquidas zero. O setor vem investindo há bastante tempo em tecnologia e inovação, troca de combustível, modernização das plantas, eficiência energética e eficiência operacional. Somos muito competitivos em termos de sustentabilidade, porque os industriais brasileiros já enxergam que ela é um fator de competitividade”, avalia Muniz.
Além da apresentação de projetos em andamento, Bomtempo diz que os debates no estande da CNI destacaram políticas públicas adotadas pelo Brasil para estimular a economia de baixo carbono. “Em vários painéis de que a CNI participou, tanto como painelista quanto como ouvinte, falou-se muito das agendas de energia, combustível, hidrogênio e captura de carbono. São temas nos quais o Brasil tem avançado bastante a partir da publicação e da aprovação recente de projetos de lei pelo Congresso Nacional”, avalia ele.
“Falamos do combustível do futuro, do SAF, para aviação, do diesel verde e do papel do biometano”, acrescenta Muniz. “Essas políticas são alternativas que impactarão bastante a redução de emissões, principalmente no setor de transportes. Tivemos, ainda, o marco legal do hidrogênio de baixo carbono, importante avanço para viabilizar o desenvolvimento dessa nova rota tecnológica”, detalha Bomtempo. “No encerramento da COP, houve a notícia de finalização do artigo 66, que fala sobre o mercado de carbono em nível global, o que coincidiu com a aprovação aqui no Brasil, pelo Congresso Nacional, do mercado regulado de carbono”, afirma.
Ele também cita, como políticas públicas relevantes, incentivos econômicos e a suspensão de tributos como PIS e Cofins por determinado período. No painel “Construindo resiliência por meio da circularidade”, moderado por Bomtempo, discutiu-se como a implementação de estratégias de economia circular, adotadas no nível empresarial e no regional, podem contribuir para a resiliência frente a eventos climáticos extremos e crises globais.
Aberto por Anamaria de Aragão, coordenadora-geral de Sustentabilidade e Cooperação do Ministério das Cidades, o painel contou com a participação de Kalil Cury Filho, diretor titular adjunto do Departamento de Desenvolvimento Sustentável da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), e Tuuli Hietaniemi, especialista do Finnish Innovation Fund (Sitra).
A gerente de Meio Ambiente, Transição Energética e Responsabilidade Social da Engie Brasil, Flávia Teixeira, considera que a COP29 foi uma excelente oportunidade para debater a importância do investimento do setor industrial em inovações tecnológicas, fontes de energia renováveis e práticas de economia circular na transformação do setor, além de abrir espaço para que se discuta a importância da adaptação climática. Segundo ela, “a CNI tem sido um ator relevante na preparação da indústria brasileira para os desafios crescentes impostos pelas mudanças climáticas”.
“Embora a maior parte das emissões de gases de efeito estufa venham do setor agropecuário, a indústria tem participação relevante nos esforços de mitigação desse fenômeno. É um setor-chave para a construção de soluções que possam acelerar a transição para uma economia de baixo carbono e contribuir para o alcance das metas globais de sustentabilidade”, argumenta Flávia. “Na Engie, temos a meta de descarbonizar nossos clientes em 45 milhões de toneladas anuais até 2030 e atingir o Net Zero [zerar as emissões líquidas] até 2045”, detalha Flávia Teixeira, gerente de Meio Ambiente, Transição Energética e Responsabilidade Social da Engie Brasil.
Em parceria com a CNI, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) organizou o painel “Bioeconomia e Desenvolvimento na Amazônia: um caminho para a preservação e industrialização sustentável”. Para Perpétua Almeida, diretora de Economia Sustentável e Industrialização da ABDI, essa foi uma oportunidade de debater o papel da bioeconomia como motor para a industrialização sustentável na Amazônia, conciliando preservação e desenvolvimento econômico.
Já no painel “Acelerando a Economia Circular e a Descarbonização da Indústria no Brasil”, o público teve a oportunidade de conhecer como a Nova Indústria Brasil (NIB) e o Plano de Transformação Ecológica podem ser integrados para promover a transição para um modelo econômico sustentável e eficiente no uso de recursos, com foco na redução de resíduos, na reutilização de materiais, na inovação tecnológica e na descarbonização da indústria, afirma Perpétua. Segundo ela, a NIB “é uma das ações mais importantes do governo para transformar a indústria brasileira em um motor de crescimento econômico e social por meio de práticas sustentáveis, geração de emprego e renda e políticas de descarbonização e transição energética”.
Para Grazielle Parenti, vice-presidente de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da Syngenta Brasil, a indústria, aqui e no mundo, tem papel crucial na implementação de uma agenda climática efetiva. Ela acredita que a COP30 pode ser a chance de o país demonstrar sua capacidade de contribuir com a diminuição das emissões de gases de efeito estufa.
“Teremos uma oportunidade única na COP30, em que celebraremos dez anos da aprovação do Acordo de Paris, de apresentar ações locais e nosso protagonismo na nova ambição climática para o período 2031-2035”, diz ela. Para Perpétua, a COP30 será diferente das demais. “Será a primeira COP na Amazônia, coração do maior ecossistema florestal do mundo, que detém a maior biodiversidade do planeta. Será decisiva na história das negociações climáticas globais devido à urgência cada vez maior para o planeta. No entanto, a participação dos maiores emissores de gases de efeito estufa, como Estados Unidos, China, Índia e União Europeia, é essencial para o sucesso das negociações”, avalia.
“As COPs sempre são realizadas em lugares onde há protagonismo das modificações do meio ambiente. Belém será o retrato que precisávamos mostrar ao mundo, que é o da selva amazônica protegida e da produção de economias próprias que trazem renda e não agridem o meio ambiente”, diz Décio Lima, presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
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