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Indústria verde: Grandes empresas estimulam cadeia de fornecedores mais sustentáveis

A transição energética é um caminho sem volta e qualquer indústria que queira continuar competindo deverá atender às demandas que a acompanham, em todo a cadeia de seu produto ou serviço

A busca por uma cadeia produtiva mais sustentável e verde é o centro das atenções das grandes empresas em todo o mundo. Em um cenário de transição energética global, as organizações estão reconhecendo a importância de adotar medidas significativas para reduzir as emissões de carbono, impulsionar a eficiência energética e promover tecnologias verdes. Esse compromisso foi amplamente evidenciado nos estandes dos fornecedores do setor de fundição e metalurgia durante a Metalurgia 2023, realizada em setembro, em Joinville. Com anúncios em grandes painéis e frases impactantes, dois pontos foram destacados para atrair a atenção dos visitantes: sustentabilidade e digitalização.

O movimento em direção a uma economia mais verde não é apenas uma tendência, mas uma realidade em crescimento exponencial. De acordo com um estudo recente do Boston Consulting Group (BCG), a participação de fontes de energias renováveis e soluções de baixo carbono deve aumentar de 12% para 50-70% até 2050, uma transição três vezes mais rápida do que as mudanças energéticas anteriores. No entanto, para alcançar essas metas ambiciosas, será necessário um investimento massivo de US$ 18 trilhões em infraestrutura industrial e fontes de energia renovável, como eólica e solar, de acordo com o BCG.

Embora empresas e governos tenham se comprometido em investir US$ 19 trilhões nos próximos sete anos, segundo o BCG, a maior parte desse montante deve ser direcionada para o desenvolvimento do mercado. Cerca de 90% desse investimento se concentrará na geração de eletricidade renovável, incluindo fontes eólicas e solares.

Essa tendência de investimentos em energias renováveis tem acompanhado a história da Vektor. Há 11 anos no mercado de energia, a Vektor já migrou mais de 300 empresas para o mercado livre de energia, fazendo uma economia média de 25% a 30% do custo de energia, de, até então, um mercado que atendia somente grandes empresas. "Hoje atendemos empresas que têm [contas de energia de] cerca de R$ 6 mil a R$ 7 mil, que estão podendo escolher seu fornecedor de energia, escolher a fonte renovável - porque 100% da energia que fornecemos é renovável - além de reduzir os custos operacionais entre 40% e 50%", afirmou Sandro Bittencourt de Souza, CEO da Vektor, expositor da Metalurgia 2023.


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A empresa assegura a origem sustentável da energia fornecida aos clientes, permitindo que eles associem sua marca ao consumo de energia renovável de forma transparente e atrativa aos seus clientes. "Cada vez mais, observamos o despertar desse interesse, porque o cliente não está mais pensando no produto em si, está pensando na cadeia", disse ele.

Ana Isabel Portilla, engenheira e gerente comercial da GHI fornos industriais, uma empresa espanhola que depois de 15 anos retornou ao Brasil e que expôs pela primeira vez na Metalurgia, conta que o mercado já exige, por exemplo, uma quantidade maior de alumínio reciclável, seja por seu alto teor reciclável, como por seu baixo consumo de energia no processo. A produção do alumínio a partir da sucata gasta 5% da energia do que produzir um alumínio primário a partir do minério, segundo a especialista.

"Hoje, os grandes clientes compradores de alumínio estão exigindo dos grandes produtores de alumínio primário uma maior quantidade de alumínio reciclável dentro dos produtos deles", disse Portilla. A empresa não trabalha com a cadeia de processos do alumínio primário, só de reciclagem. 

Veículos Elétricos

Em seu relatório, o BCG aponta cinco alavancas tecnológicas que podem viabilizar a transição: o aumento da eficiência energética; eletrificação para consumidores finais, como veículos elétricos; a descarbonização do fornecimento de energia; o uso de combustíveis com baixo teor de carbono, em casos em que a redução de emissões é mais complexa; e a captura direta de carbono.

Com a criação do Acordo de Paris em 2015, cujo objetivo é a redução das emissões de gases de efeito estufa a partir de 2020, a eletrificação ganhou ainda mais destaque no mercado de veículos. Sendo a indústria automotiva o principal segmento do mercado de fundição e metalurgia, sem dúvida, suas exigências de padrões internacionais de ESG estão impulsionando toda a cadeia de fornecedores. Essa tendência tem se consolidado, conforme evidenciado por dados que mostram um crescimento exponencial nos últimos anos. Para ilustrar, a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) informou que em 2022, as vendas de automóveis híbridos (HEV), híbridos plug-in (PHEV) e totalmente elétricos (BEV) aumentaram significativamente, registrando um aumento de 41% em comparação a 2021.

Portilla conta que a transição para a produção de veículos elétricos, por exemplo, no México, que tem muitas empresas da indústria automotiva, está impulsionando a reciclagem de alumínio, porque as empresas locais precisam aumentar processos de reciclagem para atender a esse mercado.

O exemplo de Portilla mostra como a crescente demanda por produtos mais verdes está impulsionando a busca por materiais e processos de produção mais sustentáveis. Grandes empresas já estão respondendo a esse apelo, como a Termomecanica.

"Não acreditamos que seja passageiro, por exemplo, algumas ligas de cobre têm chumbo como elemento de liga, algo como 2,5% e 3%. Algumas diretrizes internacionais já determinam que alguns produtos não devam possuir elementos pesados, ou seja, que são prejudiciais à saúde, como é o caso do chumbo, no que diz respeito às ligas de cobre", disse Vinicius Torres dos Santos, engenheiro sênior da Termomecânica. "Nesse sentido, a Termomecanica, solicitou ao grupo de pesquisa e desenvolvimento para que deixassem um portfólio preparado para oferecer ao cliente ligas isentas de chumbo. E quando eu falo isenta, é com teor de chumbo abaixo de 0,25%, um teor aceitável em nível mundial, ou seja, que não vai oferecer risco à saúde ou ao meio ambiente. Isso já existe há muito tempo, mas o apelo vem aumentando".

Santos explica que o carro elétrico vai consumir muito mais cobre, em relação a um carro a combustão, então o teor de cobre no carro elétrico vai aumentar muito, cerca de 4 vezes mais. E o cobre é um camarada do meio ambiente, ele pode ser reciclado várias vezes e não perde propriedade, diferente dos polímeros (plástico). Então, partir do momento que olhamos para algum produto e falamos 'vamos aumentar o teor de cobre nele', nós estamos falando 'olha, nós vamos aumentar o teor de produto que é capaz de ser reciclado. Não precisamos ir até a natureza e feri-la novamente".

Apoio governamental

Nesse contexto, de acordo com o recente "Relatório de Tecnologia e Inovação de 2023" da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), caso os países em desenvolvimento almejem aproveitar os benefícios econômicos vinculados às novas tecnologias, suas empresas devem estar equipadas com as capacidades essenciais. Essas capacidades englobam não apenas conhecimentos científicos e técnicos, mas também políticas, regulamentações e infraestruturas adequadas.

"Para apoiar esta evolução, o relatório [Tecnologia e Inovação de 2023] insta a comunidade internacional a tornar as regras comerciais globais mais favoráveis às indústrias verdes emergentes nas economias em desenvolvimento e a reformar os direitos de propriedade intelectual para facilitar a transferência de tecnologia para esses países", diz o relatório da UNCTAD.

Portilla conta que o governo europeu tem sido muito enfático nas estratégias de descarbonização, fechando o cerco para as grandes empresas que acabam impulsionando a sustentabilidade em toda a cadeia produtiva. "O governo europeu priorizou a descarbonização, uso de hidrogênio e deu muito dinheiro a empresas que trazem resultados para esse fim. (...) Existem projetos de redução de emissões em todas as empresas europeias, o governo exige isso", disse Portilla. Segundo a gerente da GHI, logo, as empresas não vão poder vender se não tiver esse "selo de sustentabilidade".

Esse movimento é motivado por uma combinação de fatores, incluindo uma tendência global em direção à sustentabilidade, a conscientização sobre as questões ambientais, a busca por redução de custos e a crescente competitividade.

Portilla observa que esse impulso em direção à sustentabilidade provavelmente influenciará outras empresas a seguir o mesmo caminho, à medida que reconhecem os benefícios econômicos e ambientais de adotar práticas mais verdes. "Acredito que outras empresas serão puxadas por essa tendência", disse.

*Imagem de capa: Depositphotos