ESG agrega valor à marca, mas nem sempre traz lucro para as empresas

Práticas de governança e sustentabilidade se tornaram fator determinante na atração de investimentos e são tendência no mundo dos negócios; Especialista analisa impactos no mercado financeiro e destaca que tendência pode ser encarada como um “ruído” no setor

Em um mundo cada vez mais globalizado e com as urgências ambientais e sociais da nossa era, muitas empresas estão voltando suas atenções às práticas sustentáveis, dentro dos pilares do ESG (Environmental, Social e Governance). E os indicadores de governança, sustentabilidade ambiental e responsabilidade social têm se tornado determinantes para atrair investimentos e agregar valor à marca, apesar de nem sempre trazerem lucro para as empresas.

Segundo um levantamento da Redirection International, empresa especializada em assessoria de fusões e aquisições, em 2022, o retorno médio das 46 empresas que fazem parte do Índice ESG do B3 foi de -11,23%, enquanto o retorno do índice geral do Bovespa foi de 4,69%. Por outro lado, análise feita com 300 empresas listadas internacionalmente pela auditoria Deloitte, aponta que as corporações que apresentam melhores índices ESG são mais valorizadas no mercado, chegando a acrescentar até 1,8x em seu múltiplo EV/EBTIDA (valor da empresa dividido pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).

“Os fatores ESG estão ganhando mais importância entre empresas, investidores e especialistas em avaliação de negócios. Uma política cuidadosa das questões ESG pode ajudar a atrair investidores e fundos de investimento, a construir credibilidade e oferecer ao mercado alguns indicadores da competitividade da corporação, mostrando que ela tem um plano de longo prazo para o sucesso”, destaca Adam Patterson, economista e sócio da Redirection International.

No Brasil, dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), apontam que é crescente o número de empresas que estão divulgando suas práticas ESG ao mercado. De acordo com a 3ª Pesquisa de Sustentabilidade da ANBIMA, realizada em 2021 com 250 participantes de gestoras de recursos, bancos e corretoras, 86% dos entrevistados reconhecem a importância da temática no ambiente de negócios e cerca de 30% das gestoras avaliam quase todos seus ativos considerando os critérios ESG.


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“As ações de sustentabilidade e governança estão direcionando a tomada de decisões de negócios pelos investidores ao considerar transações de fusões e aquisições. Os fatores ESG agora são reconhecidos como importantes geradores de valor para os investidores. O argumento é que um maior foco ESG ajuda na mitigação de riscos, melhora as questões reputacionais, fiduciárias e os valores corporativos e influencia o custo e o acesso ao capital para as empresas. Na prática, é mais um elemento qualitativo para acrescentar em sua narrativa ao mercado”, explica Adam Patterson.

O economista ressalta que apesar de ter se tornado uma convenção no mercado financeiro, acompanhando uma tendência mundial, existem opiniões divergentes sobre a influência das práticas ESG na avaliação dos negócios. Uma das principais críticas, segundo ele, é em relação à mensurabilidade dos indicadores e a falta de métricas e escalas uniformes para análise dos resultados. “Devido à falta de padronização, dados insuficientes e uma correlação pouco clara entre os fatores ESG e os retornos de uma empresa, as descobertas atualmente ainda envolvem muita incerteza e subjetividade. Por isso, essas ações não devem beneficiar todas as empresas e, além disso, existe um possível conflito de interesse com fornecedores e consultores querendo monetizar os benefícios deste movimento”.

Por outro lado, uma análise feita em 2019 pela McKinsey aponta que as práticas ESG podem melhorar o desempenho das empresas e suas avaliações. Segundo o estudo, as corporações que adotaram as proposições de sustentabilidade e governança tiveram um impacto positivo nos retornos das ações em 63% do tempo. Além disso, registraram crescimento de receita, redução de custos, mitigação de riscos relacionados a intervenções regulatórias e legais e otimização dos investimentos e ativos.

De acordo com dados da NAVEX Global, em 2020, 88% das empresas de capital aberto, 79% das empresas de capital de risco e private equity, e 67% das companhias privadas tinham iniciativas ESG em vigor.

“O fato é que ter uma gestão voltada para uma boa governança, ambientalmente sustentável e socialmente responsável pode aumentar a probabilidade de sucesso em operações de fusões e aquisições. Não à toa, o investimento orientado para ESG tem apresentado um crescimento meteórico em todo o mundo nos últimos anos e pode chegar a US$ 50 trilhões em 2025, segundo estimativa da Bloomberg", destaca Adam Patterson.

*Imagem de capa: Depositphotos