Fonte: Abiodiesel - 28/11/07
Foto: WHO.PT
O interesse global por energia mais limpa está mudando o setor sulcroalcoleiro em Pernambuco. Produtos emergentes como etanol e biodiesel disputam lugar com o açúcar, que ainda é o principal item de exportação do Estado, mas já vê reduzir sua participação de 54% em 1997 para 25% em 2006. Dos anos 70 para cá houve uma depuração no setor, que contava com 42 usinas e hoje só sobreviveram 20.
Houve uma expansão dos negócios para fora do Estado para escapar dos problemas de estiagem e das dificuldades que a geografia local impõe para mecanizar a colheita, que eleva o custo da produção. Como a safra vai de setembro a fevereiro, falta matéria-prima para atender o mercado o ano inteiro. Em São Paulo e Goiás, por exemplo, a colheita acontece entre março e outubro. Apesar da expansão, o etanol representa apenas 13% da pauta de exportações.
Uma dos maiores empresas do setor é o Grupo Farias, que possui dez usinas espalhadas pelas cinco regiões do país. "Hoje nossa prioridade estratégica é produzir energia", afirma Eduardo Farias, presidente do grupo. "Além do etanol, investimos no bagaço da cana, que nos torna auto-suficientes e nos credencia para exportar energia limpa", explica. O potencial de produção do grupo é de 10.040 MW, que é quase o consumo das regiões Norte e Nordeste.
Depois do apagão de energia, em 2001, muitas usinas no Estado resolveram implantar usinas termoelétricas perto da moagem, o que diminuiu o seu custo e o transformou-se em um novo negócio, como no Grupo Petribu, que hoje exporta dois terços da energia produzida. Para investir em novos mercados, tanto do açúcar quanto do álcool, tem surgido em Pernambuco centros de tecnologias localizados nas próprias usinas. Um deles é uma unidade de pesquisa da Coopersucar na própria Usina Petribu. "A idéia é produzir know-how para melhorarmos a nossa produtividade", diz Jorge Petribu, dirigente da empresa.
O grupo vendeu três das quatro usinas em São Paulo para se capitalizar e investir na montagem de novos empreendimentos de grupos internacionais. "Como dominamos esse processo industrial, queremos abrir uma nova modalidade de negócio, em que deixamos o projeto no ponto de produzir", diz. Atualmente existem negociações com o grupo Noble (Hong Kong) e Guarani (França).
Além de melhorar a competitividade, o desafio é abrir o diálogo direto com os parceiros internacionais. "Não temos nada contra as tradings, mas temos procurado conhecer de perto as grandes distribuidoras européias para abrir mercados", diz Renato Cunha, presidente do Sindicato das Indústrias de Açúcar e de Álcool do Estado de Pernambuco (SindAçúcar).
Outra frente estratégica é a construção do armazém de açúcar no porto de Suape que entra em funcionamento em 2009. Nele estão sendo investidos US$ 53 milhões, divididos entre a trading inglesa ED&F Man (51%) e o SindAçúcar com seus 21 associados (49%). Com capacidade de armazenar 120 mil toneladas, numa área de 17 mil metros quadrados, o armazém vai melhorar a logística de transporte e reduzir o tempo de embarque dos navios-indústrias.
Os produtores demonstram grande expectativa em relação ao biodiesel. O Grupo Farias, por exemplo, deve instalar uma fábrica de EBTE, uma mistura de etanol e isobutano, um derivado do petróleo. Quando misturado com gasolina, o ETBE não exige modificações na rede de distribuição do automóvel e gera uma melhor resposta do motor. Até 2012, o investimento na nova tecnologia será de US$ 580 milhões e deve começar a produzir 100 mil toneladas (2008) e com a capacidade estendida para 400 mil toneladas quatro anos depois.
Segundo o Petroleum Energy Center Japonês, a indústria petrolífera do Japão planeja misturar 7% de ETBE em 20% da gasolina vendida no Japão em 2010, o que exigiria 840 milhões de litros do produto, com um conteúdo de etanol de 520 milhões de litros. O potencial mundial do etanol para ETBE é de 15 bilhões de litros de etanol por ano
A nova fronteira para produção de etanol e biocombustível fica no sertão oeste do Estado, com uma extensão de 500 quilômetros. A Embrapa garante que é o melhor solo do Estado. O problema da falta de água será resolvido com a transposição do rio São Francisco e a construção de um canal a partir da barragem de Sobradinho. No momento, está sendo feito o estudo de viabilidade econômica do projeto.
"Se for adiante, esse projeto valoriza a pequena produção de até 30 hectares e permite que a região se desenvolva", opina o economista Gustavo Maia. O plantio será no mesmo período de São Paulo entre março e outubro. .A estimativa é de produzir 10 milhões de toneladas de cana de açúcar, o que equivale a 58% da produção da Zona da Mata para 2007.