Exclusiva

Hélice Tríplice e o avanço dos laboratórios de manufatura no Brasil

Na série exclusiva do CIMM, Labs de Manufatura e a Tríplice Aliança, ao longo de cinco reportagens contaremos sobre o avanço dos laboratórios de manufatura no país e de que maneira cada ator da Hélice Tríplice desempenha seu papel no desenvolvimento da inovação do setor no Brasil.

Nesta primeira reportagem da série Labs de Manufatura e a Tríplice Aliança, te contamos por que o modelo de inovação Hélice Tríplice é reconhecida em todo o mundo e passaremos, brevemente, por alguns exemplos de sucesso espalhados pelo país, que contaremos com mais detalhes ao longo da série. 

O modelo de Hélice Tríplice, criado há mais de 20 anos, mostrou como academia, governo e empresas podem e devem agir juntos para provocar mudanças significativas na economia dos países. A implementação do conceito ocorre em um período de intenso desenvolvimento do setor de inovação, e tem resultados satisfatórios, inclusive no Brasil. Essa ação conjunta de iniciativa pública, privada e universidades pode ser vista particularmente na expansão dos laboratórios de manufatura no país. Instalados em universidades ou em parques tecnológicos, são locais em que soluções para a indústria são colocadas em prática com o uso de tecnologia de ponta.

Em um artigo publicado na revista Estudos Avançados, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), Henry Etzkowitz, da Universidade de Londres, Reino Unido, e Chunyan Zhou, da Universidade Shenyang, China, respectivamente presidente e diretora do Instituto Internacional Hélice Tríplice, explicam que “a hélice tripla é um modelo universal de inovação. É o segredo por trás do desenvolvimento do Vale do Silício por meio da inovação sustentável e do empreendedorismo”.

Essa interação deve ser estimulada por uma articulação entre o governo com a iniciativa privada voltada para "enfrentar os desafios tecnológicos que sacodem as economias mundo afora", afirmam os sociólogos Glauco Arbix, pesquisador do Grupo de Pesquisa Observatório da Inovação e Competitividade do IEA, e Zil Miranda, especialista em desenvolvimento industrial da Diretoria de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para eles, em momentos de crise, como a atual situação brasileira, é que os países e empresas mais precisam aumentar seu investimento em inovação, aliados às universidades.


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Em um artigo chamado “Inovação, ciência e os lugares da universidade”, o professor Guilherme Ary Plonski, diretor do IEA da USP, explica que, neste modelo da Hélice Tríplice, “a universidade está deixando de ter um papel social secundário, ainda que importante, de prover ensino superior e pesquisa, e está assumindo um papel primordial equivalente ao da indústria e do governo, como geradora de novas indústrias e empresas”.

Exemplos pelo país

De fato, isso pode ser observado na expansão dos laboratórios de manufatura do país. Em todas as regiões, universidades públicas federais abrigam esse espaço, mostrando a integração dos governos com a academia. 

No Sul, por exemplo, o Laboratório de Manufatura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), localizado no Centro Tecnológico de Joinville, tem o objetivo objetivo de apoiar as atividades de ensino, pesquisa e extensão, desenvolvendo conhecimentos práticos em manufatura e auxiliar os estudantes a se familiarizarem com os princípios fundamentais do processo de manufatura, contando com as principais máquinas operatrizes presentes nas indústrias.

No Sudeste, a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) mantém o Laboratório de Manufatura Integrada, que é composto por um Sistema Flexível de Manufatura (FMS) que contém máquinas e equipamentos com tecnologia de ponta e elevado valor agregado. O laboratório atende as disciplinas dos cursos de Engenharia de Produção e dá suporte a pesquisas dentro dos seguintes temas: Indústria 4.0 e manufatura avançada; usinagem com ferramentas de geometria definida; manufatura aditiva e robótica industrial.

Na USP, duas estruturas se destacam. A Fábrica do Futuro, um laboratório que simula um ambiente real de manufatura com a aplicação de tecnologias da Indústria 4.0 (falaremos mais dela na próxima reportagem da série), foi a primeira instituição da América Latina admitida na International Association of Learning Factories (IALF). Segundo o coordenador da iniciativa e professor da Poli-USP, Eduardo Zancul, a infraestrutura é aplicada tanto para o ensino, em aulas e atividades práticas, como na pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para a digitalização da manufatura, e em demonstrações para a indústria. 

Fábrica do Futuro da USP, um laboratório que simula um ambiente real de manufatura com a aplicação de tecnologias da Indústria 4.0, tem parceria universidade-empresa. Imagem: USP/Divulgação

As atividades do laboratório contam com uma forte parceria universidade-empresa, o que segundo Zancul é essencial para que o laboratório se mantenha atualizado tecnologicamente. A iniciativa conta com apoio do fundo de endowment de egressos da Escola, Amigos da Poli, e de empresas como TOTVS, PPI-Multitask, MVISIA e da consultoria Zorfatec.

Além disso, a universidade abriga o Laboratório de Máquinas-Ferramentas (Lamafe), que integrava o Laboratório de Metrologia e iniciou suas atividades junto com a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) no início da década de 1950.

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Confira as próximas matérias da série Labs de Manufatura e a Tríplice Aliança:

  • Universidades públicas têm protagonismo na implementação de laboratórios de manufatura
  • Grandes empresas invadem o ambiente acadêmico em busca da inovação
  • Organizações investem em pesquisa e estruturam laboratórios de manufatura de ponta
  • E o governo? O que o poder público pode fazer para ampliar investimentos nos laboratórios de manufatura

*Imagem de capa: Depositphotos