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Ele é considerado uma solução para reduzir as emissões de gás carbônico a partir da produção de energia e a fonte energética do futuro. Mas já começa a ser estudado e implementado no presente em diversas partes do mundo, e ganha espaço também no Brasil. Estamos falando do hidrogênio verde, produzido a partir da eletricidade gerada em fontes de energia limpas e renováveis, como a hidrelétrica, eólica e solar, e obtido sem a emissão de carbono.
O uso mais conhecido do hidrogênio atualmente é como combustível para veículos, mas há outros usos possíveis, inclusive pela indústria. O hidrogênio verde pode fornecer energia para prédios inteiros e também substituir o carvão e o gás em setores industriais.
“Este é o caso, por exemplo, da mineração, das refinarias, da produção de aço, da produção de amoníaco”, afirma Olivier Delprat, gerente de desenvolvimento de negócios da área de Gás da Engie Brasil. Ele acredita que essas indústrias poderão adotar o hidrogênio verde como combustível e também como fonte de calor.
No caso da indústria siderúrgica, o hidrogênio verde pode substituir o gás natural no fornecimento de calor para os processos de produção. Segundo o FCG JU, uma parceria público-privada europeia para dar apoio às pesquisas e ao desenvolvimento de tecnologias para células de combustível e hidrogênio, utilizar hidrogênio na fase de produção pode abater 150 milhões de toneladas de gás carbônico por ano na Europa. Esta aplicação na indústria de aço é importante porque, segundo o FCG JU, este setor responde por 7% das emissões de CO2 no mundo.
O uso do hidrogênio verde para geração de calor pode servir também a outros setores, como nas indústrias de cimento, químicos, refino de petróleo e na produção de papel. Na indústria química, o hidrogênio verde é um meio de descarbonização que exige menos adaptação das estruturas do que a eletrificação. Com menos mudanças, os custos da transição também ficam menores, explica o Hydrogen Roadmap Europe, um relatório que apresenta os caminhos para a transição energética na Europa.
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Neste sentido, com os exemplos europeus e com o auxílio da unidade de negócios que se dedica ao hidrogênio verde, a Engie vem buscando promover a adoção desta fonte de energia no Brasil. “Estamos explorando o mercado, vendo quem, principalmente na indústria pesada, teria interesse em converter suas fontes de energia para o hidrogênio”, explica Delprat.
Para Koen Langie, gerente de Desenvolvimento de Negócios – Hidrogênio Verde da Engie Brasil, o uso dessa fonte energética “permitirá descarbonizar setores que hoje não têm solução em escala industrial”.
A Siemens Energy Brasil também vê grande potencial do país na aplicação desta fonte energética. Para o diretor-geral André Clark, o país tem aspectos que podem torná-lo “imbatível” na produção de hidrogênio, como o grande potencial para a geração de energias eólica e solar, ser o maior produtor de energia hidrelétrica, ter um sistema regulatório bem avançado em geração de energias renováveis e ter seus principais parceiros comerciais, como Estados Unidos, União Europeia e China, com planos de recuperação verde. “O Brasil já é campeão mundial nesse jogo. Imagina se resolver investir dinheiro nisso?”, questionou Clark.
Segundo o presidente do Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Coemas) da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Thomé, essa nova fonte energética pode contribuir com a transição energética e a consolidação da economia de baixo carbono. No entanto, ele alerta que ainda existem algumas barreiras, como questões tecnológicas, custos, dificuldade de transporte e armazenamento e a necessidade de desenvolvimento de arcabouços institucionais, legais e regulatórios.
“Apesar dos desafios, o país precisa se preparar para desenvolver essa tecnologia promissora, que promete gerar novas oportunidades de novos negócios e benefícios sociais”, afirmou Thomé.
Um dos maiores empecilhos é o custo, mas a BloombergNEF (BNEF) estima que, até 2050, o hidrogênio verde estará 85% mais barato do que o preço de 2020, e terá se tornado mais barato do que o gás natural em 18 dos 28 mercados avaliados pela consultoria.
Segundo o Portal Hidrogênio Verde, como as fontes de energia renováveis são geradoras de eletricidade, o hidrogênio pode assumir um papel integrador entre a geração de energia elétrica e outros usos e aplicações, como o energético e o químico. Este conceito é chamado Power-to-X (PtX).
As tecnologias PtX podem ser usadas para produzir hidrogênio para veículos movidos a célula, ou querosene para aeronaves com baixo impacto ambiental, por exemplo. O termo “Power” refere-se ao excedente temporário de energia elétrica acima da demanda, e o termo “X” significa a forma de energia ou o uso pretendido.
