Discussão sobre o papel da mulher no mercado de trabalho já está ultrapassada?

Com o avanço da digitalização e da transformação tecnológica, o mercado de trabalho passou por transformações. Cargos de liderança, anteriormente ocupados de forma prioritária por homens, passaram também a ser ocupados não apenas por mulheres, mas também por pessoas de diferentes gêneros.

Para alguns, discutir a posição feminina passou a ser uma questão obsoleta, levando em consideração a diversidade. Essa é a opinião, por exemplo, da diretora geral da Interprint do Brasil e conselheira da AHK Paraná, Lourdes Mazanares.

“A sociedade precisa começar a pensar em pessoas, em qualificações, não em gêneros. Pensar diferente, em mudanças positivas, com sensibilidade, estética, organização, com foco em resultado, empatia e diversidade, mistura de colaboradores. Com a inovação tecnológica, já não é necessário o trabalho braçal, logo, já não precisa a força do homem nessa posição. Na indústria, já temos mulheres em cargos de liderança. As negociações mudaram com a digitalização, há espaço para todos, não há motivo para falarmos apenas das mulheres”, afirma.

Investir em diversidade no ambiente de trabalho é uma das maiores tendências do mercado atual, mas o assunto é complexo. A CEO da Roadimex Ambiental, co-Founder do Instituto SER e conselheira da AHK Paraná, Cris Baluta, afirma que o problema vai além do mundo corporativo. São problemas estruturais, que dificultam a busca por igualdade em todos os espaços.

“Quanto mais debatermos as desigualdades sociais, violência sexual, feminicídio, baixa representatividade na política, combate ao machismo, igualdade, estaremos caminhando para avançar em conquistas mais positivas para nós mulheres. Já em 2018, junto ao Fórum Econômico Mundial, mostrava-se que  seriam necessários mais de dois séculos para haver igualdade de gênero no mercado de trabalho. Em outros segmentos, como educação, saúde e política, as desigualdades entre homens e mulheres precisariam de 108 anos para chegarem ao fim. Para que alinhemos nossos desafios e nossas conquistas de forma geral, precisamos continuar a refletir de modo crítico sobre o lugar da mulher na humanidade. Somente assim vamos vencer nossos desafios e aumentar nossas conquistas”, explica.


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A competência, determinação, empoderamento e habilidade de liderar equipes com foco, mas também empatia, fazem com que a mulher se destaque no ambiente corporativo. Mas ponderar se elas estão efetivamente avançando ou se isso não passa de um discurso empresarial é a reflexão da advogada do escritório Santiago, Bega e Petry, Roberta Abagge Santiago Sarmento. Ela promove palestras, encontros e webinares para discutir o assunto com a complexidade que merece.

“Acredito que a sociedade está em evolução, caminhando para a diversidade, mas está longe ainda de se tornar uma ordem natural das coisas. Acho que, em um primeiro momento, é necessário investir em qualificação com estudo e treinamentos, segurança de identidade proporcionada pelo empregador. É preciso que ocorra um aumento de mulheres e de pessoas de diferentes gêneros exercendo cargos de gestão ou profissões de alta remuneração, maior seriedade na implementação e aplicação de programas de compliance de gênero pelas empresas, principalmente por aquelas que serão comandadas pela geração Z, nascidas entre 1995 e 2010. Tudo isso no mercado corporativo. Em casa, o primeiro passo para a evolução é a divisão igualitária de tarefas caseiras”, conclui.

A discussão sobre o papel da mulher no mercado de trabalho pode ser ultrapassada se forem levadas em consideração as problemáticas da diversidade de gênero, que vão além das questões relacionadas apenas às mulheres. O mercado precisa estar pronto para a diversidade, mas será que já podemos simplesmente mudar de pauta?