Por isso, o hidrogênio verde e suas tecnologias PtX são considerados fundamentais para a transição energética que está na agenda dos países comprometidos com o combate às mudanças climáticas. Projeta-se que o hidrogênio verde substitua petróleo e gás natural como principal recurso energético até 2050.
Em agosto de 2021, o Ministério de Minas e Energia apresentou as diretrizes para o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2) aos membros do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). O PNH2 se propõe a definir um conjunto de ações que facilite o desenvolvimento de três pilares fundamentais para o sucesso de uma economia do hidrogênio: políticas públicas, tecnologia e mercado. As diretrizes do programa estão estruturadas em seis eixos, que englobam o fortalecimento das bases científico-tecnológicas, a capacitação de recursos humanos, o planejamento energético, o arcabouço legal e regulatório-normativo, a abertura e crescimento do mercado e competitividade e a cooperação internacional.
Os próximos passos incluem estabelecer a estrutura de governança do programa: instituir um comitê técnico representativo das partes interessadas para gerenciar o programa, que se reunirá periodicamente e preverá a forma de prestação de contas e de monitoramento dos resultados, alinhada com os compromissos assumidos no âmbito do Diálogo em Alto Nível das Nações Unidas sobre Energia.
Ao falar da necessidade de transição energética, o ministro Bento Albuquerque destacou a importância do planejamento e os estudos relativos ao hidrogênio verde, “considerado a fonte energética do futuro”.
Em abril deste ano, durante o 1º Congresso do Hidrogênio para a América Latina e o Caribe - H2LAC 2021, evento promovido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pelo grupo New Energy, o ministro de Minas e Energia do Brasil defendeu que o país e a região estão bem posicionados para se tornarem atores relevantes em hidrogênio, tanto para exportação quanto para atender aos mercados internos e contribuir para a descarbonização das matrizes. “Por sermos um país com vocação para energia renovável, com 83% da nossa matriz elétrica, temos potencial para gerar hidrogênio verde de forma altamente competitiva”, afirmou.
O ministro também afirmou que grupos privados têm investido em pesquisa e desenvolvimento em hidrogênio no país. Bento Albuquerque afirmou que “o objetivo do Brasil é dominar o ciclo tecnológico completo do hidrogênio”. “Nossa meta é o desenvolvimento de capacidades tecnológicas, industriais e de infraestrutura, com a geração de empregos de qualidade”, declarou.
O setor privado tem demonstrado interesse crescente no hidrogênio verde. O grupo australiano Fortescue assinou, no início deste ano, memorando de entendimento com o Porto do Açu, no Rio de Janeiro, para desenvolver projetos industriais verdes. O projeto contempla a possibilidade de construção de uma usina de hidrogênio verde com capacidade de 300 MW e com potencial para produzir 250 toneladas de amônia verde por ano.
A empresa Enegix e o governo do estado do Ceará deram os primeiros passos para estabelecer um “hub de hidrogênio verde” no Porto de Pecém. Foram anunciados estudos para o que pode vir a ser o maior empreendimento em hidrogênio verde do mundo, com investimentos estimados em US$ 5,4 bilhões.
No mês de setembro, o governo do Estado do Ceará anunciou, ao lado da diretoria da EDP do Brasil, a instalação do projeto piloto para implantação de uma usina de hidrogênio verde no Pecém. A operação deve ser iniciada já em dezembro de 2022, atraindo um total de R$ 41,9 milhões de investimento. Será a primeira usina deste tipo no Brasil. Esse case foi o destaque nacional na 26ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP26, em Glasgow, na Escócia.
“Considerando que o Ceará reúne características estratégicas para protagonizar o processo de introdução do hidrogênio verde no país, seja por seu excepcional potencial solar e eólico – fundamental para a produção do gás – seja por sua localização e pela oferta de excelente infraestrutura para o escoamento desse produto ao mercado internacional, elegemos o estado para abrigar nossa primeira planta de hidrogênio verde no Brasi”, afirmou João Marques da Cruz, CEO da EDP no Brasil.
A usina de Hidrogênio Verde (Pecém H2V) da EDP é um projeto de Pesquisa & Desenvolvimento da UTE Pecém, instalada em São Gonçalo do Amarante (CE), que deve gerar o combustível limpo com garantia de origem renovável, além de desenvolver um roadmap com análises de cenários de escalabilidade. Ao longo do projeto, serão analisados a cadeia produtiva do gás; modelos de negócios; parcerias estratégicas com indústrias, empresas de serviços e empresas automotivas; geração e armazenamento do combustível; e adaptações em mobilidade utilizando o gás hidrogênio, nos transportes rodoviário, ferroviário, aéreo e marítimo.
